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“Estrangeiros por toda parte” na Bienal de Veneza de 2024

Bienal das Artes de Veneza de 2024 coloca em pauta um tema que incomoda os europeus: refugiados e a herança da diáspora. Tim-tim! Um brinde para o curador, o brasileiro Adriano Pedrosa.

Pasmem! Depois de 130 anos de existência e considerada a mais antiga e importante bienal do mundo, uma venerável senhora sexagenária nas artes,  só agora na sua 60ª edição que decidiu abrir espaço a um curador sul-americano. Que resistência em sair da bolha!

Mais um brinde ao curador pela escolha do tema: Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere (Estrangeiros por toda a parte). Sem dúvida, para provocar reflexão e ampliar o pensamento crítico, em tempo de descolonização e da complexa situação dos refugiados que sofrem pelas guerras e perseguições e buscam uma vida melhor nos países do primeiro mundo.  

A 60ª Bienal das Artes de Veneza fará a entrega de premiação neste sábado dia 20 de abril e a partir  daí estará aberta para o público até o dia 11 de novembro. Adriano Pedrosa é diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo- MASP.

Mesmo que as más-línguas queiram assistir ou profetizar a decadência no prestígio do mais antigo evento do ocidente, a Bienal de Veneza nunca perderá seu glamour porque acontece dentro de uma cidade que é uma obra de arte a céu aberto. Sempre terá público!

Bienal das Artes de Veneza pode ser  irrelevante para alguns europeus, sobretudo italianos ultra-conservadores. É  desconfortável aflorar à memória, temas sociais como racismo, misoginia, colonização e descolonização, dos quais muitos de seus ancestrais foram protagonistas ou ainda agem assim.

 

Das inúmeras bienais de Veneza que visitei sempre viajei nos conceitos as vezes vanguardistas e com a plenitude da liberdades individuais. Mas as mais instigantes lidaram com temas complexos, guerras, autoritarismo e preconceitos.Obras cada vez mais  conceituais, com instalações efêmeras, que não deixarão vestígios num futuro, como no passado deixaram no mármore e nas telas, mas mesmo descartáveis como o mundo moderno, verdadeiras conexões com o espírito do tempo que nos fazem refletir sobre o papel da humanidade.

Em 2015, o tema foi Äll the world’s futures”-Todos os futuros do mundo. 

Neste momento o viés social começou a ser padronizado como tema exatamente como definiu a curadoria. 

Apesar dos enormes avanços no conhecimento e tecnologia, vivemos uma espécie de ‘idade da ansiedade’.E a Bienal retorna a observar  a relação entre a arte e o desenvolvimento da realidade humana, nas forças sociais, políticas, e nas buscas dos fenômenos externos”. — 
Shiharu Shiota- The Key in the Hand (2015)

A Bienal de 2015  é, portanto,  uma sequência da anterior, a de 2013, que  também se desenvolveu com mais poética.

 O “Palácio Enciclopédico” baseado   no sonho utópico do artista italo-americano de criar um museu que iria tomar 16 quarteirões em Washington, para  abrigar todo o saber do mundo. O grande ícone desta Bienal, foi a exposição da obra original do Livro Vermelho de Jung.

A tecelagem foi destaque na Bienal de 2017, Viva a Arte, Arte Viva.

Enquanto alguns grupos radicais no Brasil queriam sufocar a criatividade, fechar museus, Veneza, o berço das artes, exaltou o artista pela sua expressão máxima de liberdade.

Como a vídeo instalação do artista australiano, Tracey Moffatt, que apresenta imagens de artistas famosos. pasmos e assustados olhando as imagens de barcos de refugiados.

 

“Tempos Interessantes”foi a abordagem da Bienal de 2019. O título evoca a ideia de tempos desafiadores e talvez ameaçadores, mas as obras são um convite para ver e analisar o ser humano na sua complexidade.

A instalação Trojan  2016-2017, de Yin Xiuzhen,uma colossal escultura confeccionada com roupas usadas, argila e metal. A figura de uma mulher que se posta curvada.

 

A pandemia não permitiu que se realizasse a Bienal em 2021, que foi normalizado em 2022. O tema bastante sugestivo, “Leite dos Sonhos, que leva o nome do livro de Leonora Carrington, no qual,   a artista surrealista descreve um mundo mágico em que a vida é constantemente reinventada pelo prisma da imaginação e no qual se permite mudar, transformar, tornar-se diferente de si mesmo.

