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Cuidando da videira. Uma lição de pai para filho. Série Wwoof

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Agricultura ecológica e biodinâmica não são traduzidas somente pela ausência de pesticidas na hora de tratar uma videira, acrescenta-se também um cuidado exaustivo da planta em todo o seu ciclo.

As práticas e os cuidados se dão ao longo da sua vida e os resultados observa-se no fim de cada ciclo, com a vindima.

É curioso, mas podemos associar o cuidado da videira parecida aos cuidados que proporcionamos aos nossos filhos.

Educamos nossos filhos com amor e dedicação, proporcionando a eles as ferramentas necessárias para enfrentar a vida. No entanto, sabemos que não podemos exceder nessas ferramentas. Muitas vezes temos que ser forte e deixar que os filhos descubram por si só como conseguir alguma coisa ou como encontrar a saída em um problema difícil que estamos enfrentando.

Sofremos juntos com eles, e muitas vezes pensamos em dar uma “mãozinha” no que estão passando, mas sabemos que se interferimos muito no processo, geralmente eles não aprenderão.

Quantas vezes vemos adolescentes que têm tudo completamente inapetentes para enfrentar as adversidades da vida? Quantas vezes nos deparamos com aqueles pais que pensam que ao dar tudo aos filhos, lhes estão proporcionando uma vida melhor e que sofrerão menos no futuro?

Ledo engano.

Com toda certeza, os pais não tomam essa decisão por mal ou porque é o caminho mais fácil, mas também porque evitam esse sofrimento em conjunto e muitas vezes a frustração de ver o seu filho cair pela primeira vez.

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Com a videira passa algo semelhante. Videira mimada rara vez dá bons frutos. O viticultor sabe muito bem que para que a videira dê boas uvas, tem que deixar com que esta passe pela sua fase de “stress”.

Soa pedante, mas é a pura verdade.

Durante os últimos três meses, Languedoc-Roussillon sofreu uma seca tremenda, com falta de chuvas, com algumas garoas. Essa falta de chuva faz com que as plantas necessitem de água, mas nunca em excesso. E nunca periodicamente. As videiras que têm sede, tem um desafio que enfrentar; o de buscar agua debaixo da terra de qualquer forma. A sede, a ausência de água, faz com que as raízes cresçam e busquem cada vez mais fontes de água para sobreviver.

O resultado é uma planta muito mais forte para sobreviver o ano. Geralmente esse processo de stress também faz com que a planta dê menos frutos, mas nem por isso piores. Muito pelo contrário: as uvas que nascem de pés estressados concentram aromas mais intensos.

Resultado: “pais e filhos” orgulhosos – o desafio foi superado um ano mais.

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Após a vindima e todo o trabalho na adega, Stephane me pediu que fosse cuidar das videiras em uma das parcelas que ele tinha plantado esse ano. Tarefa: regar planta por planta, já que os meses de seca foram tão intensos que as plantas podiam morrer sem água.

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Reiko e eu nos encarregamos da tarefa. Ela regava e eu fazia os buracos com a enxada ao lado da videira para que a água penetrasse mais facilmente.

Foi o trabalho mais duro de todos os dias que estive ali.

Remover terra seca exige força nos braços e nas costas. O solo, composto por pedras e argila seca fazia mais difícil a tarefa.

No fim do dia eu estava completamente quebrada.

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Foram 15 horas de trabalho, divididas em três dias e 2200 videiras… mas o desafio foi superado.

Para isso me alongava todas as manhãs antes de começar o trabalho; e quando terminada tinha que me colocar na horizontal por um par de horas para relaxar os músculos trabalhados e para que as costas voltassem a sua posição original.

Menos mal que antes de chegar aqui me dediquei a me preparar fisicamente para o trabalho. Fortalecer os músculos das costas é essencial para não ter lesões.

No último dia, depois de terminar todas a vides, me invadiu uma sensação de satisfação do trabalho terminado e bem feito. Acabo de vencer outro desafio: e agora é a vez das videiras de vencer o seu.

