Ciência e Caridade (1897). Pablo Picasso (1881-1973). Óleo sobre tela, 197 x 249 cm. Museu Picasso (Barcelona).

“Quereis conhecer o segredo da morte”

Minha avó faleceu quando ia completar 80 anos. Anos antes de sua morte já comentava entre os familiares que já tinha vivido demais. Que estava na hora de ir embora. Isso dito sem amargura, depressão ou sentimento suicida. Era uma afirmação serena, como se quisesse preparar, principalmente a sua filha única, minha mãe, que ela iria embora logo.

Quando ela se lamentava e falava sobre isso, certamente que os filhos e netos se assustavam com tal serenidade. Credo vó, pare de falar em morrer!

É engraçado que a formação judaico-cristã busca tanto o paraíso pós-morte, mas as pessoas contraditoriamente não conseguem nem falar sobre o assunto de uma maneira tranquila, em paz e sem medo.

Vovó não se dava por vencida quando a família pedia para não mais falar sobre o assunto, tinha sempre um argumento na ponta da língua. “Já cumpri a minha missão nesse mundo”, dizia. “Criei meus filhos ( cinco e duas sobrinhas) e já vivi demais.  Estou cansada”.

Sua espera pela morte demorou um pouco mais do que previa e aquele desleixo por viver e desejo de morrer só foi realizado aos 80 anos, com uma serenidade sem precedentes. Aliás, graças a sabedoria do médico que a assistia nos seus momentos finais.

Um bom médico

Esse médico tinha no seu conceito que os velhinhos são especiais e devem ser respeitados na sua vontade de ir embora deste mundo. Para ele, os poderosos equipamentos tecnológicos da área médica, máquinas para respirar, fazer o coração funcionar artificialmente foram construídos para salvar vidas, sim, mas para idosos seu uso deveria ser analisado sempre com muito cuidado.

Vovó Helena sem explicações aos familiares, certo dia deixou de se levantar da cama, não queria mais comer e só dormia. Esta apatia sem uma doença anunciada deixou apreensiva a família e preocupou o seu médico,  que  imediatamente internou-a num hospital para uma série de exames.

Ela foi revistada inteira e nada apareceu. Nenhuma anomalia aparentemente, apenas uma infecção sem alarmes no exame de sangue. Pelo menos foi isso que o médico disse aos familiares e mandou vovó para casa – era que ela mais queria, ficar perto da filha – e acompanhou-a com medicações diárias.

Cansada de respirar

“Ela está cansada de respirar”, brincava o doutor. “Não descobrimos nada de alarmante nos exames e num caso destes seria preciso operar para descobrir se existe algum problema”, argumentava, e já arrematava dizendo que não aconselhava cirurgia nessa idade. Talvez ele soubesse o que ela tinha, quem sabe uma doença grave incurável…

Será um mistério que nunca saberemos ao certo porque segredo médico será sempre um segredo.

O fato é que vovó ficou em casa sendo assistida por todos, especialmente por minha mãe ( a única filha)  e meu irmão que ainda morava na casa dos meus pais e era o neto preferido de vovó, em razão de que ela tinha praticamente criado ele desde bebê. Sua agonia durou pouco tempo.

Um dia em um dos seus delírios, quando mamãe chegou perto da cama e começou a acariciá-la, ela recobrou a lucidez,  e como se tivesse acordado de um sono profundo  em função do toque em seu corpo disse:

– ”Nossa! Eu ainda estou aqui!”, exclamou. Depois retornou a inconsciência e algumas horas depois deixou esse mundo e foi embora serena e em paz!

Gibran Khalil Gibran

O poeta, filósofo, ensaísta libanês Gibran Khalil Gibran, no seu livro O Profeta fala sobre a morte.

Seu estilo é único e seus pensamentos sobre situações comuns da vida são revestidos de beleza e originalidade. Eis um pequeno trecho da reflexão sobre a morte:

(…..) Pois, que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se ao sol?

         E que é cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que se           levante e se  expanda e procure a Deus livremente?

         

         É somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar.

         É somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir.

