o sonho

O Sonho

“Nos encontraremos
Como se encontram as gaivotas e o mar…
De repente as gaivotas vão partir,
Nós nos abandonaremos
Como as ondas se distanciando do mar”
Tagore

Se eu tivesse achado você num cemitério que até pareceria abrigar uma multidão ou, então, na solidão do último dia do mundo…Se tivesse desejado encontrar com você na cabeça de um deus da montanha Nemrut ,que se murchou por causa de uma tristeza vivenciada há 3 mil anos, ou em cima da escultura da cabeça de uma deusa, desmoronada por causa do sol e da chuva.. eu teria desejado fazer amor com você, para depois sorrirmos e sentirmos melancolia…

Queria ser um morador de rua que nada tem e tem tudo, morar na mesma rua que você, ser digno e nunca dócil, ter uma doença sem remédio como um grande amor não correspondido, viver nessa pobreza mas ,ainda assim, ter vaidade como se fosse feito com bronze e, com minha parte mais humana, simplesmente destruir a cidade com meu amor.

Queria ser desesperado como Prometheus que fez crescer o fogo, ou triste como Aquiles que foi derrubado pelo calcanhar. Queria caminhar atrás da sua imagem, ao lado de um canal, com pequenos passos e sem conseguir suicidar.

Se sua sombra participasse da minha sombra, não sumiria na escuridão negra. Se eu fosse José, abandonado pelos irmãos num poço de água profundo para morrer, quando olhasse para cima, do fundo do poço, queria ver a sua silueta.

Queria ser um deus que odeia criar e um humano que odeia ser criado.
Se eu me purificasse, depois de um grande sofrimento pelo meu amor, queria me descobrir no deserto da rota da seda, como o grande amante Mecnun.

Se eu desaparecesse nas rugas finas da sua testa, ficaria com ciúmes de você como se fosse uma deusa do Olimpo.

Se me afastasse de você milhares de quilômetros, acreditaria que todos os estranhos que encontrasse seriam você. Queria multiplicar sua imagem na minha imaginação.

Se subisse até você, nos seus cabelos compridos como Rapunzel, ficaria muito feliz. Se fosse um sobrevivente de uma ilha que nem no mapa existe, esperaria por você lá até morrer ou se um primeiro navio me achasse, não desejaria sair da ilha nele, se você não estivesse ali.

Se amasse você até o infinito, talvez eu freiasse meu amor por medo dele acabar rápido, porque sei que o que cresce rápido da mesma forma termina. Se fosse o grande Dervishe Yunus Emre, que sofreu tanto, quando achasse você, pensaria que tenho que procurar sem achar, continuaria andando para frente.

 

Erol Anar
“Amor e Solidão”

Comments are closed.