15

“Brasil Chinês” em segunda edição com novas descobertas

Semelhança entre símbolos taoistas e dos índios americanos
Comparação entre símbolos ameríndios com os usados pelos chineses taoistas.

Entrevista encaminhada à imprensa sobre novas descobertas na história, que serão inseridas na segunda edição do meu livro Brasil Chinês”.

Professor, soubemos que o senhor está reescrevendo seu livro ‘Brasil Chinês’ que trata da chegada dos chineses na América, no século V d.C., alterando os genes dos índios, mudando sua cultura  e deixando todos de olhinhos puxadinhos e com cara de orientais.

Meu livro é de 2009 e, de lá para cá, mudou muita coisa. Por exemplo, diziam que os mongólicos entraram pelo Estreito de Bering colonizando a América. Hoje se sabe que a teoria desta ponte seca é furada e que este caminho nunca existiu. Aliás, naquele primeiro livro eu já dizia isto e num tempo que todos acreditavam nesta lorota nunca comprovada.

Então, como e quando os chineses chegaram à América?

Cravo no quinto século depois de Cristo! Houve uma grande expedição chinesa que se lançou ao Oceano Pacífico, com cerca de 10.000 marinheiros e aproximadamente 100 navios, foi levada pelas correntes do Pacífico Norte até a Meso-América (região do México). Como um caminhão de mudança que vai derrubando as peças pelo caminho, esta expedição também deixou assentamentos ao longo da costa oeste dos Estados Unidos. Por isto aquela história mostrada nos filmes de caubóis contra os brancos na conquista do oeste.

Existe alguma evidência desta expedição, principalmente na China?

Sim, mas é meio complicado explicar tudo isto com poucas palavras. Na realidade houve uma revolta geral da armada chinesa que estava estacionada ao longo do Rio Yangtze para defesa do sul da China. Como eles não podiam fugir nem para o norte por causa de seus inimigos bárbaros e nem para o sul contra os quais estavam se rebelando, lançaram-se ao oceano para um lugar o mais longínquo possível. Deu no que deu e assim, chegaram à América.

Mas já existem muitas teorias sobre esta vinda de chineses e em diferentes tempos. Li alguma coisa de um escritor inglês…

Mr. Gavin Mensies, no livro “1421 – O Ano que a China Descobriu o Mundo”. Lá ele diz que o almirante Zengh He com uma grande esquadra fez cinco viagens, principalmente à Índia, tendo chegado às costas orientais da África. Numa suposta sexta viagem, teria passado pelo Estreito de Magalhães e contornado a América pelo Pacífico.

Então, qual o problema?

Para a chinezação dos índios americanos é tese furada. Em primeiro lugar, 1421 é muito perto da chegada dos europeus, portanto sem tempo para espalhar o gene chinês para todos os índios americanos. Depois, uma viagem de circum-navegação não iria fazer o milagre de que todos os índios da América virassem chineses.

Interessante, mas o professor tem alguma evidência ou prova do que está dizendo?

Claro, em primeiro lugar sei um pouco mais do que os outros pesquisadores: nossos índios chineses eram neotaoistas… Isto é, veneravam Tao (o caminho).

Como descobriu isto?

Através de documentos antigos comprados numa loja de coleções de Curitiba… Nele, um viajante francês chamado dês Genettes, em 1836  visitou uma aldeia de índios coropós – no nordeste de Minas Gerais –  ainda virgem da presença dos brancos e ouviu de uma indiazinha a palavra Tao para significar Deus. Com esta informação – de que os índios eram taoistas – foi só pesquisar usando este caminho.

E chegou no que?

Na prova de minha tese. Descobri que todos os nossos índios, além da aparência chinesa, também acreditavam na ‘transmigração das almas’, um fundamento colado na religião taoista, que só foi incorporado a ela na China, na metade do século III d.C.. Por isto usei o termo neotaoista porque antes disto os chineses só tinham os ensinamentos filosófico-éticos do Tao, e, portanto, não era uma religião.

Não é meio confuso?

É complicado e por isto que estou reescrevendo meu livro. Mas o fato dos índios professarem os fundamentos da religião taoista é fundamental para explicar minha tese porque esta gigantesca expedição não podia chegar à América antes ou depois do século III.

Está bom, os chineses chegaram no México, mas como se espalharam por todos os lugares americanos?

