Baía Formosa, Rio Grande do Norte

Natureza pródiga de Baía Formosa

O nome ‘Baía Formosa’ define muito bem o espetáculo natural que o criador pincelou num canto de mar do extenso litoral do Rio Grande do Norte. O por do sol então é algo difícil de descrever. Fantástico, encantador, monumental… 

Palavras, apenas palavras que não dizem exatamente o que o coração sente quando comunga com a beleza que o Universo nos oferece de graça!

Baía Formosa é uma desses lugares paradisíacos, onde antes vivia uma pacata comunidade de pescadores. Isso antes da novela da Flor do Caribe exibida há alguns anos pela Globo. Depois disso, o pequeno trecho do litoral potiguar entrou no mapa turístico brasileiro.

O lugar é uma pequena fração das extensas e maravilhosas praias nordestinas que oferecem ao turista, quase o ano inteiro, águas mornas, areia branca, muito sol, frutos do mar e muita água de coco para nenhum freguês colocar defeito.

Turismo cresce e a terra é sem lei

Apesar algumas boas pousadas na região, o lugar carece de restaurantes, bares, principalmente à noite. Nada é sofisticado e sente-se o improviso nos serviços que são oferecidos em alguns locais. Inclusive, nas construções como mostra o deck de uma pousada  na foto. Um risco!

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Durante o dia é mais fácil saborear um bom peixe à moda brasileira e carne de sol em meia dúzia de restaurantes na beira da praia. ‘Meia dúzia’ é força de expressão para dizer poucos. O gaúcho Neves é um deles. Luz de Candieiro serve bem e tem um bom preço. Seus funcionários são gentis e acolhedores.

Mas para o turista menos exigente aos bens de consumo a natureza compensa as faltas. As praias são maravilhosas!

Exceto o perigo dos carros e bugues trafegando na areia, colocando em risco a circulação dos banhistas, sobretudo as crianças porque os motoristas, com medo de atolar, passam em alta velocidade nas areias fofas. Exceto também a mania que algumas pessoas têm de achar que todo mundo gosta da música que elas gostam e um som de mau gosto martela nos teus ouvidos e retira o prazer de escutar o barulho das ondas quebrando na areia.

O que vale no passeio

As  pousadas são boas e situadas no morro com panoramas naturais inesquecíveis. Os preços são acessíveis e a comida é boa e de baixo custo. Baía Formosa está localizada a 90 quilômetros de Natal. Portanto, é possível passar um final de semana diferente com muito mar e caminhadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

Composição - Jean Helión. 1934

A coleção de Peggy Guggenheim

A coleção de Peggy Guggenheim( 1898-1979) é um delírio para todo amante da arte moderna do século 20. Visitá-la no Pallazzo Vernier dei Leoni, em Veneza, Itália, é entrar no passado, percorrer  a história da arte ao vivo e a cores nas obras de Picasso, Max Ernst, Marc Chagall, Man Ray, e outros artistas que  testemunharam uma época efervescente e desejosa de mudanças…

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A paixão de Peggy Guggenheim deixou um legado inestimável para estudiosos pesquisadores, historiadores, amantes da história da arte no Ocidente. Envolve cubismo, surrealismo e expressionismo abstrato. Ela foi a mais importante colecionadora e mecenas de sua época.

Era de família rica de Nova York. O pai morreu no naufrágio do Titanic em 1912 – Benjamim Guggenheim e sobrinha de Solomon Guggenheim que idealizou a fundação que hoje existe em diversas partes do mundo, com os famosos e arrojados em arquitetura, museus Guggenheim.

Veneza

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Sua coleção está preservada na Sereníssima, na beleza arquitetônica do Palácio Vernier. Construção de 1748, inacabada, assinada pelo arquiteto Lorenzo Boschetti.

Peggy teve uma vida cheia de glamour e diversos maridos. Viveu entre Londres, Nova York, Paris e Veneza, onde terminou seus dias.

Obras

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Pablo Picasso – Buste d’homme en tricot trayé. 1939.

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Marc Chagall- A Chuva. 1911

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Salvador Dalí – Sem Título. 1931

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Amedeo Mongliani – L’Femme en blouse Marine. 1916

 

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Alexander Calder – Brincos para Peggy Guggenheim. 1938.

