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Salvem as benzedeiras!

É possível acreditar que existem anjos na Terra!

Existem, sim…

Basta visitar uma benzedeira para reconhecer que está diante de um verdadeiro anjo, exemplo de amor e caridade. Estas interessantes personagens tradicionais da cultura popular brasileira correm o risco de não existirem mais no futuro. A maioria tem mais de 80 anos.

Longe de se preocuparem com a alta do dólar ou o consumo exagerado do mundo moderno, elas passam horas e horas de seu dia benzendo bebês e pessoas contra mau-olhado, quebranto, inveja, retirando dores do corpo, curando machucaduras, peito aberto, osso quebrado, olho gordo, cobreiro e nossos mais íntimos lamentos…

A paulista Terezinha conta que recebeu esta missão divina de sua mãe e que quando era jovem não queria esta herança. “A gente não escolhe simplesmente recebe o sinal”, lembra que aconteceu logo depois que sua mãe faleceu.

Dona Carmem que vive no Tanguá, em Curitiba, também recebeu a missão de benzer depois que sua mãe morreu. Hoje ela está com 86 anos e não sabe se sua filha terá a mesma disposição de usar parte de seu tempo benzendo quem a procurar na sua casa, a qualquer hora do dia, sem cobrar um tostão. Carmem, já está curvada pelo tempo, tem a fala doce e dedos delicados que curam qualquer luxação ou nervo fora do lugar.

– “Conheço todas as enervações do corpo”, tagarelava ela, enquanto tratava de minha filha, que tinha uma dor incômoda ao lado, na cintura, que segundo diagnóstico médico era causada por uma costela solta no tórax. Para os especialistas, era um fato normal, meio osso e meio cartilagem, que em algumas pessoas incomodam e flutuam de um lado para outro sem solução prática, pois trata-se de uma disposição própria da anatomia do corpo.

Milagrosamente, nunca mais doeu e parou de flutuar a tal costela.

Pode?

No universo divino das benzedeiras tudo é possível…

Nenhuma mãe brasileira que se preze deixará de levar em uma benzedeira um bebê que se agita demais e não dorme à noite, depois de uma semana sem dormir. “Precisa tirar o quebranto”, dizem as mulheres sábias da antiguidade.

Todo mundo conhece a frase célebre: Ihhhh! Isso só cura com reza brava!

Assim faz dona Rosa, a senhorinha que atende nas segundas, quartas e sextas-feiras em sua casa nas imediações da rua Nilo Peçanha,em Curitiba, os bebês agitados e os adultos de coração aflito. Dá-lhe reza brava!

Nem de longe as pessoas imaginam que aquela senhora de estatura pequena, de olhos azuis perspicazes ( herança de avô europeu), de pele negra, teve 12 filhos e uma vida muito sofrida ao lado de um marido alcoólatra que a espancava quando bebia.

“Há 39 anos benzo as pessoas e recebi este dom por intuição”, conta ela em tom de orgulho.

Em nenhum momento demonstra impaciência e falta de vontade. Efetivamente, parece um anjo quando está em prece fervorosa sentada ao lado do altar de seus santos e madonas, buscando em sua reza a melhora de quem a procura. “Não cobro nada não”, diz. “Não posso cobrar o que Deus me deu de graça, se quiser me ajudar com alguma coisa para comprar velas para os meu santinhos e Nossa Senhora, aí tudo bem”, admite.

À domicílio

Por incrível que pareça, em pleno século XXI, as pessoas ainda procuram estes atendimentos tão tradicionais. Carmem, Rosa, Terezinha e outros anjos espalhados por este Brasil afora não têm quase tempo livre para suas atividades pessoais de tanta gente que atendem à domicílio.

Salvem as benzedeiras!….As velhas mães sábias e instintivas, que conectam sua alma com Deus e em união divina oferecem, com caridade, abnegação e amor, preces para diminuir a dor do seu próximo.

