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Cabo Espichel transporta o visitante a uma atmosfera mítica

Em uma tarde ensolarada no Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel é possível viajar no tempo. Sente-se no ar uma misteriosa atmosfera, talvez por conta de um passado de opulência vivido pelos reis de Portugal e sua corte, pelo mosteiro ou pela lenda sobre aparição da Virgem Maria.

O Santuário, também conhecido como Nossa Senhora da Mua, está a 48 quilômetros de Lisboa, em Setúbal, e também era conhecido na antiguidade como Promontório Barbárico. Por ser um local isolado ficamos a cismar como a corte portuguesa (1770) deslocava-se até lá, levando com eles artistas que se apresentavam na Casa da Ópera, hoje em ruínas.

 

São diversos os fatores que fazem do Santuário um local mítico. Tem até pegadas de dinossauros em algumas rochas que fazem parte da área. Isso porque o conjunto arquitetônico está inserido no Parque Natural da Arrábida 

Pôr do Sol

O vento gelado de dezembro, ondas violentas batendo sobre as rochas íngremes e um pôr do sol inesquecível compõem um conjunto de fatores que fazem do passeio, uma experiência fora do comum em terras portuguesas.

“Situa-se no Cabo Espichel, onde, de acordo com a lenda, ocorreu uma aparição de Nossa Senhora. São, no entanto, várias as histórias ligadas a este culto, remontando o que chegou até nós, e que motivou o complexo arquitectónico que hoje conhecemos, ao ano de 1410, quando dois velhos da Caparica e de Alcabideche, encontraram a imagem de Nossa Senhora do Cabo, em consequência de um sonho que ambos tiveram.

É de grande interesse a iconografia que relata estes episódios, patente nos painéis de azulejo que revestem o interior da Ermida da Memória. Esta, parece ter sido implantada no local onde foi descoberta a imagem, e constitui o elemento mais antigo deste conjunto arquitectónico. De planta rectangular, com cúpula boleada, remonta, com certeza, ao século XV (SERRÃO, SERRÃO, 1997, p. 126).

Na realidade, do primitivo santuário referido pelas Visitações da Ordem de Santiago, nada resta. A estrutura que hoje observamos resulta de uma vasta intervenção setecentista, na qual o próprio rei D. Pedro II colocou grande empenho. O culto a Nossa Senhora do Cabo e as romarias com os círios, que atraíam crentes de diversos locais ao Cabo Espichel, ganhou importância ao longo dos tempos, intensificando-se, naturalmente, entre o final do século XVII e o início da centúria seguinte.

Esta situação pode ser cotejada com o surgimento, em vários pontos do país, de santuários de peregrinação, que recuperaram tradições antigas, e criaram uma maior proximidade entre a religião e a natureza sacralizada, monumentalizando as possibilidades cenográficas destes espaços, tão ao gosto do barroco. No caso do cabo Espichel, o cenário enquadra-se perfeitamente nesta tendência teatral, que a intervenção do reinado de D. Pedro veio potenciar”. Fonte: DGPC

E para encerrar o passeio que pode ser feito num dia, se tiver sorte em encontrar um carro/lanche (trailler) poderá saborear a tradicional ‘bifana’ sanduíche com carne de porco, farturas ( um doce quase semelhante ao bolinho de chuva) feitos na hora, quentinhas, e deliciosos churros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capela dos Ossos em Évora construída para refletir sobre a fragilidade humana

“Nós Ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”. Parece piada de mau gosto para uma sociedade como a nossa que trata o assunto morte como se não fizesse parte da vida. A frase é séria e foi criada pelos frades franciscanos no século XVI. Está inscrita na porta de entrada da Capela dos Ossos em Évora, Portugal.

Na sociedade moderna, a ideia dos frades franciscanos do século XVI, de construir uma capela com as paredes completamente cobertas de ossos humanos, parece sinistra. De acordo com a proposta inicial, a capela era ‘um espaço de oração para meditar sobre a efêmera condição humana’.