         É quando a terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Museu Oscar Niemeyer em Curitiba

Curitiba deu significado para arte em 15 anos

Ao iniciar minha visita à Bienal de Curitiba pelo Museu Oscar Niemeyer, lembrei da primeira inauguração do MON, em 2002, como Novo Museu. À parte, as intrigas políticas do fecha e abre e muda de nome, a cidade entrou na rota das grandes exposições. No final, ganhou Curitiba que deu significado à arte. 

Em minha memória como jornalista que atuava na área de cultura da Agência de Notícias do Governo, a primeira inauguração, a do Novo Museu, antes de fechar o governo Jaime Lerner foi apoteótica e ousada.

Três jovens nuas escandalizaram a cidade

A obra ‘Três Graças’ expunha ao público no salão do magnífico e imponente ‘Olho’, em horário determinado, três jovens nuas, entre outros trabalhos contemporâneos. O Olho ainda não era escuro e a claridade entrava pelas paredes de vidro, deixando a paisagem verde da vegetação do entorno integrar ao local. A obra tirou as traças dos conceitos moralistas da época e jogou para o alto o conservadorismo da república das araucárias.

Escandalizaram o público, sim, não ao ponto que chegamos, na Idade Média brasileira do século XXI. Se fosse hoje, provavelmente o MON seria obrigada a fechar suas portas.

Um pouco de fofoca

Só para não perder o link da história e deixar registrada a fofoca: o governador eleito, Roberto Requião era arqui-inimigo de Lerner e fechou as portas do Novo Museu por quase um ano. Não por puritanismo, mas por brigas políticas entre dois que não vale a pena esmiuçar os detalhes sórdidos.

Apenas vale o registro para mostrar como a arte periodicamente sofre ataques. A grande ameaça na época era que ninguém sabia se o espaço ia abrir como um museu. Informações da primeira inauguração foram apagadas não só da memória do povo curitibano, como também de qualquer arquivo público. Eu pelo menos não achei nada. Na web muito menos. Wikipédia é breve e resumida.

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Aliás, participei ativamente da segunda inauguração, como Museu Oscar Niemeyer. Fiz divulgação pela agência de notícias governamental e a mostra de abertura era a ‘Novecento Sudamericano’. Obras do início do modernismo. Portanto, o recém aberto museu, cujo nome homenageava o gênio brasileiro da arquitetura, Niemeyer, estava agora mais comportado e contido. Renasceu como Fênix das cinzas, embora com novo conceito.

Bienal de Curitiba

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O crescimento da Bienal de Curitiba, na sua edição 2017, reafirma a evolução que Curitiba sofreu nesses últimos 15 anos como anfitriã de grandes eventos e mostras de arte. Nasceu há 24 anos, envolveu o Mercosul e encontra em Curitiba o aporte necessário para se impor como grande evento no campo das artes plásticas. São mais de 100 espaços com obras de artistas do mundo inteiro.

Quando o curador, Tício Escobar, que trouxe os extremos aproximados sob o tema Antípodas, considerou a diversidade do momento. A arte não sai imune desse processo.

“A refutação da ordem moderna permite que a própria arte seja considerada também por outras expressões que ultrapassam o terreno das artes plásticas. Assim, os limites entre os meios audiovisuais e literários ficam borrados e são promovidas experiências espaciais plurais. A erupção das tecnologias digitais e a hegemonia da cultura globalizada atuam como forças transversais que agitam ainda mais os domínios da arte outrora organizados”.

A grandiosidade da Bienal de Curitiba não pode ser relegada a final de matéria. Seria muito injusto. Antípodas tem muito para oferecer e destacar.

Esse foi apenas o prefácio!

 

 

 

 

 

Carolee-Schneemann. Foto retirada do site della Biennale di Venezia.

Não à censura. Leão de Ouro de Veneza foi para artista pioneira na performance do nu

 Justamente no mesmo ano em que alguns grupos brasileiros bradam pregando imoralidade na performance de um nu artístico, Veneza concedeu na abertura da Bienal (maio), o Leão de Ouro, o prêmio máximo do evento, para americana Carolee Schneemann, pioneira por utilizar o corpo nu na arte.

A artista, segundo o júri internacional do evento, contribuiu para o desenvolvimento da performance e da Body Art, sobretudo em relação ao conceito do corpo nu feminino, em oposição a tradicional representação das mulheres como simples objetos nus.