* O artigo foi escrito em 2012. A benzedeira Dona Carmem do Tanguá faleceu no final deste ano e não deixou substituta até o momento. Que Deus a conserve pertinho dele.

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Visitas guiadas à luz do luar

 

Para que complicar se dá para facilitar e ainda poetizar temperando o trivial com pitadas de lirismo.

“A visita guiada sob a luz do luar” ou então em italiano “visita guidada al chiaro di luna” , em Roma, é um exemplo típico de que o romano não se intimida com o calor de 40 graus durante o verão na cidade eterna e a mostra com as suas mais intrigantes histórias, durante a noite, em visitas guiadas por jovens graduados em história da arte e arqueologia.

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Via Giulia

Em uma delas, via Giulia, a jovem Michela Rosci, começa o passeio noturno entre conventos e pátios iluminados de uma das ruas mais belas, entre tantas, da cidade de Roma.  A proposta é da associação cultural de Roma e Lazio x te num programa para o verão.

Michela conduz o grupo de turistas a partir da ponte Sisto, no Lungotevere, numa viagem no tempo e mostra como foi construído e se desenvolveu o acesso viário concebido por Bramante pelo papa Giulio II, no início do século XVI.

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A região em que se percorre foi povoada por prósperos comerciantes judeus de Florença e nas paredes das casas, das igrejas, dos palacetes estão guardados os lamentos dos desfavorecidos e os segredos dos nobres senhores que habitaram por ali, como os Falconieri, Scchetti, Farnese, e a casa comprada pelo artista Raffaello, que morreu antes de habitá-la. Hoje, o local é ocupado, sobretudo por antiquários e restauradores de móveis.

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Entre as igrejas, a que era mantida por irmãs de caridade, aquela que oferecia um sepultamento digno para os miseráveis da época, se destaca pela morbidez de sua decoração. Outras visitas guiadas também são curiosas e mostram o passado de Roma, o fascínio do poder e da arte, como Roma Insólita e Secreta, Onde estão as mulheres de Roma (Valeria Messalina, Livia Drusilla, Artemisia Gentileschi o Cristina di Svezia). Os passeios pedem uma contribuição de 8 euros por pessoa e tem a duração, na maioria, de duas horas.

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Mercati Di Traiano e a história que o povo gosta de contar

Até o motorista de ônibus em Roma orgulha-se de contar fatos da história antiga da cidade eterna.

Colocar no roteiro turístico a visita ao Mercati Di Traiano, em Roma, onde hoje funciona o Museu dos Fóruns Imperiais, e ter a sorte de pedir informações a Francesco Carlini( motorista de ônibus urbano),  a visita terá muito mais significado.

Num breve bate-papo descobrirá  que as ruínas tem detalhes que não estão nos folhetos turísticos ou em catálogos formais. Tem lendas que são histórias que o povo gosta de contar, aquela que passa de boca em boca e fará com que o roteiro se torne bem mais interessante.

Quer saber mais?

“Você quer ir ao Mercati Di Traiano me acompanhe, é o ônibus que dirijo”, disse ele. “Quer saber por que foi construído e como?

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Quem não quer saber!

Francesco, com olhos brilhando de empolgação, entre uma parada e outra e atenção cuidadosa ao trânsito, contou que Traiano ao conquistar o reino da Dacia (101 a 102), hoje Romenia, descobriu que o rei inimigo escondeu todo o ouro e a prata de seu reino no leito do rio Danúbio.

“O imperador Traiano achou este tesouro e construiu todo esse complexo aqui, a igreja e essa colossal coluna, contando a história de suas guerras”, aponta Francesco para o monumento ao lado de sua janela e avisa que é este o ponto para começar o roteiro turístico.

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As ruínas do complexo monumental chamado Mercados de Traiano foram descobertas entre os anos 1926 a 1934. Era um centro com diversas funcionalidades, construído para as atividades administrativas do imperador. O Museu dos Fóruns Imperiais que funciona no local foi inaugurado em 2007 e se constitui no primeiro museu de arquitetura antiga e mostra parte da decoração arquitetônica dos Fóruns, obtida com fragmentos originais e moldes em pedra.