Belkis Ayón foi uma artista cubana e litógrafa. O seu trabalho foi baseado na religião afro-cubana, combinando o mito de Sikan e as tradições do Abacua, uma sociedade secreta masculina

Leite dos Sonhos foi um título que surgiu depois de diversas discussões com artistas de todo o mundo, quando emergiu persistentemente uma série de questões que não só evocam este preciso momento histórico em que a própria sobrevivência da humanidade está ameaçada, mas que resumem muitas outras questões que têm dominado as ciências, as artes e os mitos de nossa Tempo.

Uma Bienal realizada em tempo de guerra, Rússia e Ucrânia. A Rússia com o pavilhão fechado.

Qual será o papel da arte focada no tema  Stranieri Dovunque- Foreigners everywhere (Estrangeiros por toda a parte)?  o que nos apresentarão em obras e conceito?

O tema reserva um conteúdo muito significativo porque desde a antiguidade  a diáspora faz parte da história da humanidade. Infelizmente!

movimento artístico que buscou aperfeiçoar no delinear dos traços, os efeitos da luz

Invenção da fotografia motivou mudanças na arte. Impressionismo

Paisagens da primavera européia estarão sempre associadas às telas impressionistas, um movimento artístico que buscou aperfeiçoar no delinear dos traços, os efeitos da luz sobre a cor.

 A visão do impressionismo compreendia o velho, o novo, natureza e indústria, beleza e banalidade e marcou o início da era moderna na arte.

A invenção da fotografia certamente impulsionou as tendências deste movimento pictórico do século XIX e transformou o mundo.

Corot, Rosseau, Diaz de la Peña, Dupré a Monet, Pissarro, Sisley, pintores franceses do impressionismo, mostravam em suas telas o relacionamento que  tinham com a natureza e se empenhavam na  busca de uma  linguagem inovadora na arte pictórica que pudesse sobrepor-se  à fotografia na captura das imagens.

O impressionismo empurrou o pintor para fora de seu ateliê e lhe mostrou o mundo real que precisava ser pincelado e não aquele proposto pelos  delírios da aristocracia francesa e a competitiva e poderosa igreja católica européia (Itália, Espanha e Portugal). “ Escancararam as janelas e deixaram  entrar o sol e passar o ar”, escreveu Edmond Duranty em 1876, sobre as telas impressionistas. Ele era novelista e crítico de arte francês.

Da mesma forma outro crítico e também poeta, Charles Baudelaire, deixou registrada a sua indignação sobre a fotografia e arte em cartas enviadas aos seus amigos. 

 “Como a fotografia nos dá todas as garantias desejáveis de exatidão (eles crêem nisso, os insensatos!), a arte, é a fotografia. A partir desse momento, a sociedade imunda pôs-se à rua, como um só Narciso, para contemplar sua imagem trivial sobre o metal”, disse ele.

Mais adiante escreve que “ A cada dia a arte diminui o respeito por sim mesma, se prosterna diante da realidade exterior, e o pintor torna-se mais e mais inclinado a pintar, não o que sonha, mas o que vê. Entretanto, é uma felicidade sonhar, e seria uma glória exprimir o que se sonha; mas, que digo eu! Conhece ainda o pintor tal felicidade? O observador de boa fé afirmará que a invasão da fotografia e a grande loucura industrial são estranhas a este resultado deplorável? É permitido supor que um povo, cujos olhos se acostumam a considerar os resultados de uma ciência material, como os produtos do belo não acabe por ter diminuída, singularmente, ao fim de um certo tempo, sua faculdade de julgar e de sentir o que há de mais etéreo e imaterial?”, afirmou Baudelaire, durante o “Salão de 1859”. “O Público Moderno e a Fotografia./

Na antiguidade os pintores faziam o papel dos fotógrafos de agora e pela sua arte deixaram um testemunho da história da humanidade. O impressionismo é exatamente a transição entre a aceitação da nova tecnologia e a arte se adaptando às mudanças. A internet trará uma nova era para arte e a resposta está no futuro.

Como a fotografia nos dá todas as garantias desejáveis de exatidão (eles crêem nisso, os insensatos!), a arte, é a fotografia”. Baudeleire
A indignação do poeta, crítico, escritor do século XIX, Charles Baudeleire  já era o prenúncio de uma grande mudança na arte ocidental. Os artistas começaram sair de seus ateliers e buscar reproduzir as alterações e os efeitos da luz em suas telas. Nascia o movimento Impressionista.

Estação Saint-Lazare, 1877 - Claude Monet. Museu D'Orsay
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Artistas serão vozes permanentes na memória histórica do Brasil. Ditadura Nunca Mais!

Arte e a cultura serão sempre alvos dos regimes autoritários. Por que?

