Uma boa dica para se envolver nas tramas da língua portuguesa brasileira é visitar o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Imperdível apesar de não ser tão impactante e completo quanto o primeiro que foi consumido pelo fogo em 2015.
Mas é moderno, didático e interativo. Um museu muito válido para o Brasil, que possui um idioma tecido por três mundos- europeu, africano e indígena. Ao fazer a Viagem da Língua, de acordo com a recomendação no início da caminhada, fiz uma análise crítica de como nosso idioma cunhou algumas palavras que participaram de uma história de sangue, sofrimento e escravidão.
Palavras que resistiram a crueldade do escravizador. Fato é que o ministro português, de D.José I de Portugal, o Marquês de Pombal (José de Carvalho e Melo) que teve a arrogância de proibir as falas criolas(indígenas e africanas) no Brasil, no século XVIII e impor que fosse falado somente o português, sob a pena de punição para quem desobedesse a ordem, foi vencido pelo tempo e pela força do saber oral.a
O português brasileiro não nasceu apenas da herança ibérica trazida pelos colonizadores. Ele foi moldado por um passado em que povos indígenas, populações africanas e imigrantes europeus deixaram marcas profundas no léxico, na sonoridade e na identidade da língua.
Nos vários totens com computadores repletos de palavras que se aportuguesaram e que é possível pesquisa no Museu, mostram a incrível transformação das palavras na passagem do tempo. Por esses totens as pessoas podem buscar a alma das palavras, como é o caso de abajur, cuja origem é francesa – abat-jour – que significa abaixar a luz. Palavras que foram incorporadas ao dia a dia do brasileiro.
Do vocabulário Tupi presente no codidiano do português brasileiro encontramos a mandioca( tupi “mani’óka) tapioca ( tupi “tipi’óka”, que significa “coágulo” ou “grumo). No Museu da Língua Portuguesa você poderá consultar os totens no segmento “Palavras Cruzadas”.
A língua é mutante e viva e não é possível parar o processo de comunicação entre povos que se renova e se reiventa todos os dias.
Do tronco banto (África) vieram termos como: moleque, fubá, muvuca, quitanda, cafuné, caçula, dengo, quiabo.
Do iorubá e do fon: axé, orixá, acará, abará, xinxim, moqueca.
A profunda marca indígena está cunhada em nomes de ruas, cidades, comidas, entre outras. Era a Língua Geral, da base Tupi falada nos séculos XVI e XVII entre colonos, índigenas, jesuítas e até mesmo africanos.
As Línguas Geral Paulista (Tupi Austral- usada em São Paulo, parte do Paraná e Goiás, Língua Geral Amazônica (Nheengatu- usada no norte, que ainda existe até hoje), faziam parte do nosso português brasileiro até o século XVIII. Apesar de não existir uma proibição formal (fonte IA), foi uma atitude arbitrária para comunidades que tinham línguas próprias há séculos.
Todo o brasileiro que se preza deve marcar um encontro com as palavras no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo.
O visitante chega ao local e descobre que irá fazer parte de uma viagem, com um roteiro criativo e repleto de informações sobre a origem, a alma das palavras que formaram o idioma que hoje é falado no Brasil.
Nem tão majestoso e completo quanto o primeiro destruído pelo fogo, mas importante para o entendimento do que foi o desenvolvimento da língua portuguesa em território brasileiro.