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Olhar crítico

Vale visitar o espaço cultural e aproveitar para viajar no tempo. Citar a história repassada por Francesco, num breve relado, teve a intenção de mostrar que numa viagem turística a riqueza de experiências e conhecimentos fazem o roteiro ter um novo sabor. Mesmo sendo contada por um homem simples, embora bem educado.  Francesco sabe valorizar o patrimônio cultural de sua terra.

O fato do imperador Traiano (53d.C – 117 d.C) descobrir a riqueza  no leito de um rio, apesar dos inimigos terem escondido, para Francesco é algo fantástico e para o turista, talvez, trouxe uma pitada de tempero para acrescentar nesse percurso que voltou atrás no tempo e trouxe mais conteúdo ao que restou de um passado muito remoto.

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“Navigare necesse est, vivere non est necesse”

St. Augustine used to say that “Life is a book and those who don’t travel only read the first page.” Today, maybe I can say that he was quite right.

After so many years on the road,  I really  think there is nothing better in life to travel. By plane, by car, bus … with a book, a movie … a song … Traveling with thought, learning, or in real, opening-minds.

I’m glad to see that, currently travel has becoming more affordable than before, and catch a plane to Europe, Asia, Africa is not as unthinkable as before.

I am also glad when I see more and more people spending more on travel than anything else. We enjoy “Before”, with the planning, “During”, when we are living and discovering places and “After”, with memories and the stories to tell.

I love talking to friends about travel; we always have something to tell: we always have something to share. I remember when my brother and his girlfriend took a sabbatical year to do a backpacking trip in Asia. He sent us a weekly email telling the stories and adventures, and every time we read what he wrote, seemed like we were there with them.

On the other hand, I can also say that it had been 10 years when I took my sabbatical year. And I liked it so much that I haven’t found the way home. Or better: I just expanding it. I have lived in 4 different countries and the truth is that once you start you never stopped it again. I want to live even in a few more. And if possible I want to see the world.

imagem_2After spending so much time away from home, my priorities have changed completely. I don’t have anymore certain fears, insecurities that many people can have. I don’t dream with a house, or a car of the year. Of course I look for stability and some comfort, but I found that this is more mental than we think.

And that insecurity that I used to have now is more a dry seed on my garden. I don’t spent no more time in the fears of the uncertain, because it is an irrelevant fear: the uncertain always comes. Nobody is really sure of what will happen. The security that people buy is more illusory than it seems. Nothing and no one guarantees what is going to happen tomorrow. Neither your money, nor your house, nor your car or your life insurance.

My first years out of Brazil taught me to face those fears and to live with less. Difficult thing inb a consumer country like Spain or Brazil, where every moment companies and people are encouraging you to buy or to spend. And the truth is, on the last years, what I bought (the bag, mobiles, etc) can’t be compared with the courses and the trips I did. I started saving to study and to travel. My basic needs have become other and I  began to open my mind to the world, in the opposite direction of many people around me.

And the truth is that I don’t remember about the pants, or the shoes or the bag that I bought. And also what I didn’t buy. But I still remembering the trips I  have done and the moments that I have  lived. Friends, family, Christmas  together; a trip to Mexico with my brother; Russia with my husband. I remember about the courses I’ve invested and what I learned from them. I remember 10 times on stories and novels I’ve read. And I cry, laugh, and entertain myself with those kinds of memories: they are the greatest proof that I am enjoying life 100%..

I don`t intent to write this as a moral lesson to anyone. In fact I need to hear my own voice to notice that I also unlearned certain concepts that instability taught me. And after living so long time in a country with a certain status quo, the truth is I need to travel again and see what I can learn and relearn again in this World.
After the fear, comes the World.

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**”Navigare necesse est, vivere non est necesse” – Fernando Pessoa