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Durante o ano todo, dependendo da quantidade de chuva se rega mais ou menos as vides.

É uma ciência sem regras, tal como educar. Cada filho se comporta de forma diferente e o seu entorno também determina como ele vai se comportar.

Assim como a vida não vem com manual de instruções, cuidar de cada parreira também é uma ciência incerta.

Ninguém sabe o que vai passar amanhã; se vai chover ou fazer sol, se vamos ter algum desastre ambiental, ou se simplesmente as videiras podem ser atacadas com algum tipo de doença desconhecida… ou quem sabe tudo vai de maravilhas.

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Além disso, ao não utilizar pesticidas ou agrotóxicos, a videira está muito mais vulnerável ao entorno e o seu fortalecimento se faz necessário para a sua sobrevivência. Um vez forte, seus frutos com certeza terão um outro sabor e o resultado pode ser comparado e contrastado.

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Sempre falo para as pessoas que não acreditam nas técnicas de agricultura ecológica para provar um tomate normal e um tomate orgânico.

Quem está acostumado a comer alimentos crus e gostam de frutas e verduras ao natural sentem a diferença no ato.

O mesmo faço com a qualidade do peixe criado em cativeiro com o peixe do mar. E nos vinhos, sempre deixo as pessoas provarem os vinhos sem ver o rótulo. Só assim as pessoas descobrem o seu gosto e não estão influenciadas pelas etiquetas, pelas marcas ou pelo status.

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Não basta ser Bio para um vinho ser bom o mal.

O manipulado e a forma como se trata a uva até o momento que é engarrafado também determina a sua qualidade. A diferença é que um vinho com etiqueta Bio garante que este foi passado por processos e critérios que aportam qualidade ao produto final.

OU seja, se o viticultor coloca amor no que faz e sabe a forma correta de educar os seus “filhos”, teremos com certeza um grande resultado para ser compartido.

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Fazendo vinho. Série Wwoof

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A vindima pode ser uma das partes mais apaixonante do trabalho de um viticultor.

Digamos que é o começo de uma história: a história da nova safra.  Ou também o final dela: o ciclo da videira termina justamente na colheita.

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O fato é que o trabalho do enólogo, do viticultor começa justamente nela.

A partir do momento que as uvas são colhidas têm que ser transportadas diretamente a adega, que geralmente está ao lado das parreiras. E nesse momento, ninguém perde um minuto. Começa aí todo o processo para que as uvas se convertam em vinho.

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Stephane nos convidou a participar de parte desse processo, mostrando-nos como se faz o desengace e como se prensa as uvas. O desengace se faz com uma máquina especial, a chamada “Destemmer” em inglês. Uma vez que as uvas são colhidas, o primeiro processo é passa-las a essa máquina, que tem como única função separar as uvas dos bagos.  Muitas uvas ficam presas nelas, e nesse caso o desengace é feito manualmente, para não perder nenhuma uva.

Pisar nas uvas

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Acho que todos conhecem o processo mais antigo do desengace: pisar nas uvas. Ao pisa-las o que estamos fazendo é um processo de esmague e desengace juntos. Stephane separou duas caixas de uva só para ter essa experiência.

Foi uma experiência super curiosa: porque não estávamos todos os dias ali com ele aprendendo passo por passo, mas todos os dias que nos chamava tinha sempre algo diferente que mostrar.

De ali se passa todas as uvas a um tanque de aço inox e deixa repousar entre 10 ou 15 dias. Nesse período a uva começa o seu ciclo de transformar mosto em vinho.

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DSC_0265Foram vários dias de trabalho alternados ali na adega.

Um dia tivemos que encher as barricas novas que Stephane comprou de vinho branco, para começar o envelhecimento das primeiras uvas que foram colhidas. O vinho branco feito com as uvas Vermentino, Clarete e Grenache branca prometem. Cada balde que enchíamos e derramávamos dentro do barril de carvalho se podia sentir os aromas das frutas do mediterrâneo.