Num primeiro momento, os milhares de marinheiros (masculinos) se imiscuíram com as índias e com o tempo, migraram para outros lugares como ao longo do rio Amazonas (marajoaras e tapajoaras) e aos Andes (Incas). Alguns se embrenharam na selva, lutando uns contra outros, tornando-se nômades e selvagens… Tiveram dez séculos para fazer tudo isto até a chegada dos europeus.

E quando sai seu livro?

Está no forno, que dizer, para logo.

 

foto4

Nossos índios chineses

O texto refere-se a novas descobertas feitas por mim sobre a tese de que os ancestrais dos índios da América são  chineses

Afirmação: os índios americanos pré-colombianos (paleoíndios) receberam uma carga genética dos chineses como consta de seus genomas. Comprova seu biótipo de olhinhos puxados. Esses chineses provieram do leste e nordeste da China. Provo no meu livro Brasil Chinês de 2009 (esgotado) que uma grande expedição chinesa chegou à América no século V d.C.

foto1

ORIGEM DE MINHA TESE

Em 1836 um viajante francês chamado Raymundo Henrique dês Genettes descreveu no seu diário um encontro com uma tribo isolada de índios coropós – ainda sem a ‘contaminação’ pelos brancos – nas nascentes do rio Manhuaçu (Mg).

(comprei seu diário manuscrito, original e inédito em Curitiba, numa casa de coleções)

Vejam o que ele escreveu:

“Durante os poucos dias que estive com os coropós encontrei os seguintes vislumbres de religião: acreditam num espírito bom que chamam de Araia e num mau que chamam de Entzone. (o Yang e o Yin taoista)

Uma exclamação, porém, escapada de uma indiazinha vem me confundir:

-Tao!

Ignoro seu significado e indago o coropó civilizado que me acompanha. Então meu guia com olhar misterioso responde:

– Tao tubinski… Tao é deus e tubinski é trovão.”

Mais adiante ele continua:

“Fico absorto, três letras puseram fora de mim. Tao para os chineses é o nome venerado de Deus, o Jeová dos Judeus, o Teseu do sânscrito, e antes o Zeus e Theos dos gregos… Duas palavras primitivas voaram nas asas do vento, através do Pacífico, sobrepujaram os Andes e vieram se abater sobre as florestas do continente? Impossível! A explicação que encontro é a de que houve uma ligação através de tantos séculos que se prende às raças asiáticas…”

OS ÍNDIOS AMERICANOS ERAM TAOISTAS!

Pegando o mote de dês Genettes foi pesquisar. Descobri que nossos índios chineses tinham um taoísmo diferente, que acreditavam na transmigração das almas, culto aos antepassados, na cremação dos mortos, no deus dual (um para o bem e outro para o mal), etc.

(Antes do século III d.C. o taoísmo era somente uma filosofia de vida e não, uma religião)

Dês Genettes confirma isto na observação dos índios coropós:

“Os coropós acreditam na transmigração da alma, outra crença vinda da Ásia”.

Este novo taoísmo é um marcador temporal da influência chinesa nos índios.

Outros trechos do diário de dês Genettes:

“O coropó é bem feito de corpo, mas seu abdômen é proeminente, a tíbia e o perônio descem formando um ângulo reto com a planta do pé, o que dá ao índio a aparência de um quadrúmano em pé, porém, seu busto é admirável, o tórax bem desenvolvido. Os braços nervosos, o pescoço fornido, a cabeça bem levantada sobre esse tronco, os olhos vivos, inteligentes e um pouco melancólicos, as orelhas são proporcionais e o rosto aproxima-se muito ao rosto de um chim.”

 

fotshopO Destaque do índio puri da gravura ‘a dança dos puris’ – expedição 1810 Spix-Martius)

Os puris, colorados e coropós formavam uma única etnia

O BUDISMO NA CHINA

Até o século I d.C. os chineses não tinham religião, só os conceitos éticos e filosóficos de um taoísmo puro (e confucionismo também). Nesse tempo, o budismo foi importado da Índia como uma avalanche que preencheu um vácuo cultural dando uma religião para os chineses.

Com o budismo, os conceitos hindus invadiram o pensamento religioso dos chineses.

No século III d.C. finalmente o taoísmo adotou esses ensinamentos hindus e passou a ser uma religião.

