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Adeus, grande mestre

 

Quando o mundo perde um escritor como o italiano Umberto Eco, perde alguém que estimula o  homem a pensar. “Quem não lê, aos 70 anos terá vivido uma só vida: a própria! Quem lê terá vivido 5000 anos: existiu quando Caim matou Abel, quando Renzo casou com Lucia, quando Leopardi admirava o infinito….. porque a leitura é uma imortalidade de trás para frente”.

O artigo publicado no site italiano Exibart reflete para seus conterrâneos o vazio deixado pelo grande mestre.

“Tinha 84 anos o professor Umberto Eco. Semiólogo, filósofo, escritor, ensaísta, Eco foi um dos pensadores mais profundos do breve século. Foram infinitos os reconhecimentos que teve na vida, a começar pela Cavalaria da Grande Cruz da República Italiana à Legião de Honra francesa.

Livre, incômodo, o autor de “Obra Aberta”, volume que havia dado uma pista definitiva também para as práticas artísticas do século XX, às vezes mostrou-se impopular, e talvez por isso decisivamente mais verdadeiro do que outros ilustres colegas.  Há poucos meses, fez uma das declarações mais famosas, dizendo que as praças públicas das redes sociais tinham dado liberdade de expressão para os imbecis.

Sua carreira começou na RAI, em 1954,com Furio Colombo e Gianni Vattimo,  foi um dos que apoiou o Grupo 63, e em 1961 – sobre a mídia e televisão – escreveu à frente de seu tempo com o incrível “Fenomenologia do Mike Bongiorno”, enquanto é de 1964 o volume  Apocalíticos e integrados.

Diretor do Instituto de Comunicação do DAMS, de Bolonha, onde criou o curso  universitário de Ciências da Comunicação. Também nos anos 70 escreve textos “Por uma guerrilha semiológica”,  “Fascismo eterno”, ambos investigaram a cultura de massa em relação ao fenômeno das ditaduras e outros fenômenos mais modernos, como o culto de ação para ação, a discordância como uma traição , o medo das diferenças, o apelo às classes médias frustradas pelo poder.

Colaborador desde a sua fundação  do L’Espresso, também La Stampa, Corriere della Sera, La Repubblica, Il Manifesto, Alfabeta, e traduziu também os exercícios de estilo de Raymond Queneau. Foi curador convidado no Louvre, para uma série de eventos culturais em 2010, em 1971, também estava entre os 757 signatários da carta aberta ao L’Espresso sobre o caso do assassinato de Giuseppe Pinelli, que esteve envolvido no Banco Agrícola da Piazza Fontana em Milão, em 1969. Umberto Eco incorporou o engajamento cívico, a consciência política; foi crítico da cultura italiana, irônico, personagem quase ficção, observador atento, jornalista sem medo de esgueirar-se. Homem livre, portanto, pronto para contestar e deixar-se criticar e debater.

Será difícil indicar agora um herdeiro, talvez impossível. Mas a imensidão da sua produção de pensamento, sua interminável escrita vai nos impor um dever significativo: de continuar estudando. Para saber como evitar essas aberrações que, durante mais de 50 anos o grande Mestre nos fez conhecer, colocando-nos em guarda. Adeus professor, você realmente nos fará falta!”(MB).

 

 

 

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