Os artistas jamais se calam e serão vozes permanentes para lembrar –

Ditadura Nunca Mais!

Assim denunciaram e foram censurados, perseguidos, exilados e até torturados na época, grandes ícones da nossa música, compositores como Chico Buarque, Geraldo Vandré, Caetano Velozo, Gilberto Gil, e artistas plásticos como Cido Meirelles, Artur Barrio, no cinema Glauber Rocha, atrizes como Bete Mendes, entre outros….

 Atriz, política e militante dos direitos humanos Bete Mendes, que figura entre as maiores estrelas da televisão brasileira, foi torturada e presa injustamente quando cursava Sociologia, na USP.  Hoje participa de mais de 20 movimentos em defesa das minorias e direitos humanos. 

 

Os depoimentos feitos por intelectuais, artistas, professores, poetas, escritores que integram o coletivo Estados Gerais da Cultura, não se perdem no tempo. Serão sempre  atuais para lembrar ao povo que é preciso resistir e defender a liberdade.

Estarão sempre em alerta para mobilizar  membros e simpatizantes e bradar em alto e bom som: “Ditadura Nunca Mais!” 

Precisamos resistir àqueles que ainda defendem essa atrocidade histórica que acometeu o nosso país nos “anos de chumbo” e defender as liberdades democráticas ontem, hoje e sempre”.

A foto que abre a matéria é uma instalação de Wolfgang Stiller,  Monges (2010), apresentada na Bienal Internacional de Curitiba, em 2013.  A arte de Stiller expressa o sofrimento físico e mental gerado pelos desgastes urbanos cotidianos.  A instalação representa um grupo de seres refugiados vivendo distantes dos conflitos da sociedade contemporânea.

“Brasil, país gigante

Dilacerado em pedaços de classe, de carnes, de aços inoxidáveis

projetéis, projetos mil

Voláteis, vapores, ares carregadores de palavras mastigadas nas campanhas.

E a dor do outro

e a morte do outro
e os outros

Quanto sangue, quanto abate

Quanto se sabe” ( Delayne Brasil – escritora e poeta – Grupo Poesia Simplesmente e EGC)

O cineasta Silvio Tendler,  na série Militares da Democracia, “resgata através de depoimentos e registros de arquivos as memórias repudiadas, sufocadas e despercebidas dos militares perseguidos, cassados, torturados e mortos por defenderem a ordem constitucional e uma sociedade livre e democrática”.

“Eles lutaram pela Constituição, pela legalidade e contra o golpe de 1964, mas a sociedade brasileira pouco ou nada sabe a respeito dos oficiais que, até hoje, buscam reconhecimento na história do país.”

Aos seguidores do Pan-horamarte recomendamos que assistam a série e conheçam os bastidores do  “golpe de 64”, no canal dos Estados Gerais da Cultura.

Silvio Tendler é um dos mais renomados documentaristas brasileiros e produziu filmes que são relatos e análises preciosas dos mais importantes momentos da história política de nosso país.  Filmes memoráveis como Jango, Os anos JK, Militares da democracia, Privatizações: a distopia do capital e O veneno está na mesa.

 

Sistema autoritário tortura, mata, oculta e censura pelo poder.

O AI-5 paralisou tudo”, dizia Glauber Rocha, refletindo sobre a situação de quase desespero em que se encontravam os artistas. Com o AI-5, ficou oficializada a censura prévia, repercutindo negativamente sobre a produção artística.  As primeiras manifestações de censura ocorreram no 4º Salão de Brasília, quando obras de Cláudio Tozzi e José Aguilar foram censuradas, por serem consideradas políticas. No 3º Salão de Ouro Preto, o júri sequer pôde ver algumas gravuras inscritas, que foram previamente retiradas. 

 

Certamente, aqueles que clamam pela intervenção militar sequer conhecem a nossa história. E mais ainda, pela alienação cognitiva desconhecem que numa ditadura militar jamais poderiam criticar a ação da justiça e as condenações das pessoas envolvidas nos ataques às instituições democráticas no dia 8 de janeiro 2023, assim com não teriam direito a um julgamento seguindo todos os procedimentos legais os que ativamente se envolveram com o ato. Simplesmente seriam brutalmente caladas. 

“Ditadura Nunca Mais” deve ser um mantra para todo o brasileiro!

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Mossoró 40 graus oferece águas termais incríveis e muita história com Lampião

Não é possível afirmar que Mossoró é uma cidade bonita...Para o turista o fato ficará em segundo plano, depois de aprofundar-se na sua história e banhar-se nas medicinais águas termais.

