IMG_1363

Oliver Sacks já dizia que jardim e música fazem bem para a mente

Muita música e visitas a jardins são iniciativas vitais como ‘terapia’, não farmacêuticas, para pessoas com doenças neurológicas crônicas. A prescrição foi do médico neurologista Oliver Sacks ( 1933 – 2015) que sempre teve toda a licença poética para falar sobre o assunto. Sacks, além de médico era professor e também foi autor de vários ‘best-sellers’. Um médico dos homens e das almas.

Matéria originalmente publicada no site Brainpickingns

“Eu trabalho como um jardineiro”, escreveu o grande pintor Joan Miró em sua meditação sobre o ritmo adequado para o trabalho criativo. Não é por acaso que Virginia Woolf teve sua epifania eletrizante sobre o que significa ser um artista enquanto caminhava em meio aos canteiros de flores no jardim de St. Ives.

De fato, jardinagem – mesmo que seja apenas para estar em um jardim – é nada menos que um triunfo de resistência contra a raça impiedosa da vida moderna, tão compulsivamente focado na produtividade à custa da criatividade, da lucidez, da sanidade.

Um lembrete de que somos criaturas enredadas com a grande teia do ser, na qual, como o grande naturalista John Muir observou há muito tempo atrás, “quando tentamos descobrir qualquer coisa por si só, achamos que ela se atrelou a tudo o mais no universo”; um retorno ao que é mais nobre, o que significa mais natural em nós.

Há algo profundamente humanizador em ouvir o farfalhar de um folha recém-caída, em observar um amor de abelhas e zangões em uma flor, ajoelhando-se  na terra para fazer um buraco para uma muda, mover gentilmente uma minhoca assustada ou duas para fora do caminho . Walt Whitman sabia disso quando pesou o que faz a vida valer a pena quando ele convalesce de um derrame que o fez paralítico:

‘Depois de você ter esgotado o que há nos negócios, na política, no convívio, no amor e assim por diante – descobrimos que nenhum deles finalmente  nos  satisfaz tanto e nos usa permanentemente  – o que resta?  A natureza. Ela permanece para trazer para fora de seus recessos entorpecidos, as afinidades de um homem ou mulher com o ar livre, as árvores, os campos, as mudanças das estações – o sol de dia e as estrelas do céu à noite ”.

Oliver Sacks

Essas considerações fazem parte do ensaio escrito pelo neurologista e escritor Oliver Sacks (1933-2015) intitulado “Por que precisamos de um jardim” , que está no livro Everything in your Place: First. Loves and Last Tales. O livro não foi traduzido para o português e na versão em inglês pode ser encontrado na internet.

“Como escritor, considero os jardins essenciais para o processo criativo; Como médico, levo meus pacientes a jardins sempre que possível. Todos nós tivemos a experiência de vagar por um exuberante jardim ou por um deserto atemporal, andando junto a um rio ou oceano, ou escalando uma montanha e nos achando simultaneamente acalmados e revigorados, engajados na mente, refrescados em corpo e espírito. A importância desses estados fisiológicos na saúde individual e comunitária é fundamental e abrangente. Em quarenta anos de prática médica, descobri que apenas dois tipos de “terapia” não farmacêutica são de vital importância para pacientes com doenças neurológicas crônicas: músicas e jardins”.

Citando Oliver Sacks tratando de um assunto que parece óbvio, sobre o sentir-se bem dentro do um jardim e sobre a importância da música  na psique humana, foi exatamente para lembrar aos leitores de algo tão simples capaz de traçar um novo caminho para nós.

Dar-se o direito, de vez em quando, de perder-se no perfume e nas cores de um jardim ou no ritmo de uma boa música. 

 

 

Foto via site Exibart

Nudez censurada gera protesto. Até Botero violou as normas da web

O fotógrafo americano Spencer Tunick  reuniu 125 pessoas nuas perto da sede do Facebook, em Nova York. Protesto contra as restrições da rede social para fotos sobre nudez. Falando em censura vale aproveitar o espaço e contar que as obras de Botero deram o que falar para a editoria do PanHoramarte.

Pasmem!

Na página em que se trata da Inquietude Estética de Botero e o vazio no olhar foi proibido veicular anúncios da Google AdSense. A poética irônica e crítica do artista colombiano feriu a moral e os bons costumes de algum anunciante da AdWord (sistema utilizado pela Google para quem quer anunciar) que notificou o AdSense(sistema que paga pelos anúncios publicados em seu site), sobre violação de normas. O site recebeu um e-mail sobre violação de normas da política de veiculação de anúncios e os passos para regularizar a situação.