Schneemann utilizou em vídeos arte, pinturas, fotografias, cinema, o corpo nu como força primitiva e arcaica no sentido de unificar a energia. O seu estilo sempre foi direto, sexual, liberado e autobiográfico.

O júri internacional da Bienal de Veneza, que é composto por especializados em arte do mundo inteiro, entendeu que Carolee, como pioneira da performance feminina no início dos anos 60, promove a “importância do prazer sensual feminino e examina a possibilidade da emancipação política e pessoal das convenções sociais e estéticas predominantes”.

Portanto, a premiação não é apenas uma exaltação à nudez, mas um reconhecimento do papel político-social da proposta de Scheenmann ao usar seu corpo para provocar e estimular as pessoas à reflexão sobre a condição da mulher no mundo moderno.

Bienal de Veneza é referência em arte no mundo

É importante situar a dimensão desse prêmio oferecido à artista e a postura de vanguarda de um evento tradicional e que é referência no mundo artístico. Até para responder questionamentos sobre arte na  Europa. Responder afirmações entusiásticas de que a arte europeia estimula a beleza estética.

As pessoas se baseiam nos museus mundialmente visitados e não se prendem ao dia-a-dia e movimentos artísticos mais pontuais que não são tão vendidos em pacotes turísticos de viagens. 

A tradicional Biennale di Venezia, na Itália, tem 122 anos de história na mundo da arte. É referência e vanguarda na promoção de novas tendências artísticas e organiza manifestações nas artes contemporâneas, segundo um modelo pluridisciplinar único. 

O marco de sua origem é  1895, com a primeira exposição internacional de arte que se estende a todo o século 20 até hoje na sua 57a. edição. Em 1932, a Bienal expande sua atuação e cria a mostra de Cinema, o primeiro festival cinematográfico nunca organizado no mundo, que se acrescenta com já existente, da Música (1930), na sequência com a criação do Teatro (1934), da Arquitetura (1980) e  da Dança (1999).

Assim, torna-se um evento completo, único e peculiar na oferta de tendências culturais nos diversos campos das artes. Fonte: site La Biennale di Venezia

Principais obras de Carolee Shneemann

Meat Joy, performance de 1964, é uma obra de teatro cinético, definida pela artista como celebração da materialidade da carne.

Fuses, 1968, é um filme erótico composto por uma colagem de imagens explícitas em torno da artista, que mostram o relacionamento sexual entre ela e seu companheiro da época, o compositor James Tenney.

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“foto via internet site Exibart

Interior Scroll, 1975, é uma performance em que Scheemann, nua, extrai um pergaminho de sua vagina.

Up do and Inluding Her Limits, 1973-1976, “a artista traduziu o gesto em performance, usando o seu corpo suspenso como um arsene para pintar, revisitando a história prevalentemente machista do Expressionismo abstrato e ação da pintura”.fonte Bienal.

Carolee também abordou em suas obras, em contraste ao imaginário íntimo cotidiano e ao erótico sagrado, a destruição e a guerra. Viet-flakes (1965),  e Snows (1967) trata das atrocidades da guerra do Vietnã.

Para conhecer alguns vídeos sobre os trabalhos de Carolee basta entrar no Youtube e buscá-los.

Brasil e o nu

De repente, o assunto Body Art no Brasil transformou-se numa cruzada contra a destruição da família, de acordo com a opinião de alguns grupos radicais de direita. O nu, vejam só, transformou-se em assuntos eleitoreiros. Quem diria!

Nesse contexto estão envolvidos o MBL – Movimento Brasil Livre – e segmentos mais conservadores da nossa sociedade, que ao meu entendimento estão desvirtuando o papel da arte contemporânea como manifestação do livre pensamento a partir de uma obra, seja ela pintura, fotografia, cinema, escultura, o próprio corpo ou movimentos coletivos.

Ninguém é obrigado a gostar de arte contemporânea ou visitar eventos que agregam obras envolvidas com o conceito. A contemporaneidade exige da arte a provocação para propor debates e reflexão.

“Se arte não consegue mudar o mundo, pelo menos, por meio dela ele pode ser reinventado”, diz a curadora da Bienal de Veneza, Christine Macel.

