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Galeria de arte em Viena promove artistas brasileiros

Nem só de valsas e lembranças de um império glorioso vive Viena.

A capital austríaca ainda conserva na paisagem a pompa do que foi no passado imperial, jardins, bairros, tudo limpo e perfeito, um povo sem pressa, usando bicicleta, patinete e bonde.

Nesse ambiente de ruas tranquilas, no sóbrio tom gelo das construções, encontrei a galeria de arte da brasileira Valéria Mac Knight. Que agradável surpresa!

Tons vibrantes

Valéria é a segunda da direita para esquerda no meio de um grupo de brasileiros que estão com obras expondo na galeria.

O sorriso aberto de quem é ‘Made in Brasil’  é o cartão de visita de Valéria dando boas vindas a quem chega na galeria. Logo na entrada é possível perceber os tons vibrantes da cor tropical que prevalece nas telas. Nesse início de junho brasileiros abriram uma mostra que inclui design de jóias, do Ateliê Fusão de Renata Chagas

Atelier Escola Fusão. Renata Chagas

Visibilidade

‘The Vienna Workshop Gallery’ apresenta em seu projeto de trabalho, entre outras propostas, dar oportunidade aos artistas brasileiros de mostrarem suas obras na Áustria e consequentemente abrir caminhos para que ele seja aceito e visível ao mercado de artes europeu.

To remain. Marta Von Zeidler, brasileira que vive na Alemanha.

Vale destacar no Panhoramarte o trabalho realizado pela galeria, considerando que o percurso para o reconhecimento artístico sempre é árduo, sobretudo se o artista não é europeu. Vale, sim, buscar novos horizontes. É como garimpar oportunidades que certamente têm custos, mas ao final o resultado sempre é favorável ao artista que tem segurança do seu talento.

Nesse ambiente quase exclusivamente brasileiro ou de língua portuguesa, por ter alguns representantes de Portugal, um artista austríaco se destaca. Maximilian Seeböok, com seu Spiral das Leben. Óleo sobre tela. Um trabalho minucioso e extraordinário nos detalhes. Maximilian é marido de Valéria.

 

 

 

 

 

 

 

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Gustav Klimt e a alegoria do Friso de Beethoven

A alegoria criada por Gustav Klimt no Friso de Beethoven, obra inspirada na 9a. Sinfonia, transformou uma simples sala em território sagrado. A busca pela alegria e o amor puro, passa pela fragilidade do ser humano, o mal, a doença e a morte, na poética de Klimt, em ritmo de adagio e allegro.

O bacana de apreciar uma obra de arte como essa, é se transportar no tempo e entender a razão pela qual foi criada. É como capturar a sua alma e viver a emoção do artista!

Homenagem a Beethoven

Quando o austríaco Gustav Klimt criou o Friso diretamente nas paredes da sede da Secessão, em 1902, a finalidade era homenagear o compositor alemão, num evento em que a peça central era uma escultura dedicada a Beethoven feita por Max Klinger, no salão maior do espaço.

A busca do ser humano pela pura felicidade foi a conexão entre arte visual e música, aliada ao poder criativo de Gustav Klimt, artista austríaco que introduziu a fase moderna arte vienense ainda no império.

São três paredes. Imagina-se no dia da abertura a música soava pelas paredes dando vida às ninfas que flutuam num espaço vazio, provavelmente imaginando o adagio. Um espaço livre tão importante quanto a pintura, significando a passagem do tempo. Figuras femininas e etéreas, delicadas aparecem logo em seguida de joelhos, suplicantes.

As súplicas do débil ser humano

Mulheres suplicando a uma figura masculina, a um mito heróico, um cavaleiro com armadura em folhas de ouro, cuja fisionomia foi inspirada nas feições de Gustav Mahler (compositor) e a armadura reproduz a do Arquiduque Segismundo del Tirol, exposta no Museu de História da Arte de Viena.

Esse personagem é resplandecente pelo dourado e algumas pedras semi-preciosas no cabo da espada e no capacete aos pés, representa a mesma humanidade, dotada de espírito e decidida ir em busca da felicidade pela arte.

A parede do meio é inteira pintada e de uma simbologia mitológica extraordinária. São as forças do mal com tons que predominam o escuro. Primeiro as três irmãs GorgonasMedusa, Esteno e Euríale, com cabelos de serpente, terrivelmente sedutoras, mas letais. Acima delas, a doença, loucura e morte, também representadas por figuras de mulheres.

