Única rua da Aldeia - foto por Mari Weigert

Mata Pequena é aldeia reinventada para ter sabor dos ‘tempos idos’ em Portugal

A Aldeia Mata Pequena é um pequeno lugarejo perto de Lisboa que nos faz sentir-se vivendo no passado. Numa autêntica aldeia saloia.

Vejam só que descobri o termo “saloia” lendo sobre Mata Pequena, cujo significado da palavra em Lisboa, é quando se refere ao habitante natural das zonas rurais. 

Portanto, na Aldeia Mata Pequena existe apenas uma rua e 13 habitações típicas da zona rural do passado português, recuperadas há 20 anos, após uma pesquisa rigorosa feita por Diogo Batalha e sua companheira Ana – Diogo neto do oleiro José Franco. 

É um lugar bucólico, distante do burburinho das cidades, há 30 minutos de Lisboa e 15 minutos  de Mafra, que possibilita ao visitante fazer uma viagem no tempo. É um lugar reconhecido pelo setor turístico português em área natural. 

Para quem desejar conhecer existe a possibilidade de se hospedar no local ou em Mafra. Caso a estadia seja em Lisboa é possível fazer um passeio de ida e volta no mesmo dia. 

Mas aviso com antecedência que o preço da hospedagem na Aldeia é bem contemporâneo, nada que lembre o passado especialmente para brasileiros. A dica é se instalar em Mafra ou de Lisboa fazer o ida e volta. 

Também é importante lembrar que no local só existe um lugar para comer – a Tasquinha do Gil. São petiscos deliciosos que buscam manter as receitas originais e queijos, carnes e guloseimas tradicionais da região. Sem dúvida, caro para brasileiros. Mas vale experimentar muito gostoso. É bom marcar e reservar horário porque eles fecham também.

…Tradição saloia revive na Aldeia da Mata Pequena. Diogo Batalha herdou de seu avô, o conhecido ceramista e oleiro José Franco, a paixão pelas terras saloias. Uma paixão que o levou a fazer renascer uma aldeia esquecida do concelho de Mafra, num belíssimo exemplo de preservação da arquitectura regional…“, afirmou no seu programa televisivo, o Tempo e a Alma, José Hermano Saraiva. (fonte: oliraf)

Entre os montes e vales da região saloia, a Aldeia da Mata Pequena é um pequeno povoado rural com uma dúzia de habitações, onde ainda se vive em comunhão com a natureza e se respira pacatez e autenticidade.

A Aldeia da Mata Pequena, em plena Zona de Protecção Especial do Penedo do Lexim, no Concelho de Mafra, é caracterizada por ser um povoado rural de paredes caiadas e pavimento lajeado de pedra, com pouquíssimas habitações, todas elas rústicas e humildes. Ana e Diogo Batalha foram os responsáveis pela recuperação e preservação deste exemplo de Arquitectura Tradicional da Região Saloia. Entre montes e vales, a aldeia dispõe de algumas opções de alojamento e trilhos para caminhadas ou passeios de bicicleta. Fonte: Ericeira

Grutas ajustadas

Entranhas da terra nas Grutas de Mira de Aire em Portugal

Imagine-se numa viagem ao centro da Terra ao descer os 110 metros de profundidade nas Grutas de Mira de Aire, em Portugal.

O percurso oferece um espetáculo fora do comum de um mundo subterrâneo à parte. Um local, no qual a água fez o papel do artista ao esculpir formas na rocha calcária que abriu caminhos sinuosos moldou figuras de acordo com os caprichos naturais do tempo e da força da água. Estima-se milhões de anos neste trabalho ininterrupto de poética artística do universo, considerando os ossos petrificados de animais no local. 

Não é por menos que as Grutas de Mira de Aire foram eleitas uma das 7 maravilhas de Portugal. Também é a maior do país e está localizada bem pertinho de Fátima – 15 quilômetros.  É também uma bela inusitada peregrinação em comunhão com os mistérios do planeta Terra.

Esta acessível ao público apenas 600 metros delas, dos 11.500 metros que possuem em extensão e 230 metros de profundidade. Para descer os 110 metros visitáveis é preciso enfrentar 683 degraus. A subida depois é por elevador não se preocupem!

Confesso que não acreditei que seria capaz de descer, mas os portugueses deixaram tudo muito acessível e seguro até para turistas que têm medo de altura ( o meu caso) e de fácil acesso tanto para adultos como para  crianças.