Criança e sua participação

Agora a pergunta: o que é certo ou errado para a criança, considerando que a polêmica em torno do nu foi criada porque uma mãe deixou o filho (a) de quatro anos tocar num corpo nu, em performance artística, num espaço próprio para tal, no Museu de Arte Moderna em São Paulo.

Alguém no local filmou e colocou esse vídeo para viralizar na web, com intenções provavelmente bem comerciais e políticas. Sem dúvida, para dar continuidade ao tema imoralidade na arte, tendo em vista a recente questão sobre o cancelamento do Queermuseu no Rio Grande do Sul.

Significa que a histeria coletiva foi gerada com segundas intenções e em nenhum momento se pensou na criança, acima de tudo na exposição da imagem. 

A pergunta sobre o certo ou errado psicólogos e orientadores podem responder.

“Não existe certo ou errado para criança e nem se pode colocar a questão de forma generalizada”, afirma a Psicóloga-psicanalista, Paula Braga, que atua na clínica atendendo crianças, adolescentes e adultos. “Tudo depende da maneira como a criança é criada e essa estrutura deve ser respeitada.

É a mãe ou pai que determinam o que deve ou não ser visitado, especialmente na fase da formação da personalidade”.

Resumindo, numa simples opinião pessoal, da autora desse texto, se a mãe está criando o filho com um olhar mais aberto em relação ao corpo nu, com menos vergonhas e tabus, é possível que essa criança possa entender e interagir numa performance artística.

Os índios que vivem despojados de roupas nas florestas desse Brasil, em algumas sociedades tribais da Amazônia, estão aí para provar que é possível vivenciar o nu sem olhar o corpo como pornográfico.

Agora, quanto o assunto é pedofilia, não confundir a situação com performance de um nu artístico, que se coloca em outro nível de entendimento e conceito.

Pedofilia está realmente preocupando a sociedade moderna e se desenvolve, cresce e encontra suporte, na obscuridade da repressão, exatamente nos locais menos prováveis e mais puritanos! 

 

 

 

 

 

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Veneza tece. O fio da meada é a liberdade. Série Bienal

Enquanto alguns grupos radicais no Brasil querem sufocar a criatividade, fechar museus, Veneza, a Serenissima, na Itália, o berço das artes, exalta o artista pela sua expressão máxima de liberdade.

O fio da meada é o humanismo, pelo qual o ato artístico é ao mesmo tempo um ato de resistência, de liberdade e generosidade.

The Mending Project, de Lee Mingwei, artista nascida na Tailândia e que hoje vive em Paris, convida os visitantes a levarem roupas estragadas para ajustes e remendos. Depois de consertadas são colocadas em uma pilha ao lado. “O ato de costurar, que parece banal a princípio, é transformado num ato de narrações pessoais significativas e na possibilidade  de uma ressonância emotiva”  A artista e sua assistente permanecem no local durante todo o horário. Pavilhão dos Artistas e dos Livros.

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“A arte de hoje, frente aos conflitos e às surpresas do mundo, testemunha a parte mais preciosa da humanidade, em um momento em que o humanismo é colocado em perigo”.

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Assim propõe a curadora Christine Macel sobre Arte Viva Arte, na 57a. Bienal de Veneza e oferece ao visitante um percurso orgânico, em uma sequência de pavilhões no Arsenale, além dos pavilhões nacionais no Parque Giardino. Nove (cabalístico)no total os capítulos desse livro aberto para a criação.

“Em uma sequência de pavilhões, de salas ou ambientes que propõem ao espectador uma experiência, como uma viagem do interior ao infinito”.

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Dos Artistas e dos livros, Das Alegrias e Tristezas, Do Espaço Comum, da Terra, das Tradições, dos Xamãs,  Dionísico, das Cores, do Tempo e do Infinito.

Teresa Lanceta (Espanha) Original Carpet (Moyen Atlas). Para artista os tecidos artesanais são, sobretudo o extraordinário exemplo de uma antiga arte, as origens da transmissão e do enriquecimento da linguagem estética. Influenciada pelos descobertas de tecidos feitas em Marrocos, Lanceta expõe junto com sua obra um tapete marroquino original. Pavilhão da Tradições.

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O verbo tecer não foi colocado sem motivo no título desse texto.