Esta religião (com conceitos hindus) que nossos índios pré-colombianos tinham e que o cristianismo dos portugueses aniquilou! Veja na descoberta que fizemos uma tanga cerimonial marajoara (pré-colombiana) com o símbolo da deusa hindu Ganesha:

foto3

A datação da cerâmica marajoara também é um forte indício (de 400 a 1.350 anos d.C.) já que antes disto, os índios produziam uma cerâmica tosca e sem nenhuma arte. A chegada dos chineses –ou descendentes- mudou isto e milagrosamente as peças passaram a ser produzidas com muita arte e criando até uma linguagem própria.)

Agora com os maias:

Ou a imagem maia do deus Chaac (da chuva)

foto4

Ora, os Maias não conheciam o elefante, mas tinham uma memória residual de um deus com tromba!

Voltando à cerâmica marajoara, veja os taoties, uma figura mitológica chinesa (que engolia as almas) presente nas duas culturas (americana e chinesa)

foto5(orelha de meu livro)

OS GEOGLIFOS:

Não dizem que os geoglifos são indecifráveis? Olhando-se esses grandes desenhos feitos sobre (geralmente) desertos e adotando este ponto de vista (influência chinesa) resolve-se o problema. A intenção dos índios eram conversar com os espíritos de uma maneira que só eles e os espíritos tinham conhecimento. Então desenhavam animais enormes (porque eram eles – os animais – os incorporadores da alma dos falecidos através da transmigração das almas).

6

Os chineses até hoje sobem às montanhas para orar pelos seus antepassados. E queimam papeis com imagens de bens (carro, geladeira e até dinheiro) para manda-los para seus espíritos.

Os Nazcas desenharam muitas espirais como a da cauda do macaco. Note que a espiral não é somente uma linha que se enrola, mas é complexa, de duas linhas separando duas regiões, a de dentro da espiral e a de fora (como na cauda do macaco). Isto acontece porque assim eles estão pedindo chuva, associando este desenho ao ascesso dos aquedutos em forma de espiral.

7

(Aqueduto de Cantalloc  dos Nazcas– que dá acesso à agua através de uma espiral). Note que ela é construída com linhas duplas, isto é, não é uma linha simples enrolada. É a prova da origem das espirais pedidores de chuva dos geoglifos que os índios Nazcas fizeram)

O pedido por água é um assunto recorrente entre o povo Nazca. Outros geoglifos Nazcas reproduzem a imagem de plantas aquáticas, peixes, animais marinhos, etc. No alto das montanhas andinas acharam-se restos de oferendas aos deuses ligadas ao pedido de água: seixos rolados em rios, carapaças de moluscos, etc.

(As montanhas são sagradas tanto para os índios como para os chineses)

GEOGLIFOS DEFINITIVOS

O que dizer deste geoglifo abaixo? Foi desenhado por índios pré-colombianos e representa o ideograma chinês sang (árvore). Está localizado nas montanhas da península de Paracas no hoje Peru. É contra capa de meu livro:

8O TRIDENTE DO BEM – A PROVA DEFINITIVA

Um geoglifo recentemente descoberto (pela Nasa) tem especial importância neste nosso estudo porque é a PROVA DEFINITIVA da tese do autor. Trata-se de um geoglifo marcado no deserto de Blyte pelos ancestrais dos índios que vivem ao longo do Rio Colorado nos Estados Unidos. Tal como os Nazcas eles removiam a camada superficial expondo a terra de cor diferente.

É um shan (montanha) perfeito, isto é, um ideograma chinês que significa ‘montanha’.

O importante é que ele foi desenhado no solo num estilo que só perdurou na China do século V em diante, só perdurou certo tempo e chama-se Kaishu. Este detalhe permite datar a intervenção chinesa nos paleoíndios americanos século V d.C., tal como minha tese defende.

9

OS GEOGLIFOS BRASILEIROS

Existem geoglifos no noroeste do Brasil, os famosos geoglifos do Acre feitos no chão cultivável (fora do deserto) geralmente na forma de círculos e quadrados. O que significam?

10

Geoglifos do Acre: Ora, para os chineses o círculo representa o céu e o quadrado, a terra. Portanto só considerando a intervenção chinesa é que se tem alguma explicação para estas formas.

Em 1950 quando se descobriu a múmia do rei K’inich Janaab Pakal no coração da sua pirâmide maia constatou-se que tinha uma peça de jade na boca, e na sua mão esquerda um globo e na direita, um pequeno quadrado, todos feitos de jade.