“O interior, de três naves, com as paredes e colunas completamente revestidas de ossos humanos conserva o ambiente de penumbra e trágico de uma cripta”, explica um texto no local. Também estão ali enterrados os frades franciscanos fundadores da ordem naquela cidade.

Os primeiros frades da Ordem Franciscana chegaram em Évora, em 1224, ainda no tempo em que São Francisco de Assis (1182-1226) vivia. Fundam o convento num lugar abundante de água e terra férteis. Com o tempo foram recebendo gordas doações e acumulando riquezas até o Breve, do Papa Leão X, que em 1513, obrigou os franciscanos a voltar aos rigores da pobreza.

Os poemas eram feitos pelos próprios frades. Um deles é assinado por padre Antonio de Ascensão Teles, entre 1845 a 1848. Não esse acima, que não consta assinatura.

Para compensar a sensação um pouco sinistra da capela, para quem sai se depara na parede da frente no painel de azulejos de Álvaro Siza, que ilustra a apologia à vida em oposição a Capela dos Ossos.

Évora

Évora é uma cidade graciosa, acolhedora e com doces deliciosos para saborear. Incluir no tour de Lisboa um passeio de ida e volta à pequena cidade portuguesa que tem mais de vinte séculos de história, desde os tempos dos celtas, é uma opção sem arrependimentos. O passeio é ótimo.

Évora viveu um período sob dominação romana e ainda mantém, entre outras ruínas, as do Templo de Diana. Há um número de edifícios do período medieval, o mais conhecido  é a Catedral que foi concluída no século 13. Mas foi no século XV, quando os reis portugueses começaram a viver na cidade.

É uma cidade com memória impregnada a cada centímetro de parede. É habitada desde o século II a.C. Durante a Idade Média, foi a residência real por longos períodos de tempo e ganhou prestígio no século 16, quando foi elevada a uma cidade eclesiástica.

 

 

Jackson Pollock e Andy Warhol lado a lado em Roma

Jackson Pollock (1912-1956) e Andy Warhol (1928- 1987) estão lado a lado em duas mostras monumentais no Complesso del Vitoriano, em Roma. Para quem entra na Ala Brasini, do Complesso, do lado esquerdo veremos a trajetória de Pollock e os demais artistas da Escola de Nova York. À direita entraremos no mundo de Warhol e sua pop arte, cultuando o mundo ‘business’ a qualquer preço.

Andy Warhol . Mao – 1972

Participar dessa experiência num só dia, no também monumental espaço destinado às grandes mostras no Complesso, em Roma, é um privilégio que vale a pena compartilhar com os leitores do PanHoramarte. Como é praxe o espaço organiza mostras magníficas que se utiliza da tecnologia e um roteiro muito didático.

Jackson Pollock. Number 27, 1950.

Pollock

No percurso de Jackson Pollock vamos também conhecer outros artistas da Escola de Nova York. Um grupo de pintores americanos que foi vanguarda logo após a segunda guerra mundial e, ao mesmo tempo, fazer uma imersão no trabalho realizado por Pollock em sua curta carreira e vida. Morreu num acidente de carro aos 44 anos.

Grupo de Artistas que pertenciam a Escola de Nova York

Viveu uma infância difícil devido a grande depressão pós-guerra nos Estados Unidos. A família era obrigada a mudar constantemente de cidade em busca de trabalho para o pai. O artista desde criança já demonstrava um temperamento rebelde e inquieto e durante sua vida adulta teve problemas sérios com alcoolismo.

Jackson Pollock

No início de sua carreira encontra-se na pintura realista de Thomas Hart Benton e depois se interessa pelo muralismo mexicano e inspira-se nos ciclos de José Clemente Orozco. Na metade da década de 30 enamora-se de Leonor Krasner, que também era pintora. Ela era conhecida como Lee Krasner, para parecer mais masculino devido ao preconceito artístico da época.

