Renata 061

Fique com Deus

 

“Fique com Deus” tem a identidade brasileira. Já está patenteado na nacionalidade verde-amarelo. É cultural.

Me aponte quem nunca ouviu de um amigo, pai, mãe, vizinho, na despedida um sonoro “Fique com Deus ou Deus te acompanhe”, acompanhado de um abraço carinhoso.

Me dei conta do fato, quando entrei numa farmácia na Itália, no tempo em que estava estudando em Roma,  e conversa-vai- e-conversa- vem com a vendedora, contamos que éramos brasileiras – minha prima estava comigo.

– Ohh! exclamou a moça que nos atendia.  “Adoro os brasileiros”, disse com os olhos brilhando e em seguida disse Alessandra sorrindo “fiquê con Dio”, num italiano aportuguesado, orgulhosa por demonstrar que conhecia uma característica nossa.

Amor brasileiro

A versão com sotaque do  “Fique com Deus” era a doce lembrança de um amor brasileiro, que não vingou por causa da distância, embora tenha ficado como marca seu jeito terno de tratá-la quando se despedia dela.

Fique com Deus, ou Deus te acompanhe, vá com Deus, são expressões que fazem parte do nosso cotidiano e do nosso vocabulário brasilianês.

Uma outra amiga, bem humorada, fez a opção pelo Deus te acompanhe porque de acordo com a opinião dela, o ‘fique com Deus ou vá com Deus” dava a impressão de que alguém estava desejando uma boa estada lá no céu. Esse comentário fez quando, ao me despedir lhe desejei um “fique com Deus”.

– Nãoooo! Por favor, diga Deus te acompanhe. Não quero ir lá para cima agora, ria divertida.

Bem, é apenas uma forma de interpretar que ao me ver não influi na intenção de quem deseja o bem para nós. O fantástico disso tudo é perceber que cada povo tem uma forma de saudação ou despedida. Doce, amorosa, espiritual, seja qual for a mensagem,  representa a linguagem do inconsciente coletivo de uma comunidade.

Áustria

Há  mais de 20 anos, numa viagem em que fiz à Áustria, precisamente em Salsburgo, lembro até hoje uma saudação que me chamou atenção. Todos passavam e seriamente cumprimentavam com algo que significava como “Louvemos a Deus, ou Salve o Senhor!”. Embora não entenda o alemão, Gott, é Deus neste idioma, e exatamente esta  palavra eu percebia nitidamente no cumprimento. Perguntei em seguida o que significava para uma pessoa que falava português e entendia em alemão e confirmei que era uma saudação comum entre eles. Não sei se ainda continuam a se saudar desta forma ou se é um hábito do interior, em algumas regiões mais rurais, sei apenas que é acolhedor ser recebido por palavras espirituais numa cidade estrangeira.

Entendo também minha amiga italiana que memorizou com tanto carinho a saudação de seu amor brasileiro. Bendizer algo para nossos amigos e mesmo pessoas desconhecidas faz bem para ambos os lados. É singelo, simples e tão significativo!

Aliás, não tem nada de piegas,não!

As pessoas que saúdam  ou reverenciam um ser superior dão lição de humildade. Ser humilde não é ser pequeno e sem importância. A palavra umilità, segundo o dicionário italiano Devoto, deriva do latim,humilità, e significa uma virtude pela qual o homem reconhece seus próprios limites. Segundo o Aurélio, é uma virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza. Também, tanto o Aurélio quanto o Devoto definem outros significados,  como baixa condição social e submissão.

Da minha parte prefiro ficar com a definição de virtude. É mais poética e possivelmente a verdadeira raiz do significado latino. A outra que nos coloca para baixo, é uma deturpação da sociedade moderna… rsss…

Portanto, a expressão “fique com Deus” representa uma bela maneira de emanarmos para o nosso próximo, do fundo do nosso coração, a energia de proteção colocada nas mãos de uma força acima de nós…

sobretudo é um reconhecimento da nossa pequenez, nossa insignificância neste planeta e na condução dos acontecimentos.

  “Fique com Deus” leitor amigo que se envolveu na tramas sentimentais deste texto.

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