A zona visitada é iluminada com três mil lâmpadas de várias cores. Até questionei a interferência do excesso de iluminação numa área tão natural comigo mesma. Mas pensem que é uma forma de mostrar às pessoas a força da natureza. E nesse lugar ela pulsa no barulho da água e na energia das rochas. 

É santuário também!

A temperatura interior é de 17 ºC, seja no verão ou no inverno. A principal galeria da gruta, chamada Galeria Grande, tem um desenvolvimento de mais de 10.000 metros com várias ramificações. Já a maior sala (a Sala Grande ou 1º Poço) tem enormes bancadas de calcário entre 10 e 30 metros de altura.  A foto mostra uma réplica de como  os homens que descobriram a gruta fizeram com cordas, a pulso em 1947.

São muitas as formações curiosas que existem no interior, como a “Cara da Velha”, uma rocha que faz lembrar uma pessoa idosa ou a “Cascata”, semelhante a uma cascata petrificada. Mas também há a “Alforreca”, que parece este animal, ou as “Esparguetes”, estalactites muito finas (e ocas) que foram assim batizadas pelos visitantes.

As Grutas estão localizadas a pouco mais de uma hora de Lisboa, no concelho de Porto de Mós

Foram descobertas quase por acaso, quando quatro habitantes da vila desceram até ao interior, em 1947, para procurar água. A notícia rapidamente se espalhou e, pouco tempo depois, chegaram os primeiros espeleólogos vindos de Lisboa.

A água no seu interminável ciclo, absorve grandes quantidades de dióxido de carbono quando atravessa a atmosfera e se condensa, para depois se precipitar novamente sobre a terra em forma de chuva.

Nas zonas calcárias quando chove estas águas, espalham-se nos terrenos em todas as direcções, ao sabor dos declives que vão encontrando, e escoam pelas fendas encontradas no calcário aumentando-as quer pela erosão mecânica natural, quer pela reacção química causada pela presença de dióxido de carbono…..Fonte: Grutas de Mira de Aire

Plastic PlanKton - Xandi  Kreuzeder e Monika Shulze. lixo de praia misto.

Da união arte mais surf resultou Skeleton Sea para expor o submundo dos oceanos

A obra 'Plastic Plankton', exposta no Oceanário de Lisboa, em Portugal, traz como poética a triste realidade que mundo produz seis vezes mais plástico do que os plancton nos oceanos. Anualmente.

Vejam um dado interessante:  plâncton se reproduz numa velocidade assustadora. Mas o uso do plástico está à frente. A conclusão é que a sociedade de consumo está sufocando a própria natureza viva.

A obra ‘Plastic Plankton’ é um alerta e faz parte de um movimento conjunto chamado Skeleton Sea, criado por três artistas europeus que gostam de surfar nas praias do mundo inteiro.

O português João Parrinha, o espanhol Luis de Dios e o alemão Xandi Kreuzeder resolveram juntos desenvolver um projeto de arte, que educa, conscientiza e estimula o respeito aos direitos humanos.

“Mantenha o oceano e as praias limpos”. é o slogan do grupo.

O Skeleton Sea foi tomando forma a partir de 2005,  por intermédio do três surfistas, e agora muitas obras compostas por destroços de naufrágios, lixo de praia, materiais em intemperismo biológico, fazem parte das esculturas criadas por eles. A mensagem principal é atrair o olhar do público para os oceanos e mostrar o que estamos fazendo com eles. 

Um exemplo é dragão monstro, a mais recente obra, criada em 2021 e que está exposta no lago fora no Oceanário. O monstro é todo feito de garrafas pet arrecadadas pelas eco-escolas e em uma rede de supermercado portuguesa. Tem 12 toneladas de garrafas de plástico e 50 metros de comprimento. O mote principal é: queremos continuar construindo monstros de plásticos que irão sufocar nossos mares? 

Bem diferente do dragão-marinho-folhoso , frágil e delicado, que nada nos mares da Austrália e corre o risco de extinção.

A sereia denominada Roxy Mermaid é obra de 2011 instalada em ao longo de vários dias durante o mundialmente famoso concurso de surf Roxy Pro em Biarritz, França. Construída principalmente com sandálias de praia descartadas e outros pedaços de lixo de praia diversos, a escultura Roxy Mermaid em tamanho real surgiu das rochas com vista para as ondas na Costa Basca, Espanha.