Tenho certeza que estão achando loucura a ideia de águas termais numa cidade que ferve na temperatura. A média anual é 27°C (dados da prefeitura) e a máxima passa de 36°C e garanto que a sensação térmica é muito maior que isso. Por incrível que pareça é possível curtir e deliciar-se nas águas termais de Mossoró, que são de alto valor terapêutico, com piscinas que chegam a 50°C.

Posso garantir que é possível aproveitar o local e não sentir-se num caldeirão de água fervente por experiência própria. “Ninguém morreu aqui”, respondeu-me um funcionário do Hotel Thermas de Mossoró quando perguntei a ele, será que é seguro entrar numa piscina que marca 44°C?

E não é que ele tinha razão!

Experimentei a piscina de 44°C e me senti maravilhosamente bem. A pele ficou como se tivesse feito um peeling.A fonte de água termal foi descoberta porque estavam em busca de petróleo. Aliás, a cidade é a maior produtora terrestre de petróleo no país. A área referente ao hotel resort é arrendada para iniciativa privada e esteve fechada durante a pandemia. Hoje Hotel Thermas de Mossoró oferece diversas opções para quem quiser aproveitar dos valores terapêuticos da fonte de água termal do local. Um morador de Mossoró que frequenta as termas todo o fim de tarde porque adquiriu o passaporte anual revelou que não pegou covid. “Venho aqui todos os dias depois do trabalho e me banho nessas piscinas”, contou. Não pegou covid e se preveniu tomando as três doses da vacina.

Mas Mossoró não se resume apenas às águas termais. É a segunda cidade em tamanho do Rio Grande do Norte, com muita tradição e um povo corajoso, com mulheres fortes e determinadas.  

São muitos feitos. Mossoró foi a primeira cidade no Brasil a abolir a escravidão em  1883, cinco anos antes da Lei Áurea, teve o Motim das Mulheres em 1875, e teve o voto da primeira eleitora da América do Latina. Por fim, resistiu em 1927 ao ataque do Bando de Lampião .Fonte: Folha de São Paulo e Wikipédia

 

Muitas histórias contam de Lampião pelo Brasil afora no imaginário popular. Tem gente que o defende como um justiceiro que tentou vingar a morte do pai – provocada por problemas entre fazendeiros e roubo de gado que nada mais é do que o resultado de sérios problemas sociais num Brasil inculto;  e outros o retratam como um bandido cruel e assassino, que realmente atacou e matou gente inocente.

 

Então digam: não são um povo muito arretado como dizem no nordeste? Somente a história da resistência a Lampião ganhou um Memorial e Museu na cidade.

 Mas cá prá nós, a prefeitura precisa dar mais atenção ao local. 

“Os cangaceiros torturavam e degolavam gente inocente e mesmo assim eram vistos como heróis. Mossoró que tinha um nível cultural acima da média das cidades nordestinas, os cangaceiros eram malvistos, temidos e odiados”

Lampião e Maria Bonita também têm uma saga que fascina a todos que se interessam em conhecer fatos sobre a história do cangaço no nordeste.

Essas fotos ampliadas de Lampião e seu bando existem e foram aproveitadas para compor  no Memorial de Mossoró porque um destemido fotográfo, Benjamin Abrahão Botto fez um registro iconográfico do cangaço e de seu líder. Baile Perfumado é o filme que conta a história do fotógrafo.

Outra história que vale contar de Mossoró foi a do “Motim das Mulheres”, em 1875, quando 300 cidadãs mossoroenses saíram às ruas indignadas contra a obrigatoriedade do alistamento militar

“As mulheres protestaram contra a regulamentação do recrutamento do Exército e Armada pelo gabinete do Visconde do Rio Branco, durante o reinado de Dom Pedro Segundo. Utilizando panelas, frigideiras, conchas e colheres de pau, Ana Floriano e as mulheres foram até a Igreja Matriz de Santa Luzia e rasgaram os editais fixados no quadro de avisos. Em seguida, se dirigiram à casa do escrivão do juiz de Paz e tomaram e rasgaram o livro e os papéis relativos ao alistamento”. Fonte Prefeitura de Mossoró

Mossoró esta aí… Um surpresa como cidade que se impôs na história e no desenvolvimento econômico. Mas como todo país sub-desenvolvido numa terra de riquezas naturais exploráveis, quem explora são os poderosos (coronéis) e povo não tem direitos a melhorias na condição de vida. É uma pena que a igualdade social não existe mesmo em lugares como Mossoró, que é terra de subsolo rico em petróleo. Está na  hora de investir mais na cidade senhores políticos!