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Batom do Holocausto

‘Batom do Holocausto’ é um impressionante grafite de Banksy inspirado num pequeno trecho do diário do Tenente-Coronel Mervin Willet Gonin Dso, que estava entre os primeiros soldados britânicos a libertar Bergen Belsen, em 1945. “Alguém tinha feito alguma coisa para torná-las de novo indivíduos”. É um emocionante relato que apresenta os horrores de um campo de concentração e a chegada da Cruz Vermelha no local com uma grande quantidade de batom.

Artista de refinada sensibilidade, Banksy destacou a história para lembrar a humanidade de seus pecados. O excerto do diário Mervin é necessário mostrar o que a insanidade de poucos é fatal para milhões. O grafite Batom do Holocausto é valioso, sobretudo pela história, pelo qual está inserido.

(…) “Enquanto cozinhava os alimentos que lhe tínhamos dado numa fogueira; homens e mulheres a agachar-se em qualquer lado ao ar livre, aliviando-se da disenteria que descascava suas entranhas, uma mulher de pé, nua, lavando-se com uma pouco de sabão na água de um tanque onde os restos de uma criança flutuavam. Foi um pouco depois da chegada da Cruz Vermelha britânica, embora possa não ter ligação, que chegou uma quantidade muito grande de batom. Não era nada do que os homens queriam, nós gritávamos por centenas e milhares de outras coisas e não sei quem pediu o batom, mas desejava tanto descobrir quem foi, porque foi uma ação de gênio, de uma genialidade pura e completa. Acho que nada fez mais por estes reclusos do que o batom. Mulheres deitadas numa cama sem lençóis e nem camisa de dormir, mas com o lábio vermelho escarlate; víamo-las a vaguear apenas com um cobertor sobre os ombos, mas com os lábios de um vermelho escarlate, vi uma mulher morta na mesa de autópsia que apertava na mão um pedaço de batom. Por fim, alguém tinha feito alguma coisa para torná-los de novo indivíduos. Elas eram alguém não mais apenas o número que tinham tatuado no braço. (…) 

Guerra

Macaco surfista sobre bomba

A guerra é a ocupação mais repugnante que um homem pode escolher. Banksy deixa muito claro em suas obras sua posição antimilitarista que interliga diretamente com os temas políticos e de protestos.

“Os maiores crimes do mundo não são cometidos por pessoas que violam as regras. Mas por quem as segue. São as pessoas que cumprem ordens que soltam bombas e massacram aldeias”.  Banksy.

 

Steve Jobs. Nesta obra Banksy coloca Steve Jobs num campo de refugiados em uma série.

Banksy: o vândalo genial que não se revela

Todos querem um Banksy em seus muros mesmo aqueles políticos que odeiam pichação e pintam os muros de cinza. Banksy é uma celebridade anônima que não precisa se preocupar em ficar ‘famoso por 15 minutos uma vez na vida’. Ele aposta no anonimato para ser famoso, talvez, por uma grande jogada de marketing. Suas obras valem milhões e são transgressoras, críticas sobre ambiente, política e consumo.

Antes artista de rua provocador, que começou como pixador em Barton Hill, distrito de Bristol, na Inglaterra, para anos depois tornar-se um ícone internacional aceito até por aqueles que podem “tomar vinho em Paris, ricos, lindos e superiores”, como diz Bebeti do Amaral Gurgel, em seu livro Uivo dos Invisíveis. “Essas pessoas não se interessam por arte de rua porque para elas tudo o que não gera lucro não tem direito de existir”. Mas.. Banksy hoje dá lucro!

“Porque Banksy muda o jeito da gente pensar e ele tem um humor ácido e usa ironia e ironiza a própria arte e ironiza os críticos de arte e os donos das opiniões que pensam que sabem tudo sobre tudo e os próprios artistas e os museus e galerias”, escreve Bebeti no seu livro, que é incrível na pesquisa sobre a arte de rua, especialmente o ‘pixo’. Isso mesmo, com ‘ x’ . Vamos deixar para depois a explicação porque o livro vale uma matéria.

Genius or Vandal

Banksy: Genius or Vandal é o título da mais recente exposição de suas obras  e que tive o prazer de visitá-la em Lisboa. Maior prazer foi ver a serigrafia original da série “Menina com um balão”, semelhante à recentemente destruída pelo próprio artista em uma ação inédita na Sotheby’s, a leiloeira londrina.  Foi uma mostra realizada por colecionadores particulares e colaboração com a Lilley Fine Art/ Galeria de Arte Contemporânea.