11

Também o jade é uma manifestação chinesa sobre os indios. Com ele, cujas jazidas existiam mas eram raras, os índios americanos fizeram os muiraquitãs, principalmente em forma de râ. Os muiraquitâs eram feitos para chamar chuva ou, no caso amazônico com muita água, para a fertilidade. Os antigos chineses também usavam os sapos para chamar chuva!

12muiraquitã

OS GEOGLIFOS DE MAFRA E A OCUPAÇÃO INCA NO SUL DO BRASIL

Mafra é uma cidade catarinense na divisa com o Paraná. Lá foram encontrados dois conjuntos de geoglifos com figuras incas, tais como o machado, o condor, guerreiros, etc. São provas que existiu uma estreita relação entre o leste da América com os índios do Andes. A ligação no sul do Brasil era feita por uma estrada chamada de ‘Caminho de Piabiru’, considerada a primeira via transcontinental da América.

CÍRCULOS CONCÊNTRICOS GRAVADOS NAS PEDRAS

Demonstra uma intensa movimentação oeste-leste dos povos incas. A nossa contribuição é esclarecer um mistério dos desenhos em forma de círculos que aparecem gravados nas pedras principalmente no litoral de Santa Catarina. Por comparação, esses desenhos autenticam a presença dos índios do Pacífico no leste da América do Sul.

A forma de círculos concêntricos é interpretada pelos autores do livro citado ‘Brasil Chinês’ como sendo uma representação simplificada do calendário do sol dos incas.

13O nariz seria o centro geométrico dos círculos

14

Geoglifos no deserto de Atacama e um grande geoglifo Nazca, mostrando os tais círculos concêntricos.

15

Os mesmos círculos agora na ilha de Campeche, em Santa Catarina./ Acima, os diversos tipos de círculos achados no litoral deste estado.

A explicação da profusão deste tipo de registro é a de que o sul do Brasil teve uma ocupação inca durante certo tempo.

Dois comentários

1º) Na China: Existe um relato oficial do historiador chinês Yoa Silian nos anais dos arquivos chineses , onde ele relata a viagem do monge budista Hui Shen num continente chamado Fusang que ficava a cerca de mil li a leste da China. Essa descrição aponta para uma espécie de Marco Polo às avessas, e, talvez, o verdadeiro descobridor documentado da América, considerado que as informações foram inscritas nos arquivos chineses em 499 d.C, e publicadas em 600 d.C. As descrições de Fusang coincidem que esta terra seja a América. A situação política, os motivos de uma grande expedição chinesa pelo Pacífico no século V d.C. estão no livro.

2º) No livro ‘1421 – O Ano que a China Descobriu o Mundo’, mr. Gavin Mensies descreve uma suposta viagem que o almirante Zheng He fez contornando a América. No meu ponto de vista, uma viagem de circum-navegação ao Continente não justificaria o fato da chinesação de todos os índios americanos, e ainda por cima, esta sexta viagem não consta dos arquivos chineses. Convenhamos que 1421 é muito perto da chegada dos europeus à América sem tempo para a transformação genética dos índios americanos.

 

 

 

batuque1

Do umbigo à umbigada

Por Luiz Ernesto Wanke – Na história pessoal de cada um o umbigo parece ser apenas a cicatriz no meio do ventre originada pelo corte do cordão umbilical. Mas quem ainda não descobriu uma crosta de sujeirinha dentro dele, que atire a primeira pedra! Ele serve também para limitar duas partes do corpo: a superior, mais nobre, onde ficam a cabeça e a grande maioria dos órgãos vitais do organismo humano e a inferior, principalmente com o aparelho excretor – menos romântico – e as pernas. Isto seria verdadeiro se o sexo não ficasse nesta última região, mais “lá em baixo”, como dizem. E sem sexo, convenhamos, a vida não seria a mesma.

As danças populares brasileiras muito antigas transitaram por esses ideais lúdicos e prazerosos explorando a sensualidade da região inferior do corpo humano. Da primeira metade do século dezenove, dois gêneros se destacaram, o Lundu e a Umbigada. O primeiro era a representação mais crua do ato carnal: a dançarina excitava seu companheiro dançando com volúpia. Seu corpo tremia com a música e as cadeiras indicavam o ardor do fogo que a dominava, carregado de um delírio compulsivo até cair desfalecida diante do seu par.