O Albatross Exhibitionist foi construído em Msambweni, na costa sul do Quênia. Este majestoso albatroz plastificado destaca os perigos que os plásticos descartados dos nossos oceanos e das nossas praias representam para as aves marinhas. Obra de João Parrinha e Xandi Kreuzeder. 2011.

Tragicamente, muitas aves marinhas são propensas a confundir plástico com comida e muitas vezes sofrem uma morte lenta e agonizante depois de consumir tudo, desde tampas de garrafas PET, sacos plásticos e peças de sandálias até isqueiros, canetas esferográficas e navalhas.Fonte: Skeleton Sea

Obra de Xandi Kreuzeder, feita em 2020. Lixo de praia misto, esfoliante de ferro e garrafas plásticas. 

“Evoluo além da destruição. Você cria, eu resisto. O que não te mata, torna-te mais forte”.

Xandi Kreuzeder nasceu em Munique, Alemanha, em 1962. É escultor, fotógrafo e artesão.

Depois de uma grande campanha em busca de chinelos na costa da cidade do Cabo, na África do Sul, e com ajuda de muitos amigos surfistas Xandi e João Parrinha, os autores da obra, conseguiram juntar 250 chinelos sem par que tinham vindo parar na praia. 

“É muito importante as pessoas darem seu contributo para proteger o meio ambiente, mesmo que seja só para apanhar algum lixo na praia. Quem sabe, se continuarmos nesse ritmo haverá mais chinelos do que peixes no oceano!”. Xandi.

Last Tuna – João Parrinha e Xandi Kreuzeder- ( latas de atum enferrujadas e aço) Oceanário. Memórias enlatadas. Será possível comprimir uma espécie inteira de peixes em latas? perguntam os artistas. Uma memória comovente e penosa, da nossa incapacidade de evitar o que no fundo é tragédia e evitável.

João Parrinha nasceu em Lisboa, Portugal, em 1961. É escultor, pintor e músico. 

 

 

 

 

Para encerrar o nosso artigo coloco o artista potiguar, Rafa Santos, que de forma objetiva e sem rodeios colocou claramente o que no fundo todos nós pensamos. Jogar lixo no mar é burrice total e também muito imundície porque estamos nos matando aos poucos. Nós e todas as gerações futuras. A Pandemia foi só um pequeno exemplo de que o planeta está doente!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entrevista dada a TV Esporte de Portugal. Skeleton Sea representados por João Parrinha e Xandi Kreuzeder. 

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Minha mulher parece uma artista II

'Minha mulher parece uma artista' foi a frase que ouvi de um italiano se referindo a sua esposa há alguns anos. A afirmação me surpreendeu porque ambos eram idosos, ele com 78 e ela com 81.

Hoje presto a minha homenagem ao casal que conseguiu preservar a admiração entre eles, ao longo dos anos. Depois de quase 60 anos de convivência comum, Humberto  fez a passagem e já não está mais ao lado de Francesca (os dois com nomes fictícios).  No entanto, sua história viverá para sempre.

Muitos Humbertos e Francescas certamente vivem anonimamente neste mundo para mostrarem que para o amor o olhar é sempre belo. Tão necessário contar histórias assim para uma sociedade  que valoriza tanto a aparência física e que faz apologia à juventude e culto ao corpo perfeito. Não a jovialidade de espírito, aquela que permanece criativa, estimulante e vibra com novos projetos e nos deixa jovem em energia física e mental. A apologia a que me refiro tristemente é a artificial produzida pela medicina estética, sem ética, mercenária. Longe de ir contra ela que faz reparos, que restaura e que melhora auto-estima das pessoas. Sou contra a medicina do exagero sustentada pela sociedade de consumo que deforma corpos.

Greta Garbo, atriz ícone das décadas de 20 a 30

Conheci Humberto e Francesca, um casal de italiano em 2010. Os dois são pais de Giorgio, o meu amor. Francesca sempre foi uma mulher vaidosa e elegante e me inspirei na sua personalidade vivaz para escrever uma crônica em 2015 e sempre acompanhei a trajetória deles. Francesca nos últimos sete anos passou sua vida dedicadamente cuidando de Humberto devido a problemas sérios de saúde provocados por um acidente de carro.

