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Como Roma eterna apresenta-se numa viagem para crianças

Todos concordam que é preciso muita criatividade para envolver crianças numa viagem cultural sobre história da antiguidade. Roma pode encantar crianças, sim, mas é preciso usar a criatividade para que a viagem não torne-se aborrecida.

Nada melhor que aproveitar situações lúdicas e inserir os monumentos históricos como cenário. Foi assim que funcionou em uma viagem com minhas netas para Roma, num calor de 40 graus na sombra. 

Catarina (12 anos) e Helena ( 8 anos) foram conhecer o Coliseu e, sem dúvida, a admiração foi grande pela ‘colossal’ construção.  Mas o lado lúdico do cenário para elas foi apreciar o monumento saboreando do alto da rua na lateral, com um delicioso sorvete italiano na mão e sentadas num cantinho que acharam na calçada, ao lado de um ‘nasone’ – bebedouro próprio de Roma, cuja a água é potável e geladinha sempre. Helena divertiu-se jogando água para refrescar cabeça, rosto e o ‘narigão’ como o chamou foi a solução para relaxar e não se irritar com o calor. Assim fui contando o que o ‘Colosseo’ representou na antiguidade. 

O Trastevere, por exemplo, ficamos poucas horas e não foram os bares e restaurantes iluminados que atraíram elas.  Eram secundários. O encantamento foi na pracinha, quase mágica. Pelo menos para vovó, que fez foto deixando ao fundo a Basilica de Santa Maria em Trastevere. As bolhas transparentes de sabão e as crianças deram um tom fora do tempo presente.

Entre ‘gelatti tutti giorni’ – sorvetes todos os dias -, muita pizza e macarrão ao pesto, tiramissú, leques para um ventinho agradável e um borifador de água, os passeios eram feitos com alegria. Essas dicas as animava a conhecer os lugares que a vovó indicava.

O que mais gostou em Roma? , perguntei a Catarina.

– Foi a Fontana di Trevi, respondeu ela. 

Piazza del Popolo em um calor de 40 graus. Mas o melhor do local é provar os deliciosos gelattos dei Grachi. Ali pertinho.

O lado mágico da mais famosa fonte italiana deixou as duas cheias de entusiasmo ao jogar as moedas. Não apenas uma… Várias fizeram parte do ritual!

O Museu de Cera foi a sensação para elas. É um museu pequeno , escondido e perto da Piazza Venezia valeu muito no roteiro.

Até a vovó entrou de novo no jogo. Catarina confidenciou que “desejo não vou contar, não!. Senão não dá certo”.

Meio Chinfrin para meu goste para elas ao contrário. A diversão foi brincar com os personagens. Catarina fez pose com Julio César. Acho que era ele...

A viagem estava prometida há mais de dois anos para Catarina, minha neta e a irmã mais nova, Helena,  quis acompanhar o tour. As meninas vivem em Portugal, portanto foi fácil organizar uma permanência de seis dias na ‘cidade eterna’. A ideia era de vivenciar história visitando os monumentos de Roma antiga, contando fatos sobre um dos mais importantes impérios da antiguidade. Catarina já há um ano estudava em um aplicativo no celular palavras em italiano. Arrivederci, grazie e prego foram as que mais repetiu durante nosso tour italiano. 

Entre a visita de um monumento a outro o mais gostoso  era experimentar muita pizza, macarrão e tiramissú. Aliás, a sobremesa tradicional italiana provamos em diversos restaurantes. No entanto, foi só uma delas que achamos mais parecida com a que o Dindo de Helena faz, o meu genro Leandro, que é uma delícia. Os sorvestes eram todos deliciosos. Mas os da Gelateria dei Grachi insuperáveis. Comentei para senhora que servia – “Hummm….gelato meraviglioso!”  A resposta foi simples e cheia de orgulho pelo seu produto: “meraviglioso e sano”. Ao destacar ‘sano’ foi para significar que não usam aditivos químicos. 