 

DSC_0858 DSC_0867Outro dia tivemos que entrar num barril e amassar as uvas com os pés durante a fermentação.

Durante todo o tempo ali dentro respiras tanto álcool que acaba se embriagando sem querer. Foi bem divertido, mas as vezes você tem que parar para respirar. Amassar as uvas foi como se caminhássemos na areia da praia macia, em que o pé afunda a cada passo. Cansa-se rapidamente, principalmente se você tem que fazer isso constantemente.

DSC_0323Acho que o dia mais curioso de todos, foi um dos últimos dias que trabalhamos na adega. Fomos todos os wwooffers aprender como se traspassa o vinho repousado de um tanque de aço inox a outro, essa vez sem nenhuma uva sobrante.

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Em volta dos tanques Stephane colocava um tipo de toalha térmica para manter a temperatura alta e debaixo dele um aquecedor; sua intenção era subir a temperatura do tanque para que as uvas desprendam mais aromas ao vinho.

Tivemos que remover todo o material em volta e preparar para fazer o transporte de um tanque a outro.

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Os tanques estão completamente adaptados para extrair só o “mosto”, já que durante todos estes dias de descanso, as uvas, pelo seu peso, se acumulam no fundo do tanque, deixando na parte superior somente o líquido. Com uma mangueira especial se faz todo o processo e uma vez terminado temos que abrir o tanque, extrair as uvas e o resto do líquido que não foi capaz de ser absorvido pela mangueira.

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Esse acho que foi o trabalho mais duro dali.

Brian e eu passamos a tarde inteira tirando as uvas do tanque e passando a prensa. Era tão duro como pegar na enxada. As uvas estão grudadas umas as outra e você têm que fazer força para tirar de dentro do tanque. Uma vez no balde, erguíamos entre dois e jogávamos as uvas na prensa de novo. A prensa se encarrega de separar o resto de líquido que tinha dentro do tanque.

Uma vez vazio, Stephane coloca as suas botas de borracha e se mete dentro do tanque para limpá-lo. Foi difícil de imaginar que ele conseguisse entrar por uma porta tão minúscula. Mas de repente ele estava a li dentro, com a esponja de aço na mão limpando completamente o tanque.

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Durante toda essa tarde também fizemos uma degustação dos seus vinhos para apreciar como eles iam evoluindo. Cada um deles, Stephane extraia dos tanques e nos dava uma taça para que pudéssemos provar.

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Provar um vinho não terminado requer conhecimento e muita sensibilidade.

Primeiro porque nunca vai ser o sabor de um vinho finalizado e aquele que o prova deveria saber, e segundo porque as impressões que o vinho a  meio-caminho te passam te dão pistas sobre como vai ser uma vez que estiver no mercado.

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Stephane verifica a evolução dos seus vinhos periodicamente; e também tem um enólogo preparado na sua adega que também os prova e faz os testes necessários para aconselhar os próximos passos.

A decisão final sempre vai ser de Stephane, e portanto o resultado final é nada menos que o resultado das suas percepções e do seu gosto. Ou seja, dentro de cada garrafa levamos, de certa forma, a identidade e personalidade daquele que o cria.

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Desde que cheguei aqui fico impressionada como me apaixona cada processo e cada passo que realizamos na produção do vinho.

Acho que os dias que passei na adega foram um dos mais especiais: junto com o vindima e o trabalho no campo, senti que ali começava a colher o resultado de todo o trabalho que foi feito previamente. É na adega que começamos a ver os resultados das sementes plantadas e do fruto colhido.  É na adega onde começamos a esboçar o resultado do que vai parar dentro da garrafa.DSC_0464_2

Levarei essa experiência, esses momentos durante toda a minha vida.