Lee Krasner (esposa de Pollock) . Sem título. 1947

O casamento foi realizado anos depois, em 1945. Leonor por um período deixa sua arte de lado e torna-se a principal promotora e empresária do artista, logo que o casal muda-se para Spring, em Long Island. Lá, num grande e amplo estúdio, Pollock  descobre ” The Dripping”, um modo de pintar inédito, uma mistura entre uma dança retirada de ritual indiano e uma moderna arte que se utiliza da performance corporal.

Simulação ao público, em vídeo, para perceber como Pollock pintava.

A dimensão dos quadros são grandes ao ponto de envolver o corpo na realização. Se hoje podemos apreciar como ele desenvolvia seu trabalho é graças as fotos e breves filmes feito pelo amigo cineasta alemão, Hans Namuth. Na mostra o filme é repaginado e o público pode apreciar o trabalho de Pollock assistindo-o através do vidro.

Enfim, a mostra Pollock e Escola de Nova York, além de apresentar as obras ao público, insere o visitante no contexto da época com um painel delimitando os acontecimentos históricos.

“Quando estou dentro do meu quadro, disse Pollock. “Não sei que coisa estou fazendo”. Para descobrir sobre a obra a contempla, período em que chama de “conhecimento”. De tempos em tempos, na pintura, uma imagem realista aparece por engano, o que Pollock apaga sem pensar muito, porque a pintura deve preservar sua própria vida. Finalmente, depois de refletir e rabiscar, ele decide que a pintura está acabada – uma dedução disso, que poucos outros estão adaptados para fazer. Fonte: curadoria.

Nova York

Os dois artistas ícones da arte contemporânea norte-americana viveram em um período pós-guerra, quando Nova York começou a ser exaltada como a cidade onde tudo era novo. A Escola de Nova York , que teve seu auge na década de 50, foi marcada pelo Expressionismo Abstrato, primeiro estilo pictórico americano a ter reconhecimento internacional. Andy Warhol, por sua vez, está entre os principais nomes da Pop-Art, movimento artístico que se caracteriza pela utilização de cores vivas e a alteração do formato das coisas.

“Quando fala-se em arte autenticamente americana é preciso reconstruir o período de paz, aberto no final dos anos quarenta e radicalizado nos anos cinquenta, um decênio extraordinário marcado pela energia criativa tanto na pintura, como no cinema, na literatura e na sociedade”, pontuam os curadores da mostra de Pollock. David Breslin, Carrie Springer e Luca Beatrice. Pollock, a Escola de Nova York permanece até 24 de fevereiro em Roma.

 

Andy Warhol

“Não pense em fazer arte, faça-a e basta. Deixa que sejam os outros a decidir se é boa ou má e se agrada ou se enoja. No entanto, enquanto os outros estão ali a decidir você faz ainda mais arte”, Andy Warhol.

Autor também da célebre frase,  ” Todo mundo vai ser famoso por 15 minutos”,  criticava o mundano, a cultura do dinheiro e da fama em suas obras, entre as mais famosas as Sopas Campell’s e Marilyn Monroe, no entanto, em contraponto era obcecado pelo sucesso.

Warhol torna-se nos 50 e 60 um centro catalisador da cultura nova-iorquina, frequenta os lugares mais cobiçados do momento, como o Studio 54, o Max’s Kansas City onde deixa-se fotografar, entre outros, com Liza Minnelli, Debbie Harry, Paloma Picasso, Truman Capote.

O roteiro da exposição revela essa obsessão de Warhol em mostrar-se rodeado de celebridades e, sobretudo, o grande marqueteiro que era da sociedade de consumo. Em seu estúdio, o primeiro foi no quinto andar na 231 East 47th Street, a Silver Factory (Fábrica de Prata), que além de produzir suas obras e filmes, realizava festas extraordinárias com artistas famosos, boêmios e excêntricos, provavelmente com muita droga.  Um artista, cujos 15 minutos de celebridade ainda não cessaram.

Complesso del Vitoriano

O Complexo do Vitoriano, também conhecido como “Altar da Pátria”, é um conjunto arquitetônico construído para celebrar e recordar Vittorio Emanuele II di Savoia, primeiro rei da Itália. A construção deu-se entre 1885 e 1911 e o monumento localiza-se diante da Piazza Venezia.