Fórum Romano – A visita foi realizada à e não dentro do Fórum. Fomos apreciá-lo à noite do alto, na Piazza del Campidoglio. Com aquela luz bruxuleante refletimos sobre o passado. “Aqui foi uma outra cidade há quase 3000 anos”, disse a elas. “Como queria viajar no tempo vovó e ver como era antes”, respondeu Catarina.

Adoraram a L’Erboresteria Antica. “A farmácia igual a de Harry Potter”, disseram. 

Sempre que vou a Roma vou visitar a farmácia que é uma verdadeira obra de arte e para comprar uns deliciosos chás com ervas de qualidade. Vale dar uma olhadinha neste vídeo viajar no tempo, no século XVI. Seus proprietários têm orgulho do local. 

Roma está um verdadeiro ‘canteiro de obras’, infelizmente!  A Piazza Navona tem suas três fontes inteiramente cobertas para restauração. Piazza Venezia assustadora com as escavações da nova linha de metrô. “Não é justo”, diria meu neto Pedro ( 4 anos), com indignação certamente. Faz isso quando acha que foi prejudicado. Pois é, neste afã de consertar tudo nem pensaram nos turistas neste verão de 2024. Todas obras estão sendo feitas para celebrar o Jubileu 2025, um evento sagrado do catolicismo que promete reunir peregrinos do mundo inteiro. 

Mas ‘insomma’ (resumindo) as meninas me surpreenderam pela disposição. Valeu e foi inesquecível e… anotem a dica, caso suas crianças não tenham o olhar de adulto para um fantástico monumento histórico e se interessem mais  pelas  bolinhas de sabão, faça como eu – sente-se na calçada e curta o momento. A viagem a Roma é algo único pelo cenário próprio que faz parte ao vivo e a cores de um livro de história de uma civilização que influenciou na construção do mundo moderno.

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Tributo a J.Borges, nosso mestre maior da xilogravura!

Sentimos aperto no coração ao saber que o artista, poeta, cordelista, gravurista J. Borges deixou este mundo físico para viver em outras esferas espirituais.

O consolo para aqueles que admiram as obras de um dos mais importantes xilogravuristas do Brasil, o pernambucano José Francisco Borges, é de ter a certeza que sua alma estará presente para sempre em suas obras e na história da cultura brasileira. Sua poética, tanto na poesia, literatura de cordel como nos temas de suas xilogravuras, soube capturar a identidade do povo brasileiro. 

J.Borges, como é mais conhecido, morreu nesta sexta-feira (26), aos 88 anos,  em Bezerros (PE), sua cidade natal. O mestre da xilogravura nos deixou poucas semanas depois da abertura da exposição O Sol do Sertão, no final de junho, no Museu do Pontal – Rio de Janeiro, a maior e a mais completa retrospectiva de sua trajetória como artista.

Dias antes a amiga e jornalista Vera Andrade, que vive no Rio de Janeiro me avisou sobre a mostra. “É linda”,  disse num recado via WhatsApp e para ter ideia me  enviou algumas fotos. A mostra permanecerá até março de 2025. 

 Os curadores  Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque, compactaram a trajetória de mais de 60 anos de carreira  em torno 150 obras, entre cordéis, xilogravuras, matrizes e vídeos produzidos especialmente para exposição.  

 

Foto por Vera Andrade - Museu do Pontal
Foto por Vera Andrade mostra O sol do sertão - Museu do Pontal

“J. Borges nasceu em 20 de dezembro de 1935, na cidade de Bezerros, em Pernambuco. No mesmo local, funciona o seu Memorial, um misto de ateliê e galeria, visitado diariamente por centenas de estudantes de diferentes regiões do Nordeste. 

Museu do Pontal Foto Vera Andrade

O artista, aos oito anos de idade já estava na lavoura, só frequentou a escola por dez meses, aos 12 anos. Na juventude chegou a trabalhar na construção civil, em usinas de açúcar, olarias e na produção de móveis de madeira, começou na arte vendendo e produzindo literatura de cordel (o primeiro folheto que publicou foi em 1964). 

Museu do Pontal - Foto Vera Andrade

Suas primeiras xilogravuras surgiram para ilustrar os cordéis que produzia e ganharam admiradores de peso, como o escritor Ariano Suassuna.