Mitologia

O gorila, personagem central, representa também uma criatura mítica, Tifeu ou Tifão, que na mitologia grega era responsável pela destruição, ventos violentos. Klimt personificou-o como um gorila com os olhos de nácar esbugalhados para o público. Ao lado dele coloca a luxúria, o despudor e gula, representadas também por mulheres, a ruiva, a loira e a obesa.

A dor profunda

A ideia era mostrar nessa alegoria que o cavaleiro dourado teria uma missão quase impossível, considerando que poderia ser seduzido pela beleza e sensualidade, fascínio, e que nem os deuses poderiam superar a força de Tifeu, que estava envolvido pelos espirais de uma serpente e na lateral, ao lado extremo das irmãs Gorgonas, Klimt pintou outra figura de mulher representando a dor aguda, envolta em seu cabelo. Uma cena de desolação ao fundo com as serpentes enrodilhadas.

No final o Éden

No entanto, uma outra vibração harmônica aparece na terceira parede, no canto direito, acima. As ninfas flutuantes aparecem etéreas encontram-se com a música emocional, com a qual emerge a luz. Uma figura feminina parece tocar um instrumento musical. O ouro resplandece.

Allegro ao final

A sinfonia de Beethovem recupera o pulso, a grandiosidade, o allegro vibrante. Consciências são regeneradas e o Ode à Alegria aparece no abraço final do homem e da mulher, o sol e a lua – o Éden – a água em forma de ouro flui em torno do casal, unindo-os fundindo-os em alegria e amor. Fonte: Galeriadeartebarcelona

Se você leitor se envolver nas tramas dessa alegoria de Klimt, certamente, no momento em que estará imaginando-se dentro da sala da Secessão, será conduzido pelas pinceladas do artista, hipnotizado pela música emocional que resplandece com o brilho do dourado.

Pasmem! E pensar que os austríacos da Viena Imperial abominaram o trabalho de Klimt e o consideravam imoral. Um artista de extraordinária capacidade simbólica e  refinado em seu conceito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Ouro cintila de novo na sede da Secessão em Viena

Os austríacos decidiram restaurar o brilho da “Belle Époque” e devolver à cúpula da sede do movimento da Secessão em Viena o dourado que cintilou no passado.

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Quem passa pela Friedrichstrasse 12, mal percebe aquele edifício quadrado, com uma bola feita de folhas douradas que cobre parte do telhado, sendo quase esmagado em meio ao tráfego intenso da grande avenida e ainda cheio de tapumes e rede de proteção demonstrando reformas.

Pequena ficou em tamanho diante do crescimento urbano da capital austríaca, o que já foi grandioso no passado( 1897-1920) pela memória que está impregnada nas suas paredes de linhas retas ( projeto assinado Joseph Maria Olbrich/ 1897) e a frase que estimulou  o sentimento de artistas intelectuais pelo novo. Representou o “zeitgeist”( o espírito do tempo).

Pallade Atena

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Certamente por isso que o povo austríaco decidiu devolver a beleza arquitetônica do passado ao espaço físico que confere à antiga sede da Secessão, fazendo doações em dinheiro, de pequenas a grandes somas, para financiar a restauração da construção que tinha como ideal  o Gesamstkunsvert – a obra de arte total. O símbolo do secessionismo vienense é Pallade Atena, nome muito difundido na mitologia grega para criar ambiguidade, difícil de discernir.

Confesso que não esperava visitar Viena este ano. Foi uma decisão de última hora rever o país dos meus ancestrais. Na verdade, o que me estimulou foi a mostra multimídia sobre Gustav Klimt que vi em Roma. Mas ao me deparar com a sede fiquei até um pouco decepcionada, talvez, por perceber a ânsia de um grupo de artistas sensíveis aos acontecimentos históricos, sobretudo guerras e problemas sociais.

À arte a sua liberdade

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A aspiração dos 18 artistas que criaram a Secessão vienense era colocar em cena a obra de arte total, que envolvia moda, arquitetura, jóias, design e objetos. O movimento propunha um novo estilo para o cotidiano,uma reconstrução estilística do universo. “A cada época sua arte, à arte sua liberdade.”

Talvez porque me dei conta que a modernidade urbana esmagou significado da Secessão no que se refere a interferência do espaço físico na paisagem. Mas nada elimina a grandiosidade das ideias que abriga o local.