Representa a unidade  e “o amor ao país”, já que em novembro de 1923 o corpo do soldado desconhecido foi enterrado no coração do Vittoriano. Em 1935, após a intervenção do arquiteto Armando Brasini, a área homônima dedicada ao Instituto Central do Risorgimento e seu Museu foi inaugurada em 24 de maio do mesmo ano. Um monumento, altamente simbólico, concebido imediatamente como um lugar não apenas para olhar, mas também para viver, com museus e onde são organizadas exposições em larga escala.

A construção do monumento e todo o Complesso foi questionado pelos italianos por estar sobre um sítio arqueológico da antiga Roma. Uma construção mais moderna em cima de um tesouro histórico como ruínas do império romano. A área é próxima ao Fórum Imperial.

 

 

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Biblioteca Joanina é a mais bela entre as belas

Êxtase é sensação inicial ao deparar-se com a beleza artística da Biblioteca Joanina, localizada dentro de Universidade de Coimbra, em Portugal. Para a palavra êxtase considera-se a  definição da Wikipedia, desprender-se subitamente, sair de si, elevar-se.

Por alguns minutos, qualquer pessoa que entrar nesse espaço magnífico pelo que reúne em sabedoria sentirá esse desprendimento. Mais ainda ao se dar conta que há trezentos anos existiam homens que amavam os livros também.

Elevará o espírito, certamente, no instante em que seu olhar estiver percorrendo os detalhes da mais genuína arte barroca ao seu entorno e envolvendo-se com a existência de 60 mil livros que ali existem, na maioria anteriores ao século XVIII e escritos grande parte em latim.

Eles estão organizados nas 72 estantes dispostas em dois andares, de madeiras douradas e policromadas ( de fundo verde ou vermelho), que cobrem as paredes das três salas da ‘Casa da Livraria’, como D.João V, o seu fundador a denominou. Daí o nome da Biblioteca ‘Joanina’. Ao fundo está o retrato pintado de D.João V.

Morcêgos

A Biblioteca Joanina tem 300 anos e foi executada pelo arquiteto Gaspar Ferreira, de Coimbra. Ninguém sabe quem foi o autor do projeto. O fato interessante é que a Biblioteca tem seus morcêgos de estimação. Por lá, eles são queridos e não temidos. A Biblioteca Joanina mantém-se por eles que comem os insetos (em especial as traças), preservando assim os livros numa relação simbiótica.

Os morcêgos da Joanina foram até citados na A Obsessão ao Fogo, de Umberco Eco.

Ouro do Brasil

O ouro utilizado na decoração vinha do Brasil. Os dourados Chinoiserie – pequenas pinturas decorativas feitas em folha de ouro – revestem quase todas as estantes. O trabalho é assinado por Manuel da Silva que realizou em 40 meses. Antonio Simões Ribeiro e Vicente Nunes foram contratados em Lisboa para realizar a decoração dos três tetos das salas. As pinturas são ilusionística, ou seja, que cria ilusão de ótica.

Cada afresco tem uma simbologia. A primeira revela a figura da Biblioteca e nas sancas quatro figuras femininas que representam os quatro continentes (África, Ásia, Europa e Ámerica) sugerindo a abertura à sabedoria proveniente de todas partes do mundo.  A legenda em latim significa “estas estantes ornam-se de livrinhos, felizes”.

O teto central o afresco refere-se a própria Universidade rodeada pelos atributos que devem nortear o exercício de sua missão: Honra, Virtude, Fortuna e Fama – e insistindo na cultura clássica como base do saber universal. Os medalhões periféricos representam os autores latinos, Virgílio, Ovídio, Sêneca e Cícero.

No teto da terceira sala a Universidade surge como síntese do saber universal. As principais áreas do saber da época, Teologia e Cânones, Direito e Leis, Ciências e Natureza para Medicina e por fim, Artes.

Parabéns ao povo português que preserva com tanto orgulho esse patrimônio cultural, histórico e artístico. Um verdadeiro tesouro para humanidade!