Já a umbigada explorava justamente o limite do permitido, fixando-se na região do umbigo, último reduto daquilo que na época seria razoável explorar. Von Martius observando os índios aculturados Purís, descreve como era:

“As mulheres remexiam os quadris fortemente, ora para frente, ora para trás e os homens davam umbigadas: incitados pela música, pulavam para fora da fila, para saudar, desse modo, os assistentes. Deram com tal violência o encontrão num de nós, que este foi obrigado a retirar-se quase sem sentidos com tal demonstração de agrado, pelo que nosso soldado se postou no lugar, para dar a réplica da umbigada, como é de praxe. Essa dança, cuja pantomima parece significar os instintos sexuais tem muita semelhança com o batuque etiópico e talvez tenha passado do negro, para os indígenas americanos.”

Mais divertido é o relato inédito de um médico francês, Raymundo Henrique de Genettes, que em 1836 viveu a triste experiência de ser forçado a se integrar a um sarau depois de um jantar a que fora convidado. Ele viajava do Rio de Janeiro até Ouro Preto e tinha se desviado da rota para conhecer as nascentes do rio Itabapuano na Serra do Brigadeiro. Depois de atravessar o rio Chopotó, a comitiva de Genette chegou num campo aberto, “onde um mulato de nome Alexandre começa uma arranhação na floresta virgem para ali estabelecer uma plantação”. Após o jantar seu hospedeiro indica-lhe para juntar-se com as mulheres (“cobertas por saias rotas, camisas sujas, com a boca cheia de caldo de fumo, enfim, nojentas” segundo des Genette) e rezar o terço (termo e costume ignorado pelo viajante). Ele relata:

“No fim de tal terço, cada um chega à mesa e beija devotamente a imunda toalha do improvisado altar. Eu os imito acompanhados do grande júbilo dos espectadores e como fiz três genuflexões, sou tido como ortodoxo o que me eleva aos olhos desta boa gente. Mas, com a oração do terço ainda não acabou a festa: agora que ela vai começar!..

Duas violas desafinadas e um machete principiam um rasgado que muito se assemelha a uma sequilha. Os três cantores entoam o seguinte canto:

No caminho do sertão

Encontrei um pica pau

Aí, minha pirima (por prima)

Encontrei um pica pau

Pica pau muito belo

Vestido de amarelo

Aí! Encontrei um pica pau…

O canto é acompanhado de batidas de mãos, pés e o final é um ligeiro contato barriga contra barriga, a umbigada. No meio da dança, uma das nojentas deste ballet novo, vem tocar seu umbigo no meu. Alexandre grita:

– Saia!

Hesito, mas não tenho escolha. Como ex-freqüentador de La Chùmiere não se perturba facilmente, saio e danço o melhor cancã possível. Tanto que sou escolhido o melhor e mais animado dançarino do Brasil. Subi muitos furos na estima de Alexandre, mas, sinceramente, com todo o prazer.

Cansado, pela madrugada vou procurar descanso lá fora junto ao fogo e deitado sobre uma madeira.”

Von Martius veio estudar a botânica do Brasil – juntamente com o zoólogo Von Spix – por mando do rei da Baviera. Viu o que pode, deu nomes a muitas plantas, anotou costumes e lendas brasileiras e foi embora. Já des Genette, depois da sua viagem pelo interior de Minas Gerais ficou por aqui mesmo. Foi médico, explorador, pesquisador, descobriu minas de ouro e diamante, exerceu funções de engenheiro, jornalista, advogado e político. O mais estranho é que quando morreu sua segunda mulher, se abateu sobre ele uma profunda depressão, com tal intensidade que aceitou ser sacerdote católico. Trabalhou com padre até o final da sua vida no planalto central de Goiás – hoje Distrito Federal – onde morreu em Goiás em 1889.

Quanto às danças populares a dois, há que se sublinhar sua natureza estritamente sensual que juntamente com a explosão de alegria contida nelas, levou a formação do nosso povo alegre e festeiro.

o_senhor_da_minha_historia_1469544388599599sk1469544388b

Uma história com dono

Quando nosso ídolo Ayrton Senna morreu, houve uma comoção nacional sem precedentes.

Como sempre, a mídia procurou achar fatos desconhecidos e pessoas próximas dele para escancarar sua vida particular e nesta procura acharam sua namoradinha, neste triste momento, uma garota então desconhecida chamada Adriana Galisteu. Então os repórteres caíram em cima da mocinha querendo descobrir segredos e desta maneira, ela foi empurrada para as páginas principais dos jornais e revistas.