De lá para cá, a obra de J. Borges conquistou o mundo, integra coleções no Brasil e no exterior, já tendo realizado exposições na França, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Itália, Venezuela e Cuba. Tem vários prêmios, como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, o prêmio UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural e o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.”Fonte: Museu do Pontal

Museu do Pontal - Foto Vera Andrade

A primeira vez que ouvi o nome de J.Borges foi quando me deparei com a obra “Plantio de Girassóis” no apartamento de minha filha Paula. Em seguida, a outra filha Marcela, que trabalha com ilustração gráfica tratou de dar todo o currículo do mestre da xilogravura para a mãe.

“Entre no Instagram dele”, disse-me Paula, Memorial J. Borges. As cópias das xilogravuras têm um preço acessível e é possível um simples mortal adquirir. 

Não tive dúvidas… 

Num estado de encantamento ao visitar a página adquiri quatro gravuras, tal é a beleza dos temas, a criatividade e o colorido. Mas o apartamento é pequeno para muitas telas e uma delas, São Francisco do Sertão, foi colocada na entrada do condomínio. O santo católico abençoa a quem chega lá…

Foto por Vera Andrade - Museu do Pontal
Print do Memorial J.Borges, postado no Instagram.
Matriz da Sagrada Família, foto Vera Andrade/ Museu do Pontal

Em julho do ano passado, o presidente Lula presenteou ao Papa Francisco uma das versões da Sagrada Família, de J. Borges, por ocasião de sua visita ao Vaticano.

Oxente! J.Borges chegou no Vaticano, entre no link e conheça mais sobre a homenagem ao artista feito por Lula.

 

A Sagrada Família e São Francisco encerram nosso artigo porque manifestam o amor e a caridade. J.Borges expressou essas duas qualidades de forma magistral nessas duas obras e retratou com genialidade  temas que tratam da saga do nordestino como retirante, da alegria de um Forró, da exuberante natureza brasileira, da devoção, com aquele jeito único de poeta e cordelista, que se apaixonou pelo mundo e encantou a vida com cor e criatividade.

Não tive o privilégio de encontrá-lo fisicamente, o que não impede de ter a sensação de encontrar com sua alma quando observo suas obras. J.Borges não está mais entre nós, mas o que deixou como legado é um verdadeiro presente para a história da arte brasileira!

Renata 061

‘Fique com Deus’ tem a identidade brasileira

 

“Fique com Deus” tem a identidade brasileira. Já está patenteado na nacionalidade verde-amarelo. É cultural.

Me aponte quem nunca ouviu de um amigo, pai, mãe, vizinho, na despedida um sonoro “Fique com Deus ou Deus te acompanhe”, acompanhado de um abraço carinhoso.

Me dei conta do fato, quando entrei numa farmácia na Itália, no tempo em que estava estudando em Roma,  e conversa-vai- e-conversa- vem com a vendedora, contamos que éramos brasileiras – minha prima estava comigo.

– Ohh! exclamou a moça que nos atendia.  “Adoro os brasileiros”, disse com os olhos brilhando e em seguida disse Alessandra sorrindo “fiquê con Dio”, num italiano aportuguesado, orgulhosa por demonstrar que conhecia uma característica nossa.

Amor brasileiro

A versão com sotaque do  “Fique com Deus” era a doce lembrança de um amor brasileiro, que não vingou por causa da distância, embora tenha ficado como marca seu jeito terno de tratá-la quando se despedia dela.

Fique com Deus, ou Deus te acompanhe, vá com Deus, são expressões que fazem parte do nosso cotidiano e do nosso vocabulário brasilianês.

Uma outra amiga, bem humorada, fez a opção pelo Deus te acompanhe porque de acordo com a opinião dela, o ‘fique com Deus ou vá com Deus” dava a impressão de que alguém estava desejando uma boa estada lá no céu. Esse comentário fez quando, ao me despedir lhe desejei um “fique com Deus”.