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Andy Warhol – Flores. 1964.

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Marchel Duchamp – Bôite-en-valise. 1941.

Essa é uma pequena demonstração das obras que existem nesse palazzo maravilhoso. Pollack, Tanguy, Men Ray,Vasily Kandisnky, Marcel Duchamp, e muito mais.

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Ao visitar uma coleção como a de Peggy Guggenheim o espectador tem a oportunidade de se transportar no tempo, atingir a memória histórica, viver cada momento de criação de uma obra, percebendo o olhar do artista no instante em que nasce a obra. Se passar por Veneza e gosta de arte, não deixe de conhecer esse importante acervo que faz parte da história da arte do mundo moderno europeu e americano.

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Missa da Benção em Salvador. Extraordinário sincretismo

Se fosse no passado os participantes e o padre seriam queimados na fogueira pela Inquisição, tal é o sincretismo entre os ritos católicos e africanos. Estamos falando da missa mais original celebrada no mundo, a Missa da Benção. certamente, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Salvador, na Bahia.

A celebração religiosa é emocionante, imperdível. Isso para quem é ecumênico e multidisplinar em suas crenças. Pode tornar-se chocante para os mais conservadores que acreditam que a instituição religiosa a que pertence é a única verdade existente.

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Igreja erguida pelo fervor dos escravos e alforriados.

A Missa da Benção coloca o catolicismo e o candomblé lado a lado e é rezada todas às terças-feiras, às 18h, e aos domingos, às 10h, ao som dos atabaques e cantos africanos, com a participação de padres e pai-de-santo.

Uma celebração que somente no Brasil poderia acontecer e, talvez, para lembrar sempre que da triste história da escravidão em terras brasileiras. Também da humildade e religiosidade desse negro que sofreu no Pelourinho, pelas mãos de brancos algozes.

História da Igreja

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Segundo fonte da Wikipedia , os negros escravos e alforriados eram muito devotos de Nossa Senhora do Rosário.

De acordo com frei Agostinho de Santa Maria, desde os inícios do século XVII os escravos e forros veneravam Nossa Senhora do Rosário num altar da Sé da Bahia, em Salvador. Como outros grupos da colônia, também os negros se organizavam em agrupações religiosas de ajuda mútua, as chamadas irmandades ou confrarias. Na segunda metade do século XVIII, quase todas as freguesias de Salvador possuíam alguma irmandade de negros.

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Salvador foi formalmente constituída em 1685 (…).As irmandades de negros começavam reunindo-se nos altares laterais de igrejas matrizes ou conventuais, mas em 1704 a do Rosário reuniu o dinheiro necessário e recebeu a permissão do arcebispo DSebastião Monteiro de Vide para a construção de uma igreja própria nas Portas do Carmo.

A construção da Igreja do Rosário foi um processo lento, pois a irmandade era relativamente pobre e os irmãos da confraria doavam seu trabalho para a construção em suas horas livres (…)

Vídeo que mostra a missa quase inteira

Esse vídeo é amador. Mas foi uma maneira que encontrei para registrar algo tão profundo e, certamente, só é possível vivenciar no Brasil. As imagens estarão comigo até o final de minha vida, sobretudo o momento do ofertório. Maravilhoso!

 

 

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O Fervor da Festa do Bonfim na Bahia

Quem participa uma vez na vida da Festa do Nosso Senhor do Bonfim jamais esquecerá a experiência. Mesmo que digam que a festa não é mais a mesma, pelo foco turístico e político do evento. A celebração tem ainda, em sua essência, nas raízes, a razão pela qual foi criada. A devoção!

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A devoção é que atrai um grande número de pessoas e elas se propõem a caminhar oito quilômetros, sob um sol escaldante na cabeça, da Igreja da Conceição da Praia, no Comércio, à Colina Sagrada, no Bonfim.

Dia 11 de janeiro

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Este ano a procissão religiosa, que precede o rito de lavagem do adro e da escadaria da basílica, será no dia 11 de janeiro, quinta-feira.