A eles reproduzo com carinho a história que valeu uma crônica.

Minha mulher parece uma artista’….

Assim falou Umberto alto e em bom tom, com aquela sonoridade na voz que faz vibrar as mais escondidas e profundas cavidades de nosso ouvido. A frase foi uma reação imediata, logo em seguida que demonstrei a ele minha admiração pela elegância de Francesca.

A entonação usada era tão firme e segura que não havia dúvidas sobre o fato de que ele considerava sua esposa uma mulher tão bela quanto uma artista.

Francesa vestia um longo esportivo preto,  acompanhado por um blazer branco para quebrar a cor escura e para dar um tom mais colorido, colocou como acessório uma flor de seda amarela no lado direito do paletó feminino, mais um colar de pérolas, longo, jogado displicentemente no pescoço, maquiagem delicada, cabelos em coque e um sorriso nos lábios. Ela sabia que encantava o seu pequeno público.

A cena foi tão espontânea naquele espaço de tempo em que Francesca surgiu na porta de sua casa que fiz uma exclamação de admiração e disse:  Que bela!

Umberto assentiu com a cabeça em sinal afirmativo, para em seguida dizer que para ele sua mulher parecia uma artista. Até este ponto da narração nada de incomum  quanto ao fato do marido achar a esposa muito bonita.

No entanto, neste caso, é muito significativo o contexto em que se insere o referido casal. Eles vivem há mais ou menos 50 anos juntos, o que certamente em idade nenhum dos dois tem  20 anos. Arriscamos 80 anos.

– ‘Mia moglie sembra un`artista’, repito a frase original dita para mim por aquele italiano alto, de porte majestoso e ao mesmo tempo extraordinariamente objetivo na constatação de que  sua mulher era carismática.

Afeto

A cena me impressionou tanto que até hoje me lembro do episódio e do casal com muito afeto, como duas pessoas que estão além do tempo. A firmeza nas palavras de Umberto, seu porte altivo (passou maior parte de sua vida como militar de carreira), e a jovialidade de Francesca,  me fizeram enxergá-los com um outro olhar.  Os gesto firme do italiano e a jovialidade  da mulher dele eram tão perfeitos, naqueles instantes mágicos, tão bem acabados quanto uma obra de arte.

Isso mesmo! Uma obra de arte.

Tem gente que não fica velho, apenas antigo. Assim são as obras de arte quanto mais antigas mais valiosas.

Provavelmente, Umberto e Francesca viveram sem grandes pretensões de transformar a vida num contos de fada, pelo contrário, enfrentaram os desafios do cotidiano como todo casal que vive um relacionamento duradouro.

Por isso, não vem ao caso associar um elogio ao sentimento que ele, o marido, nutre pela mulher. O objetivo em colocar como ponto de partida a frase de Umberto para este texto foi fazer uma viagem reflexiva sobre a magia do além tempo. Quase um tratado de Física Quântica, rsss…

Sim, sorrio! É ousado tentar escrever algo nada palpável. Na Física Quântica o objeto muda de acordo com a realidade. Imaginem vocês eu arriscando teorias no campo da Física!

No entanto, é maravilhosa essa condição de, numa fração segundos, captarmos a essência dos nossos mais preciosos e perfeitos conteúdos.

Neste momento lembrei do escritor Milan Kundera quando escreve em seu livro, Imortalidade, suas impressões sobre o encanto de um gesto feito por uma senhora de idade, pela leveza e o jeito gracioso com que acenou para seu professor de natação e como esse instantâneo de comportamento a transformou numa jovem de 20 anos, por segundos.

Jovem

De algum modo, Francesca  que não tinha mais 20 anos, revelou a essência de seu encanto na elegância do modo de vestir e na pureza do seu sorriso. Apresentou-se com o frescor da juventude. Bela como uma artista não somente para Umberto, mas para ela mesma porque sentia-se estimulada pela vida.

Concordo plenamente com Kundera quando diz que uma parte de todos nós vive além do tempo e que talvez só tomamos consciência de nossa idade em certos momentos excepcionais, sendo na maior parte do tempo, uns sem-idade.

Assim Francesca  naquele dia encantou Umberto e fez sentido à reflexão do escritor Milan Kundera.

“Graças a este gesto, no espaço de um segundo, uma essência de seu encanto, que não dependia do tempo, revelava-se e me encantava” .