Petrit Halilaj compôs a instalação “Do You realise there is a rainbow even if it’s night?”. Nascido na Bósnia, o artista e sua mãe realizaram esculturas  utilizando os tecidos tradicionais de Kosovo. A da foto é uma borboleta noturna que fazia parte do imaginário do artista na infância. Halilaj faz um cartarse de suas próprias emoções, dos próprios sentimentos de amor. Pavilhão da Alegria e do medo.
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A tecelagem, o fio, o tecido estão muito presentes nas obras desse biênio, sobretudo nas obras dentro do Arsenale.

Local em que antigamente eram construídas os navios venezianos, e que hoje foi transformado em parte da área para Bienal. É dentro Arsenale  que a curadora Christine Macel oferece um percurso conjugando as obras dos artistas participantes, mais o tema proposto Viva Arte Viva.

Ambos a partir de um contexto que procura “favorecer o acesso e a compressão dos significados, gerando encontros, ressonâncias e reflexões”, diz ela.

Falamos de forma superficial sobre as obras que estão expostas porque é impossível condensar em linhas e matérias ajustadas aos tempos da internet, a monumental Bienal da Arte de Veneza, que reúne povos artísticos das mais diferentes origens. A ideia é passar um pouco da emoção que autora do texto sentiu ao percorrer a mostra.

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Um lugar Sagrado é obra do brasileiro Ernesto Neto inspirado nos rituais da tribo Huni Kuin, do Acre. Uma tenda tecida em poliamida, um trabalho que remete ao crochê das nossas avós, suspensa nas vigas do teto convida o visitante a tirar os sapatos, entrar e sentar dentro do espaço para se socializar, promover encontros políticos ou cerimônias espirituais. Pavilhão dos Xamã

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Arte Viva Arte traz uma mensagem positiva nesse biênio. É dirigida aos jovens artistas e ao mesmo tempo uma nova atenção aos artistas que em pouco tempo desapareceram ou foram incompreendidos pelo grande público apesar da importância de seu trabalho.

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Huguette Caland, TêTe-à-Tête.

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Pauline Curnier Jardin, Gruta Profunda. Na verdade, a a artista faz ironia ou zomba da santa católica Bernadete de Soubirous, que foi religiosa. A gruta sugere uma vagina, um local úmido escuro, que pode remeter à inocência da adolescente que foi canonizada pela igreja católica pela aparição da Virgem Maria a ela numa gruta nos Pirineus franceses, ou como ela ser uma iniciada do Marquês de Sade. Pavilhão Dionísico.

O Pavilhão Dionísico celebra o corpo feminino e sua sexualidade, a vida e o prazer, com alegria e senso de humor, com diversas obras de artistas mulheres. São desenhos, costumes pinturas, contornos eróticos, esculturas orgânicas e fotografias, reinventam uma imagem do corpo feminino. Mas o olhar não é o do desejo, mas de intimidade.

A americana Sheila Hicks, Escalada muito além dos terrenos cromáticos, é uma instalação composta por bolas coloridas de pura fibra que convida o espectador a apreciar e fazer a descoberta tátil . É um extraordinário espetáculo! Pavilhão das cores.

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Segundo estudos da neurociência as cores não existem propriamente, são resultados de um processo cerebral e dos olhos que decodificam a realidade. Entre sensibilidade e transparência, luz e espiritualidade, experiência óptica e explosão visiva, o Pavilhão das cores representa uma espécie de “fogos de artifício”, no qual convergem, ao fim do percurso do Arsenale.

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“Cada pavilhão  oferece uma prospectiva sobre questões levantadas a partir dos anos 60 e sobretudo 70. Eles estão sendo retomados e reformulados em um contexto antropológico e sociológico em plena transformação, cuja inclinação ainda é incerta, ainda viva, mesmo que não tenha respostas. estas problemáticas permitem inscrever a arte na realidade de sua época, refletindo interrogativas que são também as mesmas da sociedade civil. 

Embora a arte não tenha mudado o mundo, por meio dela pode ser reinventado”.

* A Bienal de Arte de Veneza encerra no dia 26 de novembro.

*Christine Macel, a curadora, nasceu em Paris. Desde 2000 é curadora chefe do Museu Nacional de Arte Moderna – Centro Pompidou de Paris, onde é responsável pelo Departamento de “Criação Contemporânea e Prospectiva”, que fundou e desenvolveu.