No painel do AdSense para o site, a matéria que violava as normas de veiculação de anúncios era a de Botero, segundo a Google, que continha imagens de conteúdo sexual ou moral . Achei que era a imagem de dois nus que constava na matéria. Fiz a correção e solicitei reavaliação. Para minha surpresa a resposta foi a seguinte:

 “página foi revisada mediante sua solicitação. Ela não estava em conformidade com as nossas políticas no momento da revisão. A veiculação de anúncios continuará restrita ou desativada nessa página”.

Como a restrição era somente para aquela página não fui adiante na pesquisa sobre as causas. Presumo que sejam as fotos de padres com feições ridicularizadas. Enfim, o fato de associar o caso ao protesto de Nova York apenas é para fortalecer a ideia de que não existe imoralidade na arte. Portanto, retornei com os nus e imaginei que o reclamante deveria ser um rígido beato religioso. Talvez…..

Spencer Tunick

O protesto de Tunick é pela censura praticadas pelo Instagram e Facebook contra fotos de seios femininos. Spencer Tunick é um fotógrafo americano que no passado agiu em favor da liberdade do corpo. Ele pagou por agir assim. Em 1994, o artista foi preso no Rockfeller Center, em Manhattan, enquanto estava retratando uma modelo completamente nua, posando ao lado de uma árvore de Natal.

“Mas o fotógrafo não desistiu, de fato, em 2000, ele ganhou uma ação contra o Estado de Nova York para encenar e legalmente e fotografar suas instalações em massa e imediatamente relançou em grandes números: 6 mil pessoas nuas na praça em Bogotá , em seguida, 7 mil em Barcelona e depois 18 mil na Cidade do México, o recorde alcançado.

Desta vez, o grupo de nus é mais restrito e mais feroz e pode contar com o apoio da Coalizão Nacional contra a Censura, bem como de um movimento que se tornou viral naquelas plataformas acusadas de censura, através da hashtag #wethenipple.

Vários artistas e ativistas de Nova York doaram generosamente imagens de seus mamilos à causa, incluindo Andres Serrano, o ator Adam Goldberg e o baterista do Red Hot Chili Peppers, Chad Smith. As imagens foram então ampliadas e atribuídas aos participantes na performance, com base no tom da pele e no tamanho da aréola, para cobrir / censurar polemicamente as partes em questão.

A censura dos nus, em particular os femininos, na verdade, é um tema espinhoso, principalmente porque as mídias sociais tornaram-se parte integrante da pesquisa e dos interesses artísticos, bem como das atividades cotidianas.

Ultimamente, o Facebook tem mostrado sinais de abertura e, além de ter implementado o algoritmo que gerencia os conteúdos controversos, também impulsionou seu programa de investimento no setor de arte, depois de ter tropeçado em casos bastante embaraçosos, como a censura em Vênus de Willendorf e o Julgamento de Paris, de Rubens, julgados demasiado indecisos pelo sistema de reconhecimento automático que, evidentemente, não deve ser muito irônico na arqueologia e na arte moderna, mas nem mesmo ao mesmo tempo, dado que também sofreu um erro com as fotografias de Marina. Abramovic.

“Estamos aqui para protestar contra as regras rígidas contra nudez e censura”, disse Tunick, sugerindo que o Facebook e o Instagram possam seguir o método usado pelo YouTube, que ativou “Um processo de verificação para artistas, uma plataforma que permite que eles compartilhem seu trabalho ». Na primavera passada, o Facebook publicou uma atualização que permitiu a publicação de imagens de pinturas e esculturas retratando assuntos nus, no entanto, o trabalho artístico dos fotógrafos continua vulnerável.

Nas diretrizes atualmente usadas pelo Facebook e pelo Instagram, os mamilos femininos só podem ser expostos em contextos muito específicos, como a amamentação ou para descrever as consequências das operações de mastectomia. A este estudo de caso também poderiam ser acrescentadas as motivações artísticas, embora seja óbvio que este contexto é mais nuançado e menos setorial, comparado ao médico”. Fonte: Exibart

2bM

Etiópia pede o retorno de tábuas sagradas mantidas no British Museum

A devolução de valiosas obras arte por parte de museus europeus, saqueadas em períodos de colonização e guerras, provoca discussões acaloradas. Verdadeiros tesouros arquelógicos, de valor histórico-artístico inestimável. O impasse agora é mais sério e envolve o British Museum. Trata-se de 11 tábuas sagradas ainda utilizadas em cerimônias religiosas na Etiópia.