– Nãoooo! Por favor, diga Deus te acompanhe. Não quero ir lá para cima agora, ria divertida.

Bem, é apenas uma forma de interpretar que ao me ver não influi na intenção de quem deseja o bem para nós. O fantástico disso tudo é perceber que cada povo tem uma forma de saudação ou despedida. Doce, amorosa, espiritual, seja qual for a mensagem,  representa a linguagem do inconsciente coletivo de uma comunidade.

Áustria

Há  mais de 20 anos, numa viagem em que fiz à Áustria, precisamente em Salsburgo, lembro até hoje uma saudação que me chamou atenção. Todos passavam e seriamente cumprimentavam com algo que significava como “Louvemos a Deus, ou Salve o Senhor!”. Embora não entenda o alemão, Gott, é Deus neste idioma, e exatamente esta  palavra eu percebia nitidamente no cumprimento. Perguntei em seguida o que significava para uma pessoa que falava português e entendia em alemão e confirmei que era uma saudação comum entre eles. Não sei se ainda continuam a se saudar desta forma ou se é um hábito do interior, em algumas regiões mais rurais, sei apenas que é acolhedor ser recebido por palavras espirituais numa cidade estrangeira.

Entendo também minha amiga italiana que memorizou com tanto carinho a saudação de seu amor brasileiro. Bendizer algo para nossos amigos e mesmo pessoas desconhecidas faz bem para ambos os lados. É singelo, simples e tão significativo!

Aliás, não tem nada de piegas,não!

As pessoas que saúdam  ou reverenciam um ser superior dão lição de humildade. Ser humilde não é ser pequeno e sem importância. A palavra umilità, segundo o dicionário italiano Devoto, deriva do latim,humilità, e significa uma virtude pela qual o homem reconhece seus próprios limites. Segundo o Aurélio, é uma virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza. Também, tanto o Aurélio quanto o Devoto definem outros significados,  como baixa condição social e submissão.

Da minha parte prefiro ficar com a definição de virtude. É mais poética e possivelmente a verdadeira raiz do significado latino. A outra que nos coloca para baixo, é uma deturpação da sociedade moderna… rsss…

Portanto, a expressão “fique com Deus” representa uma bela maneira de emanarmos para o nosso próximo, do fundo do nosso coração, a energia de proteção colocada nas mãos de uma força acima de nós…

sobretudo é um reconhecimento da nossa pequenez, nossa insignificância neste planeta e na condução dos acontecimentos.

  “Fique com Deus” leitor amigo que se envolveu na tramas sentimentais deste texto.

recortada

Complexo Cultural Rampa tem um potencial incrível e por que não decola?

O Complexo Cultural Rampa tem tudo para dar certo, mas está acanhado demais para um projeto que foi inaugurado a primeira vez em 2018 e exigiu R$ 7,6 milhões de investimento, e passou por uma segunda em 28 de janeiro de 2023 e precisa de mais dinheiro...

A condição de alçar voos num projeto poético que envolve arte, memória histórica, um pôr do sol belíssimo na Foz do Rio Potengi, em Natal, Rio Grande do Norte, ainda não decolou. As mais de 200 malas que fazem parte da instalação do artista plástico João Natal – obra de incrível apelo visual – apresentam-se ali perdidas, deixadas de lado neste embarque tumultuado, sem que  consigam decolar junto aos sonhos daqueles que acreditam na arte como meio de transformação social e que elaboraram um projeto que culturalmente irá acrescentar para Natal.

Perdoem-me pela metáfora!  

A maioria dos 382 comentários do Google exaltam a beleza do lugar e reclamam da falta de gente especializada em arte-educação, lanchonete e souvenirs. 

Banner institucional que consta no canal do Youtube do Complexo Cultural

A crítica é positiva e espero que sociedade e as esferas de governo nacional, estadual e municipal tirem do papel as ideais boas coloquem mais gás neste espaço com potencial incrível para população e turistas. O complexo está localizado numa das comunidades tradicionais e mais antigas de Natal, o Bairro dos Santos Reis. 