Daqui um ano aparecerei no Brasil com garrafas dos vinhos que ajudei de certa forma a fazer e dos vinhos das uvas que eu colhi. Porque sei que dentro deles compartilharei não só um momento presente com os meus amigos, mas também a história dessa experiência, de ser Wwoof e estar com pessoas tão especiais fazendo coisas especiais.

Video instalação do artista argentino Sebastián Diaz Morales. Suspension. 2014

Artistas capturam Zeitgeist – o espírito do tempo na Bienal de Veneza

O espírito do tempo está explícito nos pavilhões que representam os países na Bienal de Arte de Veneza, na Itália. O Zeitgeist que Hegel, Heder, Klotz, e outros sábios alemães, usaram como termo para definir a cultura, o clima intelectual de uma época é visível demais, para quem visita o Giardino.

Viva a Arte Viva é o tema desse biênio, que se encerra em 26 de novembro.  É uma exclamação, uma expressão da paixão pela arte e pela figura do artista.

 A 57a. edição reúne 120 artistas convidados, 86 países presentes nos históricos pavilhões, no Giardino (parque), no Arsenale e no centro de Veneza. Dentre esses, estão três brasileiros e também foram incluídos três países novos, Antigua e Barbuda, Kiribati, Nigéria.

Artistas, sempre visionários, dialogam por intermédio de suas pinturas, esculturas, vídeos e instalações e apresentam o espírito da época.  A leitura feita por eles nem sempre é bonita, embora extraordinariamente bela no seu conceito mais profundo!

Giardino

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Fica a critério de cada visitante escolher o início do percurso ou pelo Giardino ou Arsenale. Comecemos, então, pelo Giardino.

Coreia, Japão, Alemanha, Venezuela, Rússia

Os pavilhões da Coréia, Japão, Venezuela e Suíça estão mais ou menos num mesmo sentido, isto é na mesma direção espacial dentro do Giardino, embora cada qual com a sua identidade cultural. É nesse aspecto que se repara o espírito do tempo e as diferenças dentro de cada contexto étnico.IMG_3168

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O pavilhão da Coréia que apresenta o tema Conterbalance, pelos artistas Cody Chol e Lee Wan, esforça-se para responder a seguinte pergunta: como a história individual se relaciona com histórias nacionais.

Como a nossa compreensão desta dinâmica no contexto coreano pode ser relevante para o resto do mundo e esclarecer o futuro. A exposição é estruturada em torno de três quadros geográficos: Coréia, Ásia e o mundo e coloca na balança as tradições antigas e os reflexos da tecnologia.

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Alemanha em suas formas transparentes, sem obras, oferece todos os dias uma apresentação adaptada para arte, Fausto, por Anne Imhof, que recebeu o Leão de Ouro (mas nem sempre o horário coincide para assisti-lo).

O próprio Goethe trabalhou por mais de 60 anos, transformando-o no símbolo do homem moderno, pronto para vender sua alma para alcançar resultados pessoais.

É a segunda vez que a Alemanha tem um pavilhão sem trabalho, sem o fetiche do objeto.

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O Japão esse ano não usa cores intensas como o vermelho do artista Shihary Shiota, na bienal passada com The Key in the Hand ( A chave na mão). Mas o tema é tão intenso no sentido da poética e estimula à reflexão.

O artista Takiro Iwasaki, que nasceu e cresceu em Hiroshima, dentro de um contexto delicado, coloca a sua cultura flutuando no tempo e a destruição com o homem ao centro.

Hiroshima que se foi e uma cultura que permanece flutuando na memória dos que viveram a devastação.
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Venezuela homenageia o arquiteto que construiu o pavilhão no Giardino em Veneza, Carlo Scarpa.

O pavilhão tem 61 anos de construção e foi restaurado como foi concebido por Scarpa. Se analisa o jogo de luz e sombra da ‘magnífica obra do arquiteto’.

“Em um momento em que se lançam tantos e tão graves acusações e demonizações, nada melhor do que a crítica de arte, implacável e absoluta para esclarecer os horizontes”. Diz um dos cartazes.