A dúvida é sempre em relação a quem tem o direito pelo objeto, aquele que o mantém como uma espécie de alienação fiduciária, ou aquele de onde o objeto é originário.Uma matéria publicada recentemente no site The Artnewspaper , assinada por Alexander Herman, diretor assistente do Instituto de  Arte e Direito, expõe o caso do museu britânico e coloca mais ‘lenha da fogueira’.

Devolução onerosa

 “O Museu Britânico parece gostar de contar ao mundo suas restrições legais. Sempre que pretensos pretendentes se aproximam do museu em busca de restituição de um objeto da coleção, a resposta quase mecânica do museu é que seus curadores são impedidos de fazê-lo, mesmo que o desejem, devido às restrições onerosas à desativação de itens de coleção encontrados dentro do British Museum Act 1963.

Isso tem sido parte da resposta aos representantes gregos em relação às Esculturas do Partenon e, mais recentemente, à delegação de Rapa Nui (Ilha de Páscoa) que, emocionalmente, pediu para que a gigante moai entalhada retornasse a Ilha”.Fonte: The Artnewspaper.

Invisíveis

As tábuas sagradas (cristãs) simbolicamente representam a Arca da Aliança – citada na Bíblia.  Para igreja ortodoxa etíope, os textos sagrados não devem ser vistos por ninguém, salvo os sacerdotes. O Museu Britânico relaciona as tábuas no grupo de objetos ‘invisíveis’. Elas encontram-se mantidas, como confidenciais, em depósito lacrado, no próprio Museu. Nem o guardião da ala da África, Oceania e das Américas pôs o pés na sala ou muito menos viu os objetos.

Empréstimo

O empréstimo tem sido uma solução aceitável por ambas as partes e em alguns casos é a saída para o impasse. O diretor do museu britânico sugeriu o empréstimo das 11 tábuas a longo prazo, quando reuniu-se com a delegação e prometeu que a proposta seria encaminhada aos curadores.

“Mas no caso dos 11 tábuas, um empréstimo simplesmente não funciona. Estes são itens de grande importância para uma igreja ativa na Etiópia hoje. Eles foram levados em circunstâncias particularmente oprimidas durante uma invasão punitiva. Eles não estão servindo a nenhum propósito museológico ou acadêmico dentro da instituição e criam um obstáculo desnecessário para as autoridades da igreja que procuram venerá-los”. Alexander Herman

E o leitor já tem uma opinião formada sobre o assunto? Sem dúvida, complexo, sobretudo se considerarmos que muitas obras foram preservadas por estarem exatamente num museu. No entanto, é justa essa posse se os objetos foram saqueados ou até mesmo roubados em períodos de conflito?

Metamorfose de Narciso - Salvador Dali

Narciso e suas representações na arte

Em tempos de Selfie – autorretrato hoje facilitado  pela tecnologia – falar sobre narcisismo nunca perde a atualidade, especialmente quando a conexão é com a arte. O jovem Narciso da mitologia grega, hoje tão citado para exemplificar a vaidade destrutiva, estimulou artistas ao longo da história a representá-lo, cada qual com sua poética e época. Caravaggio, Salvador Dalí, Vik Muniz…

O artista brasileiro, Vik Muniz, em sua obra Narciso d’après Caravaggio – 1961, recria em fotografia, com material de sucata  (pneus, velhos, ferramentas, pedaços de madeira),  Narciso do artista italiano do século XVI. A obra de Muniz repaginando Caravaggio é visionária no que se refere ao significado da vaidade e da destruição do mundo. O homem moderno construído com sucata, o que significa imerso no lixo industrial mirando-se numa duvidosa beleza. Imaginem que ele o criou em 1961. De lá para cá, o planeta está agonizando de tanto lixo gerado pela tecnologia e o homem se achando o máximo do ser inventivo.

Caravaggio

Narciso atribuído a Caravaggio (1561-1610), cuja autoria é contestada por alguns especialistas em arte, foi descoberto por Roberto Longhi, que propôs a sua datação de 1590-1595, considerando-o, sem dúvida, um original, contra outros estudiosos eminentes, como Pevsener, Mahon, Baumgart, que consideraram um trabalho Gentileschi.