A impressão que tive ao visitá-lo foi de decepção. Esperava muito mais do que fotos do memorável encontro entre Rosevelt e Getulio Vargas, em 1943, do embarque de pracinhas para Itália na Segunda Guerra Mundial e alguns objetos que lembram os soldados FEB. Quando resolvi escrever sobre a Rampa comecei a pesquisar as notícias veiculadas percebi que a narrativa era outra. Quando li os comentários deixados no Google, apesar de elogiar a beleza do local, a maioria dos guias turísticos tem a mesma opinião que a minha. Falta sinalização para chegar, falta tudo que um museu com a pretensão poética da Rampa deveria funcionar e com certeza já tem idealizado no projeto cultural.

Ao me envolver com a história do Complexo Cultural Rampa visitando-o e pesquisando-o na internet, a partir de notícias oficiais ou divulgadas em jornais e sites, lembrei do episódio Novo Museu e Oscar Niemeyer em Curitiba. O primeiro inaugurado por Jaime Lerner e o segundo ( o mesmo espaço) inaugurado por Roberto Requião, que nutria um ódio rival por Lerner. A história foi até um tanto hilária, no resultado final foi Curitiba que ganhou um presente maravilhoso.

Leia a história neste link : Curitiba deu significado para arte em 15 anos

Em minha memória como jornalista que atuava na área de cultura da Agência de Notícias do Governo, a primeira inauguração, a do Novo Museu, antes de fechar o governo Jaime Lerner foi apoteótica e ousada em 2002 – quase no final do seu segundo mandato como governador.

Só para não perder o link da história e deixar registrada a fofoca: quem sucedeu Lerner, depois de dois mandatos, foi o governador eleito, Roberto Requião. Ele era arqui-inimigo de Lerner e fechou as portas do Novo Museu por quase um ano. Não por puritanismo, mas por brigas políticas entre dois que não vale a pena esmiuçar os detalhes sórdidos. O Novo Museu foi reaberto rebatizado de Museu Oscar Niemeyer sob o comando da esposa de Requião. Muita fofoca rolou… ops! Muitas histórias e tropeços e hoje o MON é referência no Brasil e ícone no Paraná.

Apenas vale o registro para mostrar como a arte periodicamente sofre ataques. A grande ameaça na época era que ninguém sabia se o espaço ia abrir como um museu. Informações da primeira inauguração foram apagadas não só da memória do povo curitibano, como também de qualquer arquivo público. Mas eu estou aqui para contar!

Agora voltando ao Complexo Cultural Rampa imagino o que aconteceu de 2018 para os nossos dias. A primeira inauguração, provavelmente a ‘toque de caixa’, foi no final do mandato do então governador Robson Faria (PL), 27 de dezembro. Ele entregou o cargo para Fátima Bezerra (PT) em 1º de janeiro de 2019. A inauguração era necessária, afinal foram repassados R$7,6 milhões pelo Ministério do Turismo.

Daí até 28 de janeiro de 2023 não tenho ideia dos bastidores e o porquê do fechamento das portas do recém inaugurado complexo. Inacabado talvez…..

No roteiro de notícias é possível vislumbrar matérias desde 2021 falando da reabertura e novas propostas. É certo que a pandemia em 2020 deixou todos em ‘stand by’. Até começar de novo, pós pandemia,  a segunda inauguração aconteceu o ano passado.  Pois é, ainda com o complexo incompleto exigindo talvez uma abertura necessária para que as ‘utopias’ saiam do papel e tornem-se realidade. 

Pelo que percebi o projeto de arte e cultura estava ou está ainda captando recursos pela Lei de Câmara Cascudo de renúncia fiscal. Pelo que foi divulgado algumas questões estavam em aberto, necessitando de  respostas à Promotoria de Justiça do Patrimônio Público no que se refere a dinheiro que deveria ser captado nas empresas em troca da renúncia fiscal. Para essa etapa, o projeto foi orçado em mais R$ 6,5 milhões. A notícia divulgada no jornal da cidade é datada de 2022.  Não achei mais nada sobre o assunto. 