No interior são colocadas obras do poeta e artista visual Juan Calzadilha.

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A Rússia trouxe para os visitantes um misto de tecnologia avançada e uma crítica velada à sociedade moderna, em especial ao estilo e regime que representou seu país por muitos anos.IMG_3146

‘Em mudança de cena’, fala-se sobre o tempo e que o arcaico emerge no contemporâneo.

“Na história, o novo está sempre preservado a memória do velho. Os gregos recordam os egípcios, os romanos, os gregos, e os homens do Renascimento até agora.

As mais audazes inovações da modernidade pegaram liderança por meio das tradições e das imagens das culturas antigas. As colisões entre o arcaico e contemporâneo é dedicado o meu trabalho”. Grisha Bruskin.

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Austrália e Estados Unidos

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Austrália em ‘Meu Horizonte’ traz a poética da artista Tracey Moffatt, sob a curadoria Natalie King. Tracey se fixa na ‘linha onde o sol beija o mar’. São imagens de fotografia e vídeo em que a artista descreve o momento em que se alcança os próprios limites e nesse mesmo momento a superação deles.

O vídeo motiva pela montagem que Tracey faz usando a expressão de artistas famosos de pasmos e olhando assustados aos refugiados que estão chegando num barco de resgate.

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“Em realidade, requerentes de asilo não é um caso atual: é velho como o tempo. Ao longo da história em todas as culturas, as pessoas estão sempre fugindo além das fronteiras na busca de uma nova vida”. Tracey Moffatt.

Austrália é um país que também recebe muitos forasteiros em busca de uma nova vida.

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No pavilhão americano EUA não se entra pela frente. Está fechado.

A porta de entrada é pela lateral, na qual precisa ser espremer e abaixar para evitar bater em uma grande esfera-instalação, como metáfora o contraste entre aqueles que vivem na ponta e o poder cada vez mais centralizado e iminente.

Dentro, o artista Mark Bradford destaca a figura feminina, como a escultura Medusa.

As três pinturas cercam uma escultura central intitulada Medusa, feita com cordas embrulhadas pretas, para formar um tríptico clássico e contemporâneo em torno do tema da representação feminina.

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Essa Medusa talvez seu próprio país, que devora pelo olhar. A proposição de um altar envolvido pelo petróleo. Quem sabe…

Brasil, Egito, França

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O pavilhão do Brasil me deixa sempre com algo mais que precisa ser dito.

Não sei se porque vivo em território brasileiro e sinto que as obras representam apenas uma parte do que é esse gigante território. Cinthia Marcelle, em Chão de Caça, traz a violência como tema.

Aliás, isso é Brasil, sim. Mas há quase três bienais consecutivas portamos a violência, os nossos problemas sociais ou o passado opressor. 

 

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Certamente, temos muitas pedras e espinhos em nosso chão, sobretudo agora num momento político instável. No entanto, possuímos também, talvez, a maior diversidade étnica desse planeta convivendo num espaço único, num território que abraça diferenças culturais.

Essas diferenças carregam, às vezes, preconceito ou não, com alegria ou tristeza, de norte a sul. Falta… algo fica entalado na garganta quando o visito!

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Egito apresenta um vídeo de 12 minutos, cujo tema é A Montanha, do artista Moataz Nasr. O destaque é a figura feminina que retorna à sua aldeia depois de ter estudado na cidade. A comunidade agrícola é simples e cheia de medos do demônio que vive na montanha.

A mulher encarna a liberdade e tenta destruir o mito.  O que representa, na verdade, são os dois mundos distintos que fazem parte da vida do Oriente. A crença ingênua e poderosa e a liberdade do conhecimento. Mas deixa no ar se essa liberdade consegue destruir o mito do demônio…

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A França esse ano está mais lúdica e dentro de um contexto real. Em Studio Venez_.a, Xavier Veilhan, imagina um ambiente total. “Uma instalação imersão, que revive do universo de estúdio de gravação a inspirar-se na obra pioneira de Kurt Schwitters, o Merzbau (1923-1937).