Freud

Elas permanecem no tempo para lembrar que foi exatamente entre 1895 a 1900, que não somente Klimt e seus amigos artistas estavam engajados em uma nova visão de mundo, mas Sigmund Freud trabalhava na interpretação dos sonhos e da mente humana na sua solidão de pesquisador.

Se você turista chegar lá, vai se deparar com um edifício de linhas retas cheio de tapumes, salvo o dourado da cúpula dedicada ao deus grego Apolo que se destaca e que denuncia, apesar da proposta de mudança na mente dos artistas e intelectuais da época, um quesito do brilho, do divertimento, que representou a cultura da Belle Epoque.

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Tudo quase aconteceu junto entre o final do século XIX e início do século XX. A Secessão, o impressionismo, o surrealismo foram movimentos artísticos decorrentes de um tempo em que as ideias borbulhavam como água fervendo numa chaleira. Um momento de explosão criativa”

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Interafetividade. Música e imagem na trama das emoções

 A vocalista da banda mineira Pato Fu, Fernanda Takai, e a artista paranaense Sandra Hiromoto, criaram Interafetividade para envolver público nas tramas emocionais da palavra e da imagem.

A conexão entre música e pintura, a primeira pela voz suave de Fernanda e a segunda, por imagens definidas pelos traços de Sandra, fazem o observador sentir-se parte desse universo imaginário, em que o ritmo cadência a imagem.  Uma parceria que uniu tecnologia, sensibilidade e talento.

A mostra está no Shopping Pátio Batel, em Curitiba, Paraná, até 30 de junho.

Diálogo afetivo

Como as artistas definem a mostra Interafetividade é um diálogo afetivo. A parceria começou em 2016 e  resultou em seis animações em português e uma em inglês e outra em japonês.

Sandra Hiromoto é uma artista paranaense com olhar contemporâneo, que trabalha com apropriações entre objetos urbanos e de nosso afeto. Nessa mostra, sobretudo, ela acentua nos traços o estilo de seus ancestrais japoneses: a suavidade. Mas, um observador mais atento perceberá que entre apropriações e traços, a cor está sempre em evidência e é muito brasileira.

Fernanda Takai é cantora, compositora e cronista. É também vocalista da banda mineira Pato Fu há 25 anos. Assim como Sandra, a cantora tem ascendência japonesa, mas por parte de pai apenas. Ambas são artistas premiadas e reconhecidas em diversas partes do mundo.

O resultado final do trabalho envolveu uma equipe técnica e artística de grande gabarito. Na curadoria, Julia Ishida, artista plástica paranaense, animação Pixel Sav, Produção Executiva, Carolina Montenegro, Fotografia, Capture Zapp/Ticollor, Assistente de Produção, Silvia Yokoyama, Produção Técnica, Filipe Castro, Design, Editorial Design, Assessoria de Imprensa, Ieme Comunicação.

E o Vento Levou

É a ilustração da capa do nosso artigo. A música é do disco Ruído Rosa, o sexto álbum da banda Pato Fu. A canção fala do tempo e da vida nas cidades. “Um minuto para pensar, que a vida leva e trás, O que eu faço ela desfaz”…

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Por Causa de Você Menina

A canção do compositor Jorge Ben Jor dá ritmo à animação de um grande coração pulsando…

30.000 pés

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A animação nos remete ao pequeno príncipe em seu planeta desconhecido. A canção diz: “Acima das nuvens, o tempo é sempre bom, E o sol brilha tanto que pode te cegar, Eu quero estar bem longe do chão, Só pra não ver você chorar”….

Entretenimento

A parceria entre arte e tecnologia é inevitável e cresce a cada dia. O artista contemporâneo há muito que se preocupa com o público e com a sua participação na obra. Interafetividade está inserido nesse contexto ao proporcionar um diálogo entre a música e o desenho, fazendo com que o observador  viaje na poética e explore as suas emoções.

Ao analisar a mostra pelo local onde foi realizado, considerando a questão de provocar uma experiência lúdica, a localização em um grande shopping como espaço espositivo está dentro dos objetivos de interagir com o público. Correto quando o olhar é para o entretenimento.

Por outro lado, Interafetividade é uma obra de arte. Com esse olhar o shopping é um espaço em transição, cujo o encanto das possibilidades é apreciá-la em ambientes favoráveis em acústica e visibilidade, como cinema, casa de shows ou salas escuras de museus.