 

“A gente traz o lajedo onde foram encontradas inscrições rupestres, onde homens e mulheres já se imaginavam voando porque é o centro da curadoria de todas as exposições. O verbo voar como dispositivo de observação de pássaros, como dispositivo de máquinas de vôo… aí entra o Augusto Severo, entra toda a parte das invenções, entra Natal na Segunda Guerra, entra Natal na Aeropostale. O outro dispositivo do voar é o sonho…”, explicou Gustavo Wanderley, produtor executivo do projeto Rampa Arte Museu Paisagem. Fonte: Tribuna do Norte

“Sala da Guerra: Natal, Encruzilhada do Mundo”. A sala, de estilo militar, expõe as fotos e objetos mais marcantes da época em que Natal foi palco da aliança com os EUA.

O acervo material é composto de uniformes militares usados no período, além de medalhas, capacetes, cantis e alguns documentos e fotografias. 

 
Replica do encontro num jipe militar entre os dois presidentes: Delano Rosevelt (EUA) e Getúlio Vargas (Brasil) em 1943

Omuseu conta a importância de Natal nos primórdios da aviação e da participação da cidade na Segunda Guerra Mundial, quando a capital Potiguar sediou a maior base aérea americana fora dos Estados Unidos. Na época, quase 20% da população natalense era composta por militares americanos que influenciaram a cultura e costumes locais.

 

Boeing 314 pousando no Rio Potengi trazendo a bordo o presidente dos Estados Unidos

A Rampa para hidroaviões no rio Potengi foi ponto obrigatório de parada dos aviadores que atravessavam o Atlântico Sul entre as décadas de 1920 a 1940.

A data de 29 de janeiro de 1943 é marcada na história de Natal pelo encontro entre o presidente americano durante a Segunda Guerra, Franklin Delano Roosevelt, e o presidente brasileiro Getúlio Vargas. Na ocasião, eles celebraram, na Rampa, a Conferência do Potengi, transformando o local em base militar americana e selando a participação do Brasil no conflito, que resultaria na vitória dos aliados contra as tropas dos Países do Eixo

Natal ficou conhecida como o Trampolim da Vitória, em razão dessa participação na Segunda Guerra pela sua posição estratégica.

Olhando essas duas fotos muito contrastantes, lembrei do que li esses dias de famoso(o nome não vem ao caso):  que em uma guerra os velhos decidem o destino dos jovens. Muitas vezes em jantares e encontros amigáveis. Esses jovens nem sempre voltam do campo de batalha. 

encontro entre Rosevelt e Getulio.
Soldados embarcando para a Italia

Depois do percurso pelas   fotos, documentos e objetos, que conta sobre a participação do Brasil e Natal na Segunda Guerra Mundial, o publico visita a  Sala da Paz. É uma sala de narrativas sobre o desejo de paz e frases de personagens famosos como John Lennon, Gandhi, entre outros. Em uma parede exposta está escrito que o espaço tem objetivo de “suscitar reflexão e conscientização sobre a importância da paz e como ela pode ser alcançada (não acredito)”. O visitante também pode ler textos como a Oração de São Francisco, entender sobre o quadro A Liberdade Guiando o Povo, do pintor Eugène Delacroix.

Será que o Complexo Cultural Rampa vai decolar? Certamente! 

Se existir vontade política, profissionais capacitados na área cultural e muito, mas muito estímulo para dar certo. Antes de qualquer coisa o Museu Rampa precisa ser administrado por uma pessoa especializada em administração de museus, alguém que possa organizar também exposições temporárias e eventos culturais que atraiam público, sobretudo nas artes visuais. Promover arte- educação principalmente com escolares, o que necessita também pessoas especializadas na área para conduzir. Os detalhes não podem ser deixados de lado, de uma lanchonete temática que todos os museus têm e lojas de lembranças que tenham o envolvimento com o tema voos, arte local e informação, boa sinalização para chegar ao local e até um ajardinamento de deixar todos deslumbrados com a colocação de espécies da região.

A árvore maravilhosa já está lá para que em silencio possamos escutar a frondosa figueira respirar!