O mestre lombardo Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio, tornou-se famoso pelo jogo de luz e sombra em suas telas. Em Narciso, sem dúvida, a sua maestria é evidente. O belo Narciso emerge de um escuridão solitária e seu corpo e vestes recebem uma luminosidade fora do comum. A luz inebriante de seu corpo mal aparece no reflexo da água.

Eco e Narciso – John William Waterhouse – 1903

Dalí e Waterhouse

Ao contrário do contraste e da emoção de Caravaggio, o pintor britânico William Waterhouse (1849-1917) representou Narciso numa natureza colorida e bucólica. Tal como é a característica da época – o Realismo. Representar algo com o máximo de fidelidade e naturalismo. Waterhouse usa temas clássicos com um toque delicado e uma interpretação personalissima.  É possível identificar a dor de amor de Eco e a indiferença de Narciso em relação a ela.

Metamorfose de Narciso, de Salvador Dali ( feita em 1937 , foto de abertura), é um tratado de psicanálise do mestre do surrealismo. O tema retirado da mitologia clássica e transfigurado por Dalí numa tela surrealista é de complexa interpretação. Dizem  que foi uma das obras que mais representou o interesse de Dalí pela psicanálise. Era um grande admirador de Sigmund Freud. Das inúmeras histórias que circulam sobre as excentricidades de Dalí, contam que levou a pintura quando foi visitar Freud e que tinha preocupação pela sua personalidade narcisista, que só melhorou com a entrada de Gala em sua vida.

A história Narciso

Narciso era um herói grego famoso por sua beleza e orgulho. Diversas versões de seu mito sobreviveram e entre as mais famosas permanecem a de a de Ovídio, das suas Metamorfoses; a de Pausânias, do seu Guia para a Grécia (9.31.7).  As Metamorfoses narra a história de Narciso, cuja beleza foi motivo de sua própria ruína.

Narciso era tão belo que todas as pessoas que olhavam para ele, homens ou mulheres, apaixonaram-se por ele. Mas ele obstinadamente recusou toda a atenção. De sua insensibilidade e vaidade, diz-se que um dia ele deu uma espada a Aminio, um amante incurável dele, para que com ele tirasse a vida.

“E Aminio, por causa de seu Narciso, perfurou seu coração. Um dia, a ninfa Echo encontrou Narciso, que estava caçando na floresta, e ficou em êxtase. Mais tarde, quando Narciso estava caçando, ele se perdeu na floresta e pediu ajuda. Eco entrou correndo e ofereceu-se a ele como um presente de amor. Mas Narciso fugiu horrorizado.

Eco, desanimado, ele fugiu dolorido. Ele se refugiou na floresta, atormentado por sua paixão por Narciso, tanto que desistiu de viver e seu corpo enfraqueceu rapidamente até que desapareceu e apenas sua voz a deixou.

Os deuses então decidiram punir Narcisco por sua crueldade, confiando Nemesis, deusa da vingança, que fez questão de fazer Narciso se apaixonar, enquanto bebia de uma fonte, de sua imagem refletida na água.

Contemplem os olhos que parecem estrelas, contemplam os cabelos dignos de Baco e Apolo, e as bochechas lisas, os lábios escarlates, o pescoço de marfim, a brancura do rosto banhada de cor … Oh, quantos beijos inúteis ele deu na fonte enganando! … Ele ignorou o que ele viu, mas queimou por aquela imagem … ‘

Ovídio (Metamorfose).

Inconsciente de olhar para si mesmo, ele enviou beijos e carícias, mergulhando os braços na água para tocar o rosto, que desapareceu assim que ele tocou.

Narciso permaneceu por um longo tempo perto da fonte, tentando captar sua imagem refletida na água, alheio aos dias que passavam, esquecendo de beber e comer, perdidos naquele feitiço. E finalmente ele morreu perto da fonte. Quando os Naiads e as Dryads foram tomar seu corpo para colocá-lo na pira funerária, encontraram em seu lugar uma maravilhosa flor branca que tirou o nome de Narcissus dele.

‘Ele definhava por muito tempo em amor, não mais tocando comida ou bebida. Pouco a pouco a paixão o consumia, e um dia perto da primavera … ele inclinou a cabeça exausta na grama, e a morte fechou os olhos que estavam loucos. de amor por si mesmo … … dizimando as Dríades, e Echo respondeu aos gritos de tristeza, eles já haviam preparado o fogo, as tochas, o caixão, mas seu corpo não estava mais lá: eles encontraram onde uma flor havia estado de onde coração de recinto de açafrão de folhas brancas ‘

Ovídio (Metamorfose). Fonte: Fragnoli