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Cerimônia de Encantamento. Retorno ao Sagrado

Cerimônia de Encantamento vibrou nas esferas mais altas da emoção ao homenagear artistas que morreram vitimas do Clovid 19. 

Celebrou o retorno ao sagrado ao refinar os sentimentos da perda e da dor, transformando-os em narrativas poéticas plenas de saudades e compaixão.

Mostrou o lado mais  iluminado dos seres humanos ao exaltar a arte e enaltecer a solidariedade. 

A homenagem online às perdas de artistas pelo coronavírus feita por Sérgio Mamberti (ator), Mariana Iris (cantora),Amir Haddad (ator), Aurea Martins (cantora), Célio Turino (ator), Benjamin Taubkin (pianista), Osmar Prado (ator), Luciana Servulo (cultura), Leonardo Boff (filósofo), Paulo Berti (ator) entre outros convidados, acalentaram o coração de muitos brasileiros com as mensagens amorosas vinculadas as criações artísticas dos nomes que deixaram nosso convívio aqui na Terra. 

A iniciativa, em princípio, apesar de estar dirigida a Aldir Blanc, Neném da Portela Flávio Migliaccio, estendeu-se a mais artistas, como Sérgio Sant’Ana, Jesus Chediak, Palatnik e a todos os brasileiros e familiares que perderam entes queridos nesta pandemia.

 

Esta foi a mensagem mais importante da Cerimônia de Encantamento, a de lembrar que somos seres gregários que precisamos um do outro. Um encontro emocionante, sobretudo na mensagem de Leonardo Boff que lembra sobre a nossa condição de microcosmos dentro do macrocosmos, quando diz que é a oportunidade de vivermos um novo tempo, no qual a vida humana e próprio planeta possam ser mais valorizados e não o consumo. 

A celebração foi um bálsamo para brasileiros exaustos e no “limite de sua sensibilidade violentada pelo fecho de canalhices e imbecilidades”, como afirmou Osmar Prado. 

Que a Cerimônia de Encantamento abra caminhos para as pessoas  vibrarem de uma forma mais elevada de compaixão e olhar para o outro! 

Sweet, Dreams Baby! Roy Lichtenstein, 1966

Richard, o gringo

Ainda não sei porque fizemos aquilo com o Richard.

Roberto confessa, ademais, sua tristeza, uma tristeza que os anos só fazem engordar e doer, e lá se vão tantas décadas, mais de meio século, quando pensa nas palavras de Richard, banhadas em sangue e lágrimas, por que isso, Abrão?

Diz-me Roberto:

Richard era um menino americano que ainda tropeçava no português, daí, imagino, aquela quietude e distância que nós, colegas de sala, considerávamos soberba.

Talvez tenha sido o Chiquinho, diz-me Roberto, quem envenenara nossas relações com Richard. Veio com aquela história de soberba de gringo, soberba de ianque.

Roberto recorda-se de que foi se formando extensa antipatia, entre os colegas de sala, por Richard. E o gringo sempre calado, sempre à distância.

Abrão conta que foi Chiquinho a lhe sugerir que tomasse à frente uma vez que ele, Chiquinho, era demasiado franzino para enfrentar o gringo.

E assim as coisas se armaram.

Um dia frio e ensolarado aquele em que, afinal, Abrão, Chiquinho e dez ou doze outros atraíram Richard para um muro atrás do refeitório. Richard encostado no muro, os demais num semicírculo a seu redor. Os olhos azuis do gringo estalavam de susto, a pele rosada do rosto tornara-se ainda mais rubra. Diante de si, um pelotão de mal-encarados. Richard queria saber o que estava acontecendo, mas não teve tempo. Um murro de Abrão atingiu-o no olho esquerdo, em seguida no olho direito, rasgando o supercílio. Richard não caiu, mas cambaleou. Só quando Abrão acertou-o no queixo ele arriou. Sentado no chão e apoiado no muro. Quando outros avançaram para Richard, a menina alta e forte que era Sandra Mara pôs-se à frente.

Já chega, gritou.

Sweet, Dreams Baby! Roy Lichtenstein - 1966

Então viram o ianque chorar, o rosto ensanguentado, olhos embaçados fitando os colegas e pronunciando a frase súplice que os atormentariam para sempre, um gaguejo abafado, por que isso, Abrão?

Deixaram Richard com suas lágrimas, sangue e dores.

A inspetora que o resgatou, nem esperou por socorro. Em poucos minutos irrompia na sala de aula, amparando Richard, que caminhava com dificuldade.

Quem fez isso? – berrou a inspetora.

Silêncio.

Alguns olhinhos curiosos, outros assustados. Nenhum movimento, nenhuma resposta.

Quem fez isso? – repetiu, escandindo as palavras e fuzilando os alunos, ao lado a figura ensanguentada de Richard, cara inchada, cabeça baixa.

Então a inspetora voltou-se para ele:

Quem lhe fez isso, Richard?

E o gringo em silêncio, olhos voltados para o chão.

Richard, quem o atacou?

Ele ergueu a cabeça, o sangue ressequido sobre o inchaço do rosto. Olhou para a turma. Demorou-se em Abrão, Roberto e Chiquinho. Viu-os pálidos, assustados, pétreos em suas carteiras. E eles viram as lágrimas de Richard molharem o ressequido do sangue.