Não só de carnaval vive Salvador

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Mais importante do que conhecer o carnaval em Salvador, na Bahia, é participar de suas festas religiosas populares que representam a raiz do povo brasileiro, com manifestações apoiadas na espiritualidade e no sincretismo.

Festas que dão uma conotação diferenciada a esta cidade que traz na arquitetura, na memória ancestral, traços e fatos da história do Brasil.

É surpreendente ao turista  se deparar casualmente com baianas vestidas de renda branca requintada e engomada,  vaidosas e sorridentes, cheias de adornos e colares, com seus potes de água na cabeça, flores e cheiro de Alfazema,  dançando ao som  do atabaque, para celebrar  sua devoção, enquanto descem as ladeiras do Pelourinho.

É uma imagem plena de significados que mesmo difícil de transmitir no instantâneo de uma foto ou nos segundos de um vídeo, não se pode deixar de captar  para  relembrar o  fascínio do momento.

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Salvador pulsa tradição religiosa

Salvador é uma cidade que pulsa e neste compasso, o do coração, e seu povo segue vivendo  cultura e tradição, “ainda” com muita música, expressão e sincretismo  na construção de suas crenças. Colocar este  ainda, entre aspas, pode surpreender o leitor por soar como  momento presente –  até agora – que poderá não existir no futuro.

Festas como a Lavagem do Bonfim,na segunda quinta-feira de janeiro, depois do dia de Reis, a homenagem a Iemanjá, no dia 2 de fevereiro, mais a missa da Benção, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos,  no Pelourinho, ainda resistem no calendário, ano após ano, e só podem ser vistas e sentidas numa cidade como Salvador.

Olhar Crítico

 Dizem os soteropolitanos* que era mais organizada e mais fervorosa a Lavagem do Bonfim e que muitas outras festas se perderam no tempo e já estão no passado, como a de Santa Luzia, em 4 de dezembro, a da Conceição da Praia, a de Monte Serrat, “aonde o povo costumava estar presente para a virada do ano”.

O turista que participa da festa da Lavagem do Bonfim, com uma visão mais crítica, perspicaz, percebe que o evento popular se transformou “num mero acontecimento de exibição de políticos”, para destaque na mídia.  Na verdade, a multidão de fiéis pouco participa do momento culminante que é a cerimônia da lavagem. Aliás, que lavagem, senão uma simulação para publicidade.

O ritual que assisti em 2014 foi evidente a simulação feita por um grupo de baianas jogando um pouco de água no chão para TV filmar.

Mas o fervor penetrante é alheio ao circo

Vale contar o único incidente que presenciei, entre o povo fervoroso que se mantém agarrado às grades rezando e indiferente ao circo armado, é o de uma jovem que se recusou a sair da entrada principal quando um funcionário da prefeitura tentou afastá-la. Ele alegava que precisava abrir caminho para o prefeito de Salvador,  na época, Antonio Magalhães Neto.

Só desistiu de retirar a menina do local porque alguém lembrou a ele que aquela festa era “do povo e o prefeito iria participar apenas como convidado”.

 Decepção e também nostalgia de um tempo em que talvez fosse possível entrar na Igreja do Bonfim e rezar  para celebrar a caminhada de oito quilômetros da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até alto da colina do Bonfim e reforçar  os votos de amor e caridade pela humanidade.

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Hoje as portas permanecem fechadas por causa do vandalismo e roubo de imagens sacras.  Meu olhar reconhece que a única condição que permanece ainda intacta é a fé da população que, num sol escaldante, agarrada às grades, e no empurra, empurra da multidão busca nas orações, o conforto para aliviar suas dores.

Que a lavagem desse ano sirva para melhorar o Brasil nesse ano de eleição presidencial. Nem mais reciclar o Congresso porque o que existe lá já está tão podre que não  se aproveita nada. Que a fé do povo brasileiro trabalhador (quase escravo de novo) tenha força suficiente para mudar esse panorama e inspire gente boa e honesta a dirigir e construir um país de verdade!

*(denominação usada para o indivíduo que nasce ou vive no município de Salvador, na Bahia. Tem origem na helenização do nome do município para Soterópolis (cidade de Salvador), a partir da união de “σωτήρ” (transl. sōtēr, -os) e “πόλις” (transl. pólis), ambos do grego antigo).