Capa do livro

Pan de limón con semillas de amapola

Já sei que o título está em espanhol, mas seria um crime traduzir-lhe se ainda não temos homólogo no Brasil desse livro.

Sim, esse título é o título de um livro, que na minha melhor tradução poderia dizer que se chama: Pão de limão com sementes de amapola. Em realidade, nem é um pão, mas sim um bolo.

Semana passada escrevi sobre a Feira do Livro que estava rolando em Madrid. Ela terminou domingo, no mesmo dia em que terminei de ler esse livro, e ele foi comprado nessa mesma feira do livro.

Achei o meu livro

Andando nos seus mais diversos stands, encontrei meu livro com um dos títulos mais inspiradores que vi: “Pan de limón con semillas de amapola”; e atrás dos muitos exemplares, a autora do romance.

Olhei, olhei e olhei, mas não me aproximei para não cair na tentação de comprar o primeiro livro que vi na feira. Corria o risco de voltar para casa com uns 10 títulos diferentes e pouco tempo pra ler.

Resisti à tentação e fui até o final dela. Vi muita coisa interessante, muitos outros autores mil vezes mais conhecidos autografando os seus livros.

Em cada stand escutava as pessoas à minha volta. Todo mundo dizia, conheci uma novela, um romance, um ensaio, uma crítica. Todos opinavam, todos indicavam. Ali estava eu, no meio de um parque, compartilhado com 1 milhão de pessoas, num país que não é o meu, falando uma língua que não é a minha, com os mesmos gostos, o mesmo prazer, o mesmo hobby: a 9000 km da minha cidade natal eu me sentia em casa.

E ali, sem ver o tempo passar, sem notar como ele voava no meio de tantas letras, eu ia me perdendo de stand em stand buscando títulos desconhecidos que me provocassem o mesmo sentimento que tive quando vi o livro da Cristina Campos.

E mesmo encantada com muitos deles, “Pan de limón con semillas de amapola” me venceu.

Voltei todo o recorrido, buscando o livro… e a escritora. E ali estava ela, com uma reportagem na mão sobre o seu livro, que contava que tinha sido o livro eleito pela Berlinale para fazer a sua versão em filme. Quando vi isso, não pude me conter: falei com Cristina e expliquei que uma das minhas melhores amigas trabalha no festival, também fala espanhol e já deveria estar lendo o seu livro.

Foi um bate papo gostoso, bem curto, mas com muita vontade de seguir fora dali. Levei o livro para casa com vontade de devorar-lhe naquela mesma tarde, mas antes tinha que terminar com o livro que andava já pela metade.

Esse livro conta a historia de duas irmãs que herdam uma padaria de uma pessoa completamente desconhecida na vida das duas. A partir daí Marina, a protagonista do romance, decide voltar da Etiopia, onde estava trabalhando como coperante em Medicos Sem Fronteiras, a Mallorca, cidade onde nasceu e cresceu. Ali, encontra a sua irmã, depois de 20 anos sem ver-la, e juntas começam a refazer a sua vida de uma forma completamente diferente ao que estavam acostumadas a fazer e os papéis de tinham que atuar.

Comecei a ler o livro numa segunda feira, carregando ele para todos os lados, e abrindo as suas páginas em todos os tempos livres que tinha. E a verdade é que não consegui deixá-lo até chegar o fim.

É um romance de uma simplicidade superior.

Cristina escreve com simplicidade; o lado singelo da vida que por vezes esquecemos de apreciar, e que é resgatada com os pequenos detalhes que incorpora nos inúmeros capítulos desse romance.

É um romance que recupera os valores da “vida pela vida” (em vez da arte pela arte), e o torna um imperativo em si mesmo. Nada de buscar razões, nem desculpas, nem motivos… a vida está aí para ser vivida, e devemos fazer de tudo que está em nossas mãos para isso, contra arrestando o inexorável passar do tempo.

É uma história apaixonante, que te entra pelos olhos e conquista cada vez mais com cada detalhe. Eu pessoalmente gostei mais do desenlace que do começo, mas o seu conjunto emana poesia e acima de tudo, muita leveza.

Eu recomendaria lê-lo nas férias, na frente do mar, sem ninguém ao redor incomodando e tentando compor o maravilhoso cenário de Mallorca. Dê tempo ao tempo para ler cada capitulo e deleite-se em ver o pôr do sol e fazer pequenas coisas que são grátis e que pouco aproveitamos ao nosso redor.

No finzinho da tarde, quando você voltar para casa, tente fazer uma das inúmeras receitas de pão que abrem cada capítulo do romance e dão sentido a história da protagonista.  Adicione sabor a suas linhas e coloque uma pitada de sal na sua vida. Recobre sentidos, e redescubra os teus cheiros, os teus sabores da infância.

Et voilà! A receita da vida está aí: você decide se coloca mais farinha, mais sal ou mais pimenta, tudo a gosto, claro. Afinal, como dizem aqui na Espanha: a vida é aquilo que acontece enquanto você faz planos.

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