E então, Richard?

O menino ergueu as sobrancelhas, abriu um sorriso tímido e conformado.

Não sei, inspetora. Não consegui ver.

O ianque ainda caminhou lentamente, cabisbaixo, até sua carteira, nos fundos da sala, apanhou sua pasta. Antes de deixar a sala, parado na soleira da porta, voltou-se para a turma e novamente chorou.

Richard, o gringo, nunca mais voltou para a escola.

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Diálogos com a água

Uma silhueta feminina surge para quem enxerga além do jato d'água. É a Dama da água e foi com ela que tudo começou...

 

A foto foi captada em 2010, numa das fontes da Vila Borghese, em Roma, em um despretensioso clique para registrar a beleza do local. Com os recursos da tecnologia aproximei a imagem, escureci o entorno e a percebi melhor. 

A Dama da água estava ali bem visível e olhando meio de lado como se fosse pega de surpresa com a foto.  Ela foi o começo de inúmeras outras fotos feitas no local e nas fontes próximas sempre com o objetivo de criar imagens bruxuleantes tramadas nos jatos d’água, com a técnica do Fhotoshop.

Vila Borghese tem uma paisagem mágica circundada de uma vegetação luxuriante. 

Não fotografei somente essa fonte, como outras ao entorno em diferentes horas do dia. Foi um incrível delírio poético e dele surgiu a mostra online em 2011, Diálogos com a água. 

Vale a pena ver de novo e colocar a mostra em evidência num momento tão especial para humanidade.  

A arte me concede a licença poética de reverenciar o caráter sagrado da natureza delineando formas nos jatos d’água.

Uma experiência sensorial e espiritual que sugerem um mundo invisível  entremeado  na água cristalina. O diálogo existiu entre minha mente, por meio das lentes da câmera e a água que jorrava na fonte. 

Roma foi meu santuário particular! Ao meu olhar fiz fotos de anjos, elfos, duendes, fadas…

Cliquei sem parar na água que jorrava e que se movimentava em direção ao céu para depois buscar nela a surpresa das formas.  Com recursos tecnológicos do Fhotoshop aproximei as imagens em contraste com o fundo e acentuei os contornos fantasmagóricos tramados na água

A interpretação dos personagens depende da percepção sensorial. É como voltar a ser criança e buscar nas nuvens cortando o céu azul, as formas mais incríveis. 

É dar asas à imaginação e perceber que a cada ângulo e segundo do clique mudavam o jato que se lançava para cima mudava a performance. 

A fonte da Vila Borghese foi construída pelo homem, embora tenha também a contribuição da natureza. 

Ela está assentada numa rocha calcária onde água escorre num vai e vem sem fim. A água molda, esculpe e murmura num eterno ritmo a pedra dura em meio as heras que rastejam entre as saliências rochosas. Mais parece as entranhas da terra. Que imagem extraordinária!

 Mas precisamos também ir além da poética artística. Parar e pensar sobre a importância desse precioso líquido para a vida na terra.

É urgente uma mudança de comportamento para evitar a destruição da vida. Masaru Emoto (1943-2014), enquanto viveu,  conclamou o mundo a se comprometer com a proteção e saneamento da água no planeta.

Masaru Emoto foi um pesquisador japonês que fotografou os cristais d`água.Vamos formar uma corrente de adeptos ao seu projeto de amor e agradecimento pela água na terra.

A água que escorre do coração terra, esculpe formas formas na fonte mágica. 

celebra a vida!

Esta magnífica fonte situada às margens da rua que passa na lateral da Vila Borghese ainda está lá imponente lançando seus jatos d’água em direção ao céu!.

Mas a fonte Del Pincio que tinha acesso pela lateral da Piazza del Popolo está desativada. Pouco existe da exuberância captada pelas lentes entre 2010 a 2013.

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Guilherme Arantes

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Um olhar para além do olhar

Um olhar subjetivo que ultrapassa o objeto em si, que o transcende para captar novos significados, para atingir novas dimensões de beleza e graça, onde a realidade e a fantasia se misturam.

As crianças, na idade mais tenra, possuem o olhar de fantasia quase em termos absolutos. Mais tarde, o processo ensino/aprendizagem e outros fatores, se encarrega de subtrair dos pequenos esse componente mágico, conduzindo-os aos territórios da racionalidade.

Mas alguns resistem, e pela vida afora, carregam ao menos parte desse encantamento primevo. Os artistas nascem daí, dessa resistência, embora nem todos os que resistem sejam artistas.

Nota da editoria:  O  holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972)  merece destaque, sobretudo pela obra O Olho Mágico,  porque uniu arte e ciência. De muitas obras que desenvolveu, verdadeiros desafios à lógica, Escher mostrou as infinitas possibilidades do que significa o processo de imaginação e criatividade. O desenho está sobre uma superfície plana e é refletido em um espelho que se encontra em um ângulo de aproximadamente 75º do desenho. Sobre a pupila está um objeto em forma de cone que quando refletido no espelho reproduz a imagem de uma caveira. O olho mágico de Escher pode ter sido mais uma das várias obras que simplesmente impressiona com suas façanhas de ilusão de ótica.