Isto incomodou a família do nosso herói, que não gostou da maneira que ela expunha sua relação com o piloto e também o certamente aflorou o medo de ver exposta a intimidade do Ayrton.

Diante dos protestos, surpreendentemente, Adriana respondeu de uma maneira definitiva:

“- Eles têm seus direitos, mas eu sou a dona de minha história!”

Guardada as devidas proporções, Carlyle Poop foi buscar no sentimento de posse de uma história de ficção, a inspiração para escrever seu livro. Até o título remete-nos ao assunto: ‘O Dono de Minha História’.

Uma ideia inusitada, mas, sobretudo, original. Quem não pode dizer que recebeu uma influência marcante na sua formação? Da mãe, orientando o caminho; do pai, principalmente pelo exemplo; do professor amigão ou daquele ídolo bom em tudo que nos acompanhou na lembrança pela vida afora?

O livro

Ou na fauna que nos rodeia: um amigo, uma namorada, um personagem, enfim, qualquer pessoa cuja sombra nos abarca. No caso deste livro, é um colega de escola.

Curiosamente, com toda esta importância, Salésio – o personagem influenciador – somente baliza os limites e é a referência que sempre aparece nas lembranças do narrador. Mas persegue e incomoda o protagonista, desde seu rito de passagem, na sua formação e depois no seu trabalho.

O narrador, com pouca identidade formal, vai construindo sua imagem biográfica através das lembranças vinculadas às pessoas mais próximas.  Deliciosamente, o autor puxa para o presente, as locações, coisas, músicas e fatos de uma Curitiba bucólica, dos anos setenta em diante. Afloram as lembranças da cidade, sua casa, o colégio, professores e colegas, tudo que grudou nele e para sempre, tal como a solidificação de uma pasta visguenta.

Explosão de ideias

Nesta explosão de ideias o leitor vai queimando etapas até o final. Mas o destaque de sua formação, no ritual de passagem da juventude, fixa-se na descoberta do amor inocente pelas menininhas e vai crescendo até as descobertas sempre renovadas, das delícias do sexo.

Confesso que fiquei curioso de como o autor teve esta ideia genial. Há uns cinco anos ele contou-me que estava escrevendo um livro. Mas isto é fato comum para ele, professor doutorado em Direito e autor de livros jurídicos, sendo até membro da equipe editorial da Editora Juruá.

Mas a surpresa que balançou minha curiosidade foi que ele completou a informação esclarecendo que esse livro em gestação seria um livro de ficção. Ficção? Do doutor Carlyle?

Ler aos poucos

Para um mestre como ele, como não podia deixar de ser, é uma narrativa inteligente. Sua leitura não é linear e direta que remete a uma história simples porque o autor aborda seu personagem operando cirurgicamente e revolvendo suas entranhas. É mais ainda, é um livro para se ler aos poucos e de vez em quando parar para juntar as ideias e refletir.

Mal comparando, não é uma cerveja que se deve beber antes que esquente e sim, um bom vinho que se bica aos poucos, sabendo sua origem, erguendo-o contra a luz e fazendo o líquido dançar no fundo da taça, tanto para conferir sua fluidez como aspirar seu aroma.

Bobagem! Já tinha escrito esta comparação piegas quando me lembrei do que disse o protagonista da história e que serve para me dar um puxão de orelhas:

“Não gosto muito de vinho. Lembra-me do Salésio, (o que sabia de tudo). Todo cheio dizia ‘daqui a uns anos todo mundo vai beber vinho no Brasil. Só a ralé vai tomar cerveja.”

Para terminar, o texto pescou no passado uma gíria regional que não ouvia há mais de setenta anos, no meu longínquo tempo de piá…  Ou seja, ‘cuera’ no sentido de ‘bom’ ou de ‘craque’. Aliás, palavra que se pode associar ao livro comentado: ‘coisa de cuera!’

Parabéns ao autor, mas também à editora, pois lançar livros em nossos tempos estéreis é o verdadeiro ‘padecer no paraíso’.

Sucesso!

O doutor merece!

 

Título: O SENHOR DA MINHA HISTÓRIA

Autor: CARLYLE POOP

337 PÁGINAS

EDITORA INVERSO

NAS LIVRARIAS