Certamente que mostrar o trabalho de um grafiteiro não poderia ser em ambiente claro, em plena luz do dia. Já na entrada da mostra é possível perceber que o objetivo foi dar ao visitante a sensação de estar percorrendo as ruas escuras e observando os muros grafitados…
“Banksy adquiriu o status de um fenômeno e é um dos artistas mais brilhantes e importantes do nosso tempo. O seu trabalho é um desafio para o sistema, um protesto, uma marca extremamente bem construída, um mistério, uma desobediência à lei … queremos que cada visitante desta exposição seja capaz de resolver quem realmente é Banksy: um génio ou um hooligan? Um artista ou um empreendedor? Um provocador ou um rebelde? A nossa exposição tem como objetivo mostrar a profundidade do talento de Banksy, as suas múltiplas camadas e dimensões para que sejam os próprios visitantes quem pensam e quem decidem. O seu trabalho, sempre atual e muito completo, mergulha na alma de cada um de nós. Suponho que é por todas estas razoes que o considero um génio”, Alexander Nachkebiya, curador da exposição.

Entre as 70 criações que incluem obras originais, esculturas, instalações, vídeos e fotografias, difícil de dizer quais as que mais impressionam. Um dos temas mais comuns de Banksy é o consumo e suas consequências, pelo qual os valores da vida real são substituídos pelo enorme fluxo de informações de marketing daquilo que nos rodeia que não é de todo real.

Carrinhos. Serigrafia 2007

A política é outro tema preferido de Banksy. A política como forma de manipular a opinião consciência é tão desagradável como a violência e o consumismo.

“Não há nada mais perigoso no mundo do que alguém que quer tornar o mundo um lugar melhor”. Banksy.

Parlamento de macacos. Fotografia impressa em papel
da série Bomb Middle England. Serigrafia 2005
Macaca Rainha. Serigrafia

“Algumas pessoas tornam-se policiais porque querem fazer do mundo um lugar melhor. Algumas pessoas tornam-se vândalos porque querem um lugar com melhor aparência”. Banksy.

 

 

 

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Tecnologia e arte em ‘Acordo Global’

A tecnologia cada vez mais faz da arte uma mistura de prazer e pensamento crítico. ‘Global Agreement”(Acordo Global), do artista francês Neil Beloufa, trata da interferência das mídias sociais na vida moderna. A instalação,  que se encontra exposta na Bienal de Veneza, consiste em uma série de entrevistas em vídeo via Skype com jovens soldados – homens e mulheres – de diferentes países.  Beloufa instalou um conjunto de dispositivos de treinamento semelhantes as encontradas em academias que funcionam como estações de visualização de uma série de vídeos.

As estruturas são rígidas e ao mesmo tempo atraem o observador que se interessa em assistir aos vídeos. Para assistir é necessário sentar-se em almofadas e encostar a cabeça no dispositivo, aquele que mais parece um aparelho para exame oftalmológico, e uma vez em posição, com movimentos restritos e de certa forma numa posição desconfortável, o espectador confronta-se com rostos pré-gravados exibidos no estilo de bate-papos em vídeos para dispositivos móveis.

A instalação “Acordo Global” é uma alegoria do ambiente virtual. A interessante posição desconfortável que o artista coloca o espectador para participar do ‘pseudo’ bate-papo com o entrevistado no vídeo,  é  irreverente. Nos faz sentir parte da obra, com a sensação do entrevistado estar falando com você, quando na realidade a conversa foi elaborada e idealizada entre o artista e os entrevistados.

Talvez você viva mesmo em tempos interessantes!

 

 

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Jardim artificial de Hito Steyerl é a parte lúdica na Bienal de Veneza

A  vídeo instalação ‘This is the Future’ tenta integrar o espectador a um jardim que na realidade não existe porque é pura tecnologia. No entanto, é a parte mais lúdica da 58a Bienal de Veneza 2019, mas um lúdico um tanto desolador..A ampla sala montada com passarelas, telas de projeção e paredes de smart glass é o jardim que a artista austríaca Hito Steyerl decide encontrar depois de escondê-lo no futuro para protegê-lo.

O visitante percorre este jardim mágico, repletos de flores digitais que brotam, florescem e murcham sem nunca existirem de verdade. Embora estimule o espectador, que caminha  pela passarela, a harmonizar-se com o mundo pela beleza das flores, não o acalma porque as flores não existem e não podem existir porque residem no futuro e ele não está escrito, segundo a artista.

“Hito Steyerl se pergunta se a “Inteligência Artificial” tem a capacidade de predizer o futuro, a resposta é um claro não. Ela só pode fazer ressoar resultados prováveis do que é previsível. Em uma época em que o mundo da arte fica de ‘boca aberta’ diante da primeira obra de arte realizada pela IA e o mercado da arte a legitima o status, Steyerl levanta questões sobre o papel que desempenhará em nossas vidas”. Bienal de Veneza

Hito Steyerl é um cineasta, artista visual , escritora, inovadora em ensaios documentário. Seus principais tópicos de interesse são mídia, tecnologia e circulação global de imagens. Steyerl é PhD em filosofia pela Academia de Belas Artes de Viena . Atualmente, ela é professora de New Media Art na Universidade de Artes de Berlim , onde co-fundou o Centro de Pesquisa para Proxy Politics , juntamente com Vera Tollmann e Boaz Levin.  Fonte:Wikipédia