Músicos vindos de horizontes diversos são convidados a ativar a escultura estúdio de gravação que se coloca como suporte à criações deles durante os sete meses da bienal. O pavilhão propõe uma fusão entre as artes visuais e música, fazendo referências não só Bauhaus e as experiências do Black Mountain College, mas também a Station to Station de Doug Aitken”.

Essas rápidas e superficiais apresentações sobre alguns pavilhões dão uma ideia do universo rico em imagens e símbolos dentro da arte contemporânea.

A liberdade é o impulso que move o artista sem fronteiras ou limites. 

 

 

 

 

 

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Degustando vinhos por Languedoc Roussilon. Série WWOOF

Vida de wwoofers não é só trabalho pesado. Temos nossos momentos de descanso e momentos que de folga que compartilhamos sempre da melhor maneira possível.

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Aqui na Grange de Bouys somos todos aficionados por vinho e umas das coisas que fizemos no nosso primeiro fim de semana de folga foi pegar o carro e ir por ai, para degustar os vinhos produzidos na região. A experiência foi um tanto peculiar: não pelo vinho em si, mas pelo inusitado de toda a visita.

Languedoc- Roussilon é um região vinícola da França, não tão conhecida e que se destaca principalmente por ter uma grande variedade de pequenos produtores com casas humildes e amor pelo que fazem.

 

As visitas que fizemos não foram a grandes Chateus maravilhosos como podemos encontrar em Bordeaux, Champagne ou Borgonha, que têm pessoas designadas para guiar você durante o roteiro mostrando o lindo das suas parreiras, a amplitude da sua Adega e terminando com a degustação de vinhos no restaurante da Adega.

Aqui, os produtores quando aceitam mostrar o seu vinho abrem, muitas vezes, a porta da sua casa. Muitos tem parcelas de vinhos espalhadas pela região, perto de casa mas não ao lado e geralmente utilizam a garagem, ou o porão como lugar para fabricar o vinho.

Isso não significa para nada que o vinho seja ruim ou de qualidade inferior. Tive o privilégio de comprovar por mim mesma que muitos vinhos produzidos assim, tem a mão do produtor em cada processo e a sua artesanalidade aporta um valor – “añadido” – adicionado que nem toda Adega grande faz.

Três lugares

Estivemos em três lugares diferentes. Dois deles fabricavam o vinho na sua casa e degustamos ou na cozinha ou no jardim, e outro tinha uma pequena adega no centro da cidade em que pudemos degustar e apreciar todo o processo do vinho na sua própria adega.

O melhor de tudo é que estávamos diante do próprio produtor, que nos apresentava a sua história e os seus vinhos com histórias completamente novas e inusitadas. Não havia pergunta que não pudessem responder: se notava que cada decisão foi tomada com muito critério e sabendo exatamente o que estavam fazendo.

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Mas Coris

Nossa primeira visita foi a Mas Coris com denominação de origem Languedoc e selo de vinho biológico. Provamos quatro vinhos, entre eles, brancos, rosés e tintos. Eu pessoalmente gostei mais do tinto e do branco jovem.

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O produtor abriu a porta do seu estabelecimento só pra mostrar todo o processo como ele faz os vinhos e abriu garrafas novas pra gente provar. O lugar era simples, mas cheio de encanto. Pudemos perguntar sobre como ele fazia o vinho, a particularidade do vinho dele e todo o resto. Saímos com algumas garrafas, não todas que queríamos obviamente, mas o suficiente.

Deborah e Peter

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Segunda parada foi na casa de uns amigos de Stephane e Florence: Deborah e Peter que têm uma produção de vinhos maravilhosos chamado ‘Mas Gabriel’, um deles com 91 pontos obtidos pelo célebre crítico Robert Parker.

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Deborah e Peter são britânicos, radicados na França há anos. Eles têm toda a produção feita no porão da sua casa. Foi umas das degustações mais curiosas que já fiz em minha vida. Primeiro fomos conhecer a sua adega, onde a produção de 20 mil garrafas por ano em média eram produzidas.

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O lugar era pequeno, mas acolhedor.

Uma das curiosidades foi ver pela primeira vez barris de concreto para estocar o vinho, em vez de aço-inoxidável.

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Ao lado deles, as barricas de carvalho ocupavam quase todo o lugar. Dalí, passamos ao jardim localizado no fundo da sua casa, onde nos sentamos numa mesa , debaixo de um toldo, onde íamos fazendo a degustação de cada um dos seus vinhos.

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Não resisti e tive que comprar dois, um branco e um tinto, também sem carvalho. Quanto mais conheço os vinhos produzidos nessa região mais me convenço que a maioria deles realmente não precisa de carvalho para melhorá-los.

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Deborah e Peter nos contaram que foi um dia jantando em alguma parte de UK que decidiram que iam ser produtores de vinhos.

Buscaram um lugar onde pudessem aprofundar seu conhecimento sobre a produção de vinhos e escolheram a Nova Zelândia como o lugar idôneo. Passaram ali uma temporada e ficaram amigos de produtores da região. Entre eles estava Britany, filha de um casal amigos de ambos que agora estava aqui região fazendo Wwoofing na casa deles.

Cristian
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Por último visitamos a Cristian, uma adega que o Wwoofer alemão Tristan trabalhou anteriormente, proprietário do Domaine Baillat. Esta é outra experiência que vai ficar marcada na minha memória.

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Cristian também é um pequeno empresário, que vem se dedicando ao mundo do vinho há mais de 30 anos. Começou primeiro com o seu irmão e mais tarde seguiu sozinho no caminho da produção.

A casa de Cristian me faz lembrar muito a casa dos meus avós nos pampas gaúcho. Mobiliário simples, aconchegante e com sabor de saudades em todos os cantinhos.

Como todos produtores, começamos a visita pela sua Adega, que também encontra-se no porão ou garagem da sua casa. O lugar é bem maior que o lugar da Deborah e do Peter, também com cubos de concreto para armazenar o vinho; e de aço-inoxidável também.

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Começamos a degustação ali mesmo, provando os vinhos diretamente dos cubos de concreto, de aço e do carvalho. Foi uma degustação super atípica porque de certa forma o vinho não está completo, nem perfeito, mas ao provar dali você tem a sensação de como um vinho pode evolucionar no seu processo até chegar a garrafa.

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Cristian se define como um contador de história, termo muito apropriado depois de ter passado tantas horas com ele na sua adega e na cozinha. Entre taças e taças passamos momentos inesquecíveis de sorrisos, risadas. Sua forma de contar a história do seu vinho, de como chegou ali, de como tomou as suas decisões nos envolve de uma tal maneira que fica difícil dizer adeus a tamanha experiência.

Significado do pequeno empreendedor

Esses três produtores, viticultores, são um imperativo do trabalho que significava ser pequeno empreendedor: gente que se sacrifica muito para se dedicar a um negócio apaixonante e que nem sempre tem retorno imediato sobre aquilo que está fazendo.

Fiquei impressionada em ver como essa gente, com um sorriso singelo e sincero são capazes de cativar-nos nesse pequeno momento que compartilhamos. São pessoas dedicadas de corpo e alma ao seu negócio, e com capacidade para levar esse amor transformado em garrafas a muitas partes do mundo.

Toda a sorte do mundo

Desejo a estes três produtores toda sorte do mundo na sua jornada, porque na suas mãos, nos seus olhares e nos seus sorrisos pude captar a essência de cada um deles. A simplicidade do seu negócio. A artesanalidade do seu vinho aporta mais valor a cada garrafa que se abre e se compartilha.

Languedoc- Roussillon sem dúvida é uma região única na França para quem quer conhecer profundamente vinhos originais, artesanais e sem dúvida inesquecíveis.